No começo de 2024, a goiana Comigo, sexta maior cooperativa agrícola do Brasil, queria chuvas, mas só via nuvens de incerteza pela frente.

Enfrentando queda histórica de receita, atraso no plantio da soja, preços de insumos piores e uma onda de calor extremo no fim de 2023, o presidente do Conselho de Administração da Comigo, Antonio Chavaglia, chegou a anunciar, em entrevista ao AgFeed, que a cooperativa iria congelar seus investimentos neste ano.

Apesar do prospecto negativo, Chavaglia fez uma ressalva diante de tantas dúvidas. “Ainda tem muita coisa para acontecer no ano. É preciso esperar mais alguns meses para ter mais clareza.”

E foi exatamente isso o que aconteceu. As nuvens ficaram para trás e já em abril, durante a Tecnoshow, a cooperativa anunciou um investimento de R$ 1,3 bilhão na construção de uma nova esmagadora de soja, em Palmeiras de Goiás (GO).

A estrutura terá capacidade de processar até 5 mil toneladas de soja por dia e será concluída até o fim do ano que vem.

A Comigo também anunciou na ocasião a abertura de duas novas lojas nas cidades de Paraúna, que já foi inaugurada, e Jussara, que começa a operar em junho do ano que vem, que representam um investimento de R$ 50 milhões.

“No caso específico da Comigo, a gente vem há muitos anos com um trabalho bem estruturado e só tiramos um pouco o pé do acelerador com os nossos investimentos que estavam programados. Mas já voltamos à normalidade”, afirma, agora, o presidente executivo da Comigo, Dourivan Cruvinel.

A cooperativa fecha 2024 mais otimista e com novos investimentos já programados para o ano que vem, adiantou Cruvinel ao AgFeed durante a 9ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, realizado em São Paulo na semana passada.

Já está definida, por exemplo, a construção de dois novos armazéns no ano que vem, nas cidades goianas de Santa Fé de Goiás e Caçu – nessa última a cooperativa já possui uma loja.

A Comigo já adquiriu as terras onde as estruturas vão ser erguidas, num investimento que deve ser de cerca de R$ 100 milhões, somando as duas novas construções.

Como ainda não há nenhum armazém nas propriedades adquiridas, ele explica que o custo deve ser mais alto em relação a estruturas já existentes.

"Se você for construir o armazém onde você já existe uma estrutura, o custo cai para R$ 30 milhões, porque você não vai precisar de escritório, de balança, de casa, de gerente. Agora, se for começar do zero, é bem puxado", explica Cruvinel.

Em janeiro deste ano, a Comigo inaugurou um armazém em Mineiro (GO), com capacidade estática de 3,3 milhões de sacas de soja e milho, empreendimento que custou R$ 150 milhões aos cofres da cooperativa.

Como a estrutura de Mineiro já é mais robusta, Cruvinel acredita que os novos armazéns de Santa Fé e Caçu terão uma capacidade menor.

“O certo agora é fazer armazém de um milhão ou um milhão e meio de sacas, mais ou menos”, afirma o presidente executivo da Comigo.

Ao todo, a Comigo contabilizava 19 unidades de armazenamento no seu balanço de 2023, com presença nas cidades de Acreúna, Caiapônia, Indiara, Iporá, Jataí, Montes Claros de Goiás, Montividiu, Mineiros, Paraúna, Rio Verde, Santa Helena e Serranópolis.

O investimento em novos armazéns chama a atenção pelo fato de a cooperativa continuar interessada em aportar recursos em mais estruturas de armazenagem de grãos – mesmo com uma nova esmagadora de soja.

“O nosso problema era que recebíamos 55 milhões de sacas e esmagavámos 27 milhões de sacas. O resto vendíamos e, então, precisava ter armazém para guardar, para exportar”, afirma Cruvinel.

“Com a fábrica de Palmeiras de Goiás, nós vamos esmagar praticamente toda a soja. Então, não precisa ter muita armazenagem fora”, emenda.

Ainda assim, a Comigo quer investir em novos armazéns que, inclusive, ficam distantes de Rio Verde, cidade-sede da cooperativa e um dos principais pólos do agronegócio no Brasil.

Santa Fé, mais próxima de Mato Grosso, está a 292 quilômetros de distância, enquanto que Caçu fica a 110 quilômetros, já perto da divisa com o Mato Grosso do Sul.

“A gente vai atrás do cooperado. Áreas em cidades como Rio Verde, Montividiu e Jataí já estão muito valorizadas e não tem para onde expandir mais. O arrendatário está indo para novas fronteiras, ele vai e a Comigo vai atrás para dar assistência a ele", explica Cruvinel.

Faturamento e safra

Nos últimos anos, o faturamento da Comigo, um gigante do cooperativismo brasileiro, com 11,4 mil associados e presença em 17 municípios goianos, têm subido de rampa, apoiada pelos bons resultados das supersafras brasileiras de grãos.

Há cinco anos, em 2019, a cooperativa arrecadou R$ 4,5 bilhões, volume que cresceu para R$ 6,9 bilhões em 2020, avançou novamente a R$ 10,3 bilhões em 2021, até alcançar a marca recorde de R$ 15,6 bilhões em 2022.

No ano passado, com a queda dos preços da soja, o faturamento recuou, atingindo R$ 13 bilhões, uma queda de 16,72% em relação ao ano anterior.

Cruvinel estima que a receita de 2024 siga estável. “Em quantidade, nós estamos fazendo mais, mas a commodity caiu muito e aí o faturamento caiu. Por isso, neste ano, o faturamento deve ser os mesmos R$ 13 bilhões, não deve mudar muita coisa.”

As perspectivas para a safra 2024/2025 são boas, no entanto. “A chuva atrasou o plantio uns 10 dias, mas agora está normal, todo mundo está plantando, acho que vai ser uma boa safra”, afirma Cruvinel.

A Comigo espera receber nesta temporada em torno de 65 milhões de sacas de soja e 25 milhões de sacas de milho, volumes mais altos em relação aos obtidos no ano passado, quando foram recebidas 55 milhões de sacas de soja e 20 milhões de sacas de milho.