A fusão entre Sadia e Perdigão, antes concorrentes ferrenhas, completa 13 anos em julho. Após a operação, as duas passaram a ser marcas pertencentes a uma gigante que foi batizada como Brasil Foods, que hoje é conhecida como BRF.
As marcas continuam suas histórias, que se aproximam de ser centenárias. Em 2024, a Sadia completa 80 anos, e a Perdigão completa 90 anos.
E se anos mais recentes foram desafiadores para a BRF, 2024 começou com a empresa respondendo por mais de 80% do Ebitda da sua controladora Marfrig. Uma das estratégias para chegar a essa lucratividade é o foco maior em processados, produtos de maior valor agregado e que se traduzem em maiores margens nas contas finais da empresa.
Parte importante desse processo é o BRF Innovation Center (BIC), um grande laboratório de novidades montado em 2013 na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, junto a um dos centros de distribuição da companhia.
Com 14 mil metros quadrados dedicados só a Pesquisa e Desenvolvimento, o BIC tem quase R$ 60 milhões investidos e um trabalho intenso para testar as ideias que chegam até lá.
“Nós fazemos cerca de 200 testes por mês. Conseguimos testar vários tipos de produtos ao mesmo tempo, desde que não necessitem do mesmo equipamento”, explica Fábio Bagnara, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da BRF.
Marcel Sacco, Vice-Presidente de Marketing e Novos Negócios da companhia, afirma que o processo para lançamento de uma nova linha ou de um novo produto é longo – e pode ser ainda mais longo caso seja uma novidade também para a BRF.
“No caso de uma linha nova de um produto que já produzimos, como um novo sabor de nuggets, o processo todo leva entre quatro e seis meses. Mas para lançar um produto totalmente novo, pode levar mais de dois anos”, afirma.
Ele explica que essa diferença acontece por conta da estrutura das fábricas, principalmente. “Para uma linha nova, nós já temos a linha de produção, é só fazer ajustes bem específicos. Mas quando lançamos um produto que ainda não tínhamos, é preciso adaptar as fábricas”.
E o processo começa ainda na criação das aves e dos suínos que vão fornecer a proteína. “No caso dos suínos, desenvolvemos inclusive a linha genética dos animais. No caso das aves, nós atuamos a partir das bisavós das aves que vão para abate”, explica Bagnara.
O executivo deu o exemplo dos presuntos. “Nós acabamos de lançar uma linha de presunto feito só com filet mignon suíno. Tem uma formulação de ração específica para esse tipo de produto, uma raça que é melhor que a outra”.
A BRF tem mais de 10 mil criadores integrados, ou seja, produtores que abrigam os animais com todas as especificações e a alimentação determinada e cedidas pela companhia. A companhia tem inclusive granjas experimentais, para testar rações e condições de criação.
Em outra vertente, a BRF tem uma forte atuação com hubs de integração com startups. “Há dois meses nos estabelecemos no Cubo, do Itaú e acabamos de finalizar uma rodada para escolher startups que vão trabalhar conosco. E dessa vez, só ficaram estrangeiras para a rodada final. É um trabalho global”, conta Marcel Sacco.
Sem lupa, sem conservantes
Ao convidar jornalistas para visitar o Centro de Inovação, a BRF quis também mostrar o processo de fabricação de seus processados. Luciana Bulau, gerente de Marketing da Sadia, ressaltou diversas vezes que muitos mitos são criados sobre a indústria.
“Cerca de 60% do nosso portfólio não tem a lupa de alerta de sódio e gordura nas embalagens. E a tecnologia que usamos no congelamento tira a necessidade de conservantes”, afirma.
A demonstração da produção feita no BIC foi manual, inclusive por conta da localização do centro de inovação.
“Nós resolvemos instalar o centro de inovação fora das unidades fabris, para não atrapalhar a produção. Nós recebemos as amostras, fazemos todos os testes aqui e depois as fábricas começam a produzir dentro dos padrões que estabelecemos”, conta Bagnara.
A BRF tem uma equipe dedicada a fazer estes testes, inclusive com consumidores que se encaixam no perfil do público-alvo de cada item.
Para Marcel Sacco, a empresa tem o desafio de produzir um volume muito grande de alimentos para o mundo, sem perder o caráter inovador. “São 5 milhões de toneladas de alimentos por ano. Metade disso fica no Brasil, metade é exportada”.