Atualmente, o Brasil é o país da soja, o maior produtor do grão em todo o planeta. Mas a cadeia do amendoim quer convencer agricultores de que vale a pena dar uma chance para a oleaginosa, especialmente aqueles que têm uma outra cultura principal, e fazem rotação.

O trabalho tem como uma das lideranças a CRAS Brasil, empresa que processa amendoim e que é líder brasileira na exportação do óleo, muito utilizado na China, por exemplo.

“Para aumentar a exportação de óleo, nós precisamos de mais amendoim. Estamos trabalhando para convencer produtores de cana-de-açúcar, por exemplo, a fazer rotação de cultura com o amendoim”, conta Rodrigo Chitarelli, sócio fundador e diretor presidente da CRAS Brasil.

Atualmente, cerca de 90% da produção da oleaginosa está em fazendas de São Paulo.
Mas ele afirma que já tem produtores de amendoim no Mato Grosso, onde pretende desafiar o domínio da soja.

Para isso, no entanto, o amendoim precisa da ciência. Na cultura, o ciclo entre o plantio e a colheita próximo de 140 dias, segundo Chitarelli, enquanto o da soja é de 120 dias. “Há um trabalho conjunto com a Embrapa para desenvolver a semente de uma variedade com ciclo parecido com a soja, de 120 dias”, diz.

O presidente da CRAS afirma que uma das vantagens do amendoim em relação à soja está principalmente nos efeitos para o solo. “O amendoim acaba deixando o solo mais nitrogenado. Para quem produz cana, é ótimo. Estamos conversando com alguns produtores e levando informações”, diz o executivo.

Outra vantagem da oleaginosa, segundo Chitarelli, é o período em maturação em relação à soja. “A soja tem uma maturação rápida, de 10 dias, enquanto o amendoim é mais resistente, demora 40 dias até a maturação”.

Enquanto trabalha para impulsionar a produção de amendoim e, consequentemente, a produção e as vendas de óleo de amendoim, a CRAS projeta um ano de 2024 positivo, em relação ao ano passado.

Em 2023, a empresa faturou cerca de R$ 460 milhões. “Crescemos 5% na comparação com 2022, e ficamos abaixo da nossa expectativa, que era de atingir R$ 500 milhões em receitas”, afirma Chitarelli.

Para este ano, o presidente da CRAS projeta um crescimento de 20% no faturamento, mesmo com o início de ano complicado, com o atraso no recebimento de amendoim para beneficiar.

“Estamos com uma boa diversificação de receitas, contando com a área ambiental e de sementes. Vamos também ampliar nosso parque industrial, o que vai adicionar 25% à nossa capacidade atual de esmagamento”. O investimento no projeto é de R$ 15 milhões.

Chitarelli conta que não recebeu amendoim em janeiro, e que a operação começou mesmo na segunda metade de fevereiro.

A CRAS lidera a exportação brasileira de óleo de amendoim há alguns anos. Em 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDICS), o município de Itaju, no interior de São Paulo, onde fica a fábrica da empresa,respondeu por quase 29% de todo o óleo exportado no ano passado, com 27,4 mil toneladas e mais de US$ 51 milhões em receita.

“Nós conseguimos abrir novos mercados, mas claro que a China ainda é o nosso comprador mais forte. E nós competimos com vários países, como Estados Unidos, Índia e a própria China”, diz o presidente.

Acesso difícil a crédito

Muito mais complexo que o volume de amendoim produzido no Brasil é acessar o sistema financeiro para obter crédito, segundo o presidente da CRAS.

Ele afirma ter um financiamento de R$ 45 milhões aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas ainda não conseguiu acessar os recursos.

“Eles pedem uma carta de fiança e isso acaba complicando todo o processo. Eles mesmos chegaram a anunciar na imprensa a aprovação desse financiamento, e não liberam o dinheiro. É um crédito para armazenagem, algo fundamental para a nossa atividade, e que registra um déficit grande no Brasil”, afirma Chitarelli.

Procurado, o BNDES afirma que as operações de crédito do banco “usualmente” possuem algum tipo de garantia ou mitigador de risco. “No caso da CRAS, a garantia da operação é uma fiança bancária. Nesse caso, enquanto não for apresentada uma carta de fiança bancária não poderá haver desembolso de recursos em favor da empresa”, diz o BNDES em nota ao AgFeed.

A companhia enfrenta problemas também no Banco do Brasil. Chitarelli afirma que teve uma reunião recentemente com representantes do banco para discutir as exigências para liberação de um limite de crédito. “A CRAS tem 13 anos de atuação e nunca deixou de pagar os compromissos com os bancos”.

O executivo afirma que para liberar o limite, o BB pediu uma projeção de fluxo de caixa para os próximos cinco anos. “Estou dentro de um período de colheita. Quanto tempo vai demorar essa análise?”, questiona.

O BB também foi procurado e se manifestou sobre o tema sem citar diretamente a operação da CRAS, por conta do sigilo bancário.

“O Banco do Brasil possui um modelo de análise de risco e limite de crédito que é referência no mercado. O BB conta com metodologia própria e profissionais especializados para realizar a avaliação econômico-financeira de clientes e respectiva capacidade de pagamento. Todas as informações solicitadas no processo de análise visam a sustentabilidade do crédito e a busca da melhor oferta para o cliente”, diz a instituição em nota.

Outro problema levantado por Chitarelli é a estrutura da linha mais utilizada pela empresa no BB, o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). “O problema é o prazo, porque muitas vezes eles oferecem vencimento em 180 dias, e eu tenho que aceitar. Só que o ciclo de exportação é mais longo. Se o prazo fosse mais adequado ao negócio, eu poderia tomar menos crédito, e pagar menos juros”.

O executivo afirma que, no ano passado, metade do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da CRAS foi destinado para despesas financeiras, principalmente com juros bancários.