Controlada pela chinesa ChemChina, a Syngenta já tem, há anos, a abertura de capital no seu radar. Uma das maiores empresas globais do mercado de insumos agrícolas, a companhia já ensaiou esse movimento algumas vezes desde a primeira discussão sobre o tema, em 2021.

No final da semana passada, o projeto foi mais uma vez adiado. Em comunicado, A Syngenta informou que desistiu de abrir capital na Bolsa de Valores de Xangai, em um IPO das operações chinesas que era avaliado em cerca de US$ 60 bilhões. A justificativa, mais uma vez, foi a mesma: condições desfavoráveis de mercado.

O documento foi protocolado quase em simultâneo à divulgação do balanço global da empresa. As “condições desfavoráveis” estavam lá, dando o tom dos resultados, que seguiu a lógica do mercado e o mesmo sentido dos concorrentes.

No ano passado, a Syngenta vendeu US$ 32,2 bilhões em produtos. O número mostra uma pequena retração de 4% frente o ano de 2022. Segundo a empresa, o resultado foi impactado por “uma contínua redução de estoques em toda a indústria”.

A empresa registrou o que era esperado: por conta das margens apertadas globalmente entre os produtores, reflexo de uma queda no preço dos grãos no mercado internacional, distribuidores e varejistas têm reduzido seus estoques acumulados dos anos anteriores.

Outro fator que pesa nesse movimento, de acordo com a Syngenta, são as taxas elevadas de juros ao redor do mundo, que pressionam uma redução no capital de giro dessas empresas.

Com menos vendas, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa referente a 2023 fechou em US$ 4,6 bilhões, 18% menor que o visto em 2022.

As vendas no segmento de Crop Protection em 2023 recuaram 5% frente 2022 e somaram US$ 15,5 bilhões ao resultado.

“A contração resultante na procura levou a reduções globais de volume e preços, particularmente na América Latina. Esses fatores pesaram na comparação com 2022, quando o Grupo Syngenta obteve recorde de vendas e lucros”, pontuou a empresa em comunicado oficial.

Além do recuo na América Latina, as vendas na Europa, África e Médio Oriente diminuíram 1%. Na região Ásia-Pacífico, que exclui as vendas na China, recuaram 5% na comparação anual. Na contrapartida, a receita da América do Norte cresceu 2%.

Como pontos positivos, a empresa destacou que seus inseticidas com a tecnologia Plinazolin tiveram “vendas aceleradas na Ásia e na América Latina, incluindo Índia, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Brasil”.

Já a receita advinda da venda de produtos biológicos cresceu 11% na comparação anual, batendo os US$ 400 milhões.

Também mercado de sementes cresceu 2% em 2023 e atingiu US$ 4,8 bilhões. Na avaliação da empresa, esse segmento “continuou forte e resiliente mesmo com os preços mais baixos das matérias-primas no final de 2023”.

Nas sementes, entretanto, o único mercado que mostrou retração foi o latino-americano, que teve vendas 20% menores que em 2022. A Syngenta cita, novamente, que o Brasil passou por um “ajuste único de estoque”.

Já a operação chinesa da empresa (Syngenta Group China) foi um alento para as vendas. Por lá, elas avançaram 11% na comparação anual, e bateram os US$ 9,6 bilhões.

Um dos desafios para o novo exercício, de acordo com a companhia, será suprir a falta dos recursos que a empresa captaria ao abrir o capital. Nesse sentido, a Syngenta declarou que buscará, ao longo de 2023, “formas alternativas de financiamento para seu negócio”.

Assim, embora cancelado por agora, a conversa sobre o IPO pode voltar. Segundo a Syngenta, a opção de reiniciar o processo de listagem está na mesa, “seja na China ou numa bolsa global diferente, quando as condições forem adequadas”.