O Miolo Wine Group anunciou, há poucos dias, a compra da Bodega Renacer, tradicional vinícola boutique de Mendoza, em Perdriel, aos pés da Cordilheira dos Andes, na Argentina. O valor da transação não foi divulgado.
Primeira aquisição da Miolo fora do Brasil, a Renacer não faz parte, no entanto, de um plano mais ambicioso de expansão da empresa para o Sul do Continente, de acordo com o diretor-superintendente, enólogo Adriano Miolo.
“No momento, não existem outros empreendimentos no nosso radar. Agora, nosso foco é nas nossas cinco unidades”, esclarece o dirigente. Exportando seus vinhos para mais de 30 países, a Miolo já é “internacional” há três décadas.
Foi a uva Malbec que levou a Miolo a transpor o Rio Uruguai e chegar à Argentina. Ao elaborar o Miolo Reserva Malbec, com uvas da Campanha Central do Rio Grande do Sul, cultivadas em Santana do Livramento, a empresa detectou a grande aceitação dos brasileiros por esta variedade, o que levou o enólogo Adriano Miolo a “explorar” terras argentinas em busca de parcerias.
Mendoza, onde estudou e morou por sete anos, é praticamente uma segunda pátria para Adriano Miolo. E, como a uva Malbec é emblemática daquela região, ele não perdeu tempo: logo que descobriu que a Bodega Renacer estava à venda, decidiu-se pela compra.
“Como ambas comungam dos mesmos propósitos de elaborar vinhos de excelência, respeitando cada terroir, o negócio avançou”. Para Adriano, a aquisição da bodega argentina é uma espécie de “volta às origens”.
Mendoza tornou-se o quinto terroir da Miolo. A vinícola gaúcha, que nasceu no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, há 35 anos, avançou pelo Brasil nestas três décadas e meia, desbravando novos terroirs.
Da Serra Gaúcha, o grupo expandiu suas fronteiras para a Campanha Meridional, com a Vinícola Seival, em Candiota (RS), em 2000; o Vale do São Francisco, com a Vinícola Terranova, em Casa Nova (BA), em 2001; e a Campanha Central, com a Vinícola Almadén, em Santana do Livramento (RS), em 2009.
Com sua sede localizada na primeira Denominação de Origem do Brasil, agora a empresa chega a Luján de Cuyo, igualmente a região da primeira Denominação de Origem da Argentina.
Situada a 20 quilômetros de Mendoza, a Bodega Renacer possui 30 hectares de vinhedos – alguns com mais de 70 anos. Fundada pelo chileno Patricio Reich, desde 2021 a vinícola possui Certificação de Vinha Biológica.
Hoje, a Renacer está presente em mais de 40 países, e seus rótulos se enquadram nas categorias super e ultra premium, de acordo com a direção da Miolo. São vinhos varietais e de cortes, que utilizam castas emblemáticas como a Malbec, além de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, e as brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc, entre outras.
Em seu portfolio, a Renacer ostenta ainda a premiação pela prestigiada Revista Wine Spectator, entre os 100 melhores vinhos do mundo.
A linha de produtos e o staff da Renacer deverão ser mantidos sem maiores alterações, esclarece Adriano Miolo, mas nada impede que, em suas pesquisas no terroir, a bodega avance com novos lançamentos. É dado como certo que haverá intercâmbio de produtos entre a Renacer e as vinícolas do MWG no Brasil: vem Malbec, vai espumante.
“Os vinhos da Renacer já estão presentes no Brasil e a Miolo dará continuidade a este processo. Certamente, na Renacer, os espumantes brasileiros assinados pela Miolo ganharão destaque”, acrescenta o diretor-superintendente.
Em qual nicho de mercado devem se situar os vinhos da Renacer comercializados pela Miolo no Brasil? Adriano Miolo acredita que “entre apreciadores de vinhos que buscam experiências enogastronômicas e enoturísticas únicas, exclusivas. Entre pessoas que buscam conhecer novas variedades e estilos de vinhos e espumantes.”
Atualmente, o enoturismo é indissociável da produção de vinhos - e importante fonte de receita das vinícolas. A Miolo tem grande expertise em enoturismo em seus quatro terroirs brasileiros. Parte desta experiência certamente será incorporada à nova aquisição - que também possui algumas atrações neste quesito.
“A Renacer é uma vinícola boutique com força no enoturismo", diz Miolo. Oferece desde degustações tradicionais, passando por experiência com a dupla consagrada da Argentina, o vinho e o tango, além de piquenique nos vinhedos, passeios ciclísticos e, especialmente, almoços e jantares harmonizados no restaurante da vinícola. O restaurante tem indicação Michelin.
Em um comunicado dirigido a seus colaboradores, sócios e amigos, os antigos proprietários da Renacer, Patricio Sr, Susana, Patricio Jr, Cristian e Lia dizem: "Hoje não encerramos um capítulo. Pelo contrário, abrimos um novo cheio de possibilidades. Confiamos plenamente que a família Miolo, com a sua vasta experiência, liderança, posicionamento e visão inovadora, levará a Renacer a novos patamares, respeitando sempre a essência e os valores que definiram a nossa adega desde a sua criação. Estamos convencidos de que este novo capítulo com a família Miolo trará consigo oportunidades de crescimento e consolidação que fortalecerão ainda mais o nosso legado no mundo do vinho".