No charmoso Sul do estado de Minas Gerais, ou “Sul de Minas”, como é popularmente conhecida a região, a SRX, uma holding focada no agro com atuação diversificada - desde revenda de insumos, nutrição animal, armazenagem e logística - quer entrar em 2026 com o pé direito.

O grupo investirá R$ 25 milhões para ampliar sua presença na região, revelou o fundador da holding, José Loschi, ao AgFeed.

O pacote reúne três frentes: a aquisição de um novo parque fabril para ração animal em Poços de Caldas (MG), a compra de um silo cerealista na mesma região e a incorporação de uma transportadora de grãos à operação. A principal beneficiada do pacote é a maior empresa do grupo, a Master Nutrição Animal.

O pacote fará a capacidade industrial da companhia dobrar, passando para uma produção de 8 toneladas de ração por hora, ou cerca de 4 mil toneladas por mês.

A expansão ocorre num momento de aceleração financeira da operação: o faturamento da Master saltou de R$ 12 milhões em 2023 para R$ 16 milhões em 2024 e com projeção de encerrar 2025 com uma receita de R$ 50 milhões. Para 2026, a meta é alcançar R$ 100 milhões em receita, impulsionada justamente pelo ganho de escala industrial e pela maior eficiência logística.

A segunda frente do investimento é a aquisição de um silo cerealista em Poços de Caldas, em uma área de 80 mil metros quadrados, com capacidade estática para 200 mil sacas e fundação preparada para dobrar esse volume no futuro. O ativo foi comprado por R$ 7,7 milhões.

De acordo com Loschi, o investimento tem como objetivo reduzir o custo da mercadoria vendida. “Com armazenagem diminuímos a oscilação do preço, podemos travar a commodity num preço bom de mercado, e isso pode ser passado para os produtores e agricultores da região”, disse.

Com a operação logística, a SRX ainda elimina custos de frete com terceiros. O silo também marca a criação da Master Cereais, uma nova empresa do grupo, que passa a oferecer aos produtores da região uma alternativa local de armazenagem, algo que, segundo o fundador da holding, é um gargalo histórico no entorno.

José Ricardo Loschi, fundador da SRX Holdings, é um ex-superintendente do Banco Mercantil de Investimentos, onde entrou como estagiário e construiu carreira na área financeira antes de empreender.

Em 2019, decidiu deixar o mercado bancário para criar a primeira empresa do grupo, a Master Agro, uma revenda de insumos agrícolas fundada em 2019 em Botelhos (MG).

A SRX Holdings foi formalmente criada no ano seguinte, segundo ele, para atender a região do Sul de Minas. A leitura de Loschi era clara: de um lado, grandes bancos, tradings e multinacionais tendem a olhar para produtores maiores e empresas altamente auditadas.

Ao mesmo tempo, sua região, responsável por cerca de 26% da bacia leiteira do País, era formada majoritariamente por micro e pequenos produtores. A estratégia inicial passou pela revenda de insumos, mas rapidamente avançou para outros elos da cadeia.

“Todo produtor precisa de insumos para plantar, mas também precisa colher e armazenar. A armazenagem é onde muitos acabam ficando reféns”, explicou o executivo, ao relembrar a decisão de investir no primeiro silo cerealista do grupo, em São Roque de Minas.

O ativo entrou em operação em 2022, rodou duas safras completas e foi vendido em 2025 por cerca de cinco vezes o valor investido, no primeiro exit relevante da holding. A operação reforçou a tese de que ativos agroindustriais regionais, quando bem geridos, podem gerar forte valorização.

Esse capital ajudou a companhia a crescer a operação e, na sequência a SRX adquiriu a Master Nutrição Animal por R$ 10 milhões. “Hoje a empresa foi avaliada por uma big four em cerca de R$ 75 milhões em equity value”, contou Loschi.

No consolidado, o grupo SRX deve encerrar 2025 com faturamento próximo de R$ 120 milhões, segundo Loschi. A meta é crescer em 2026 e atingir R$ 200 milhões. Hoje, 85% do que a empresa investe vem do próprio caixa e o restante, de bancos, mas a meta é diversificar no ano que vem.

“Já enxergamos que os bancos ficarão pequenos para nós e já começamos a vislumbrar colocar um pé na Faria Lima e constituir um FIDC para alavancar. Esse é um planejamento que deve iniciar no segundo trimestre do ano que vem”, disse.

O executivo citou que ainda é cedo para avaliar o tamanho do fundo, mas que deve envolver os fornecedores em cotas subordinadas, enquanto a SRX e outros investidores em cotas seniores e mezanino. Além do crescimento de receita, a holding tem avançado em rentabilidade.

A margem operacional saiu de cerca de 12% em 2024 para 33% em 2025, enquanto a margem líquida avançou de 4% para 17,5% no mesmo período, segundo Loschi.

O executivo atribui esse salto à adoção de práticas de governança, controle financeiro e gestão típicas de empresas industriais, ainda pouco difundidas em parte do agro regional.

Hoje, o ecossistema da SRX inclui, além da Master Nutrição e da Master Cereais, a Master Agro (revenda de insumos), a MasterLog (logística), uma securitizadora voltada à antecipação de recebíveis, uma empresa de locação de máquinas e pulverização com drones, além de uma estrutura de family office, que administra a fortuna do próprio Loschi.

O grupo também atua com operações de barter, modelo que ganhou tração junto aos produtores por permitir a troca de insumos por sacas de grãos, reduzindo a dependência de desembolso financeiro direto.

A base de fornecimento de grãos é majoritariamente local, enquanto os macro e micronutrientes utilizados na formulação das rações são adquiridos de multinacionais e grandes players do setor, como Cargill, LDC e MCassab - além de players regionais como a também mineira JPA Agro.

A operação atende hoje produtores do extremo Sul de Minas até a região da Serra da Canastra, além de regiões do interior de São Paulo.

Hoje, a Master Nutrição Animal também exporta para países como Angola, Guiana Francesa e França. Para 2026, a ambição é ampliar a presença para toda a região Sudeste.

Além das empresas, Loschi atua como produtor rural em cerca de 1,8 mil hectares distribuídos entre o Sul de Minas. Nessas fazendas, cultiva soja e milho. “Nós somos produtores. Sentimos a dor na ponta. Isso muda completamente a forma de pensar crédito, logística e preço”, afirmou.

Resumo

  • A SRX vai investir R$ 25 milhões na aquisição de uma fábrica de ração, um silo cerealista e uma transportadora, com foco em escala, redução de custos e controle logístico no Sul de Minas.
  • A Master Nutrição Animal, principal empresa do grupo, deve dobrar a capacidade para 8 toneladas/hora e mira sair de R$ 50 milhões em receita em 2025 para R$ 100 milhões em 2026
  • Com faturamento consolidado de R$ 120 milhões em 2025 e margens em forte alta, a holding já estuda criar um FIDC em 2026 para diversificar funding além dos bancos.

Fábrica da Master Nutrição Animal em Poços de Caldas (MG)