Para a Cotrijal, a maior cooperativa agrícola gaúcha, sediada em Não-Me-Toque, a 282 quilômetros de Porto Alegre, o ano de 2024 ficou para trás. Como boa partes dos cidadãos e negócios do Estado, a empresa sofreu os efeitos de uma tragédia climática dramática, mas está pronta para se reerguer.

“Iniciamos o ano de 2024 com uma perspectiva de uma boa safra nas culturas de soja e de milho. Mas nós tivemos uma quebra de safra em virtude de doença da soja e também alguns pontos de seca”, lembra Nei César Manica, presidente da Cotrijal, ao AgFeed.

“E para complicar, tivemos a grande catástrofe que prejudicou muito a produção, principalmente na região Sul do Estado. Muitos produtores não conseguiram nem colher, outros colheram com soja já danificada”, emenda.

No segundo semestre, as culturas de trigo também sofreram. “Entre outubro e novembro, o excesso de chuva prejudicou a qualidade do trigo, e também não tivemos uma boa safra”, acrescenta Manica.

Embora evite detalhar os números por cultura, Manica revela que o faturamento da cooperativa caiu 7%, encerrando o ano em R$ 4,9 bilhões, abaixo dos R$ 5,4 bilhões registrados em 2023 e da meta de manter o faturamento na casa dos R$ 5 bilhões em 2024.

Para 2025, a perspectiva da Cotrijal é de que o faturamento volte a crescer, com uma projeção de R$ 5,5 bilhões.

“2024 foi um ano difícil, mas superamos. Agora, precisamos olhar para frente com otimismo e focar na recuperação da cadeia produtiva do Estado”, afirma.

“Enquanto o Brasil registra crescimento na produção nos últimos anos, o contexto do Rio Grande do Sul é bem diferente”, ressalta o presidente da Cotrijal.

Nos últimos anos, o Estado foi severamente impactado pelo fenômeno La Niña, que trouxe estiagens consecutivas, resultando em prejuízos aos produtores durante três safras seguidas.

Entre 2020 e 2023, o estado registrou 1.260 ocorrências de secas e estiagens, segundo dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, e em 2022, a estiagem contribuiu para uma retração de 5,1% no PIB gaúcho.

Agora, o fenômeno climático volta a preocupar os produtores, que já projetam dificuldades nesta safra 2024/2025.

“Nesse momento, já temos uma estimativa de que não vai ter uma safra normal, vamos ter problema em algumas partes do Estado. E, se demorar para chover, vai agravar ainda mais a situação”, diz o presidente da Cotrijal.

Mesmo diante dos desafios, a Cotrijal manteve seus investimentos. Em 2024, destinou R$ 150 milhões para ampliar unidades de recebimento de grãos, de sua fábrica de rações – frente importante da cooperativa, que mantém uma parceria com o grupo Alibem Alimentos, de carne suína – e de suas lojas.

Para 2025, planeja investir mais R$ 120 milhões, focada novamente na ampliação de suas estruturas.

A cooperativa está construindo uma nova unidade de armazenamento na cidade de Rio Pardo, na região central do Rio Grande do Sul, que vai começar a receber grãos entre abril e maio, segundo Mânica.

Também estão previstos investimentos para incrementar pontos de recebimento nas cidades de Vera Cruz, Pântano Grande, Encruzilhada do Sul, Lagoa Vermelha, Mato Castelhano, Pinhal da Serra e Esmeralda.

“Alguns desses investimentos já estão em andamento e vamos concluindo, outras vamos fazer ao longo do ano”, diz Manica.

Outro destaque previsto para esse ano é o início da construção de uma indústria de extração de óleo de soja, em parceria com as cooperativas Cotrisal, de Sarandi, e Cotripal, de Panambi, que havia sido antecipada pelo AgFeed em setembro passado.

A unidade, batizada de Soli3, terá capacidade para processar 3 mil toneladas de soja por dia, chegando a 1 milhão de toneladas por ano.

As cooperativas se reunirão nos próximos dias para definir a cidade onde vai ser instalada a nova indústria, com previsão de início das obras na metade de 2025 e operação em 24 meses. O projeto vai custar entre R$ 700 milhões a R$ 900 milhões às cooperativas.

“Acredito que iniciamos a obra a partir da metade do ano. O processo já está andando e agora nós vamos dar mais velocidade a esse projeto”, afirma o presidente da Cotrijal.

A Cotrijal teria capacidade de suprir sozinha a necessidade de matéria-prima exigida pela indústria, mas decidiu apostar na união de forças com outras cooperativas.

“Para crescer e fortalecer o cooperativismo, entendemos que se fizermos uma união de cooperativas, podemos desenvolver outros projetos em conjunto no futuro”, afirma Manica.

Por outro lado, o projeto da Cotrijal de erguer uma usina de etanol de trigo foi mesmo engavetado.

Em 2022, a Cotrijal anunciou que pretendia investir R$ 300 milhões para a implantação de uma estrutura industrial para a produção do biocombustível a partir das culturas de inverno em Não-Me-Toque, mas posteriormente abandonou a ideia.

“Ficou mesmo no projeto e com poucas chances de voltar a ser discutido. Provavelmente não sai porque nós vamos investir na cadeia da soja”, adianta Manica.