Ao longo de décadas os gaúchos migraram para a região do Cerrado e ajudaram a construir potências agrícolas como o estado de Mato Grosso e outros tantos polos produtores do Brasil.

A produção não parou de crescer, mas o problema agora é ter pessoas capacitadas para um agro cada vez mais tecnológico e eficiente. A falta de mão de obra qualificada é queixa comum entre as grandes empresas do setor.

É neste cenário que – novamente - um grupo de gaúchos enxergou uma oportunidade: criar um novo modelo educacional, mais moderno, que possa atender as demandas do setor.

"Nosso projeto é a criação de um ecossistema de educação e inovação para o agronegócio brasileiro", afirmou Eduardo Capellari, CEO da Atitus Educação, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

A Atitus foi criada em 2004, na região de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, por um grupo de estudantes de mestrado decididos a empreender na área da educação.

Ao longo do tempo, foram criadas as escolas de ciências sociais (Direito), saúde, negócios, politécnica e agronegócio (medicina veterinária e agronomia), todas no modelo presencial.

Cappellari conta que, desde o começo, os sócios estabeleceram dois eixos principais para a empresa. O primeiro foi oferecer o ensino superior "em um ambiente de profissionalização da gestão, o que não é tão comum no setor".

Ele destaca que, desde 2012, a Atitus se submete a auditorias periódicas, por exemplo, feitas pela KPMG, para manter as melhores práticas. Além disso, começaram a preparar a empresa para que se transformasse em universidade.

"Está faltando apenas a criação de mais um doutorado junto a Capes, o que esperamos para este ano ainda, por isso acreditamos que no início do próximo ano já será possível apresentar formalmente o pedido ao Ministério da Educação para que a Atitus seja denominada universidade", prevê o executivo.

Capellari destaca ainda que, nos últimos cinco anos, o grupo adotou uma visão de universidade empreendedora, baseada no conceito de "Employer University", quer dizer, com foco absoluto na empregabilidade dos alunos e na formação de profissionais empreendedores.

Hub de inovação

O passo mais ousado do grupo começa a ser dado no próximo mês de novembro, quando será inaugurado um novo campus voltado ao agronegócio, em Passo Fundo, inspirado no modelo Smart Farm (Fazenda Inteligente) e com metodologia voltada ao mercado de trabalho e empreendedorismo

A escola será a primeira entre as 5 já existentes a ter o novo modelo que conecta a o ensino, a pesquisa, a inovação e as empresas – que vem sendo chamado de ecossistema.

Trata-se de uma área de 40 hectares às margens da BR-324, a 6 quilômetros do centro de Passo Fundo. O primeiro eixo é o Learning Center, a parte de ensino.

"Mas junto desta estrutura educacional estarão as áreas experimentais, com pesquisas em campo, que buscarão resolver os problemas das empresas”, explica o CEO.

Outro eixo fundamental é o Hub de Inovação, que está sendo costurado com parceiros externos. Capellari diz que os acordos serão fechados até setembro, mas que “um parceiro de São Paulo estará no projeto”.

A Atitus vai promover nesta quarta-feira, 30 de agosto, na Expointer, tradicional feira agropecuária que ocorre na cidade gaúcha de Esteio, um evento para discutir sustentabilidade, inovação e qualificação no agronegócio, aproveitando para anunciar formalmente o projeto do novo campus.

Entre os painelistas estão o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra, que fará parte do Conselho Consultivo do novo projeto da empresa, além de José Tomé, CEO da Agtech Garage.

A quarta etapa do projeto é um polo tecnológico. Empresas vão se instalar no entorno do novo campus, para reforçar a conexão com as demandas reais do setor. Um dos diferenciais do projeto é justamente o fato de prever que executivos, empresas e empresários participem da elaboração das disciplinas e estejam presentes na sala de aula.

A decisão de adotar este novo modelo, segundo Eduardo Capellari, é a crença de que "as universidades tradicionais não sobreviverão às mudanças que estão acontecendo no mundo".

Ele explica que o modelo baseado somente nas mensalidades não vem se sustentando porque, muitas vezes, o aluno investe muito e depois não consegue emprego, o que vai desvalorizando as instituições.

"Você precisa casar a grade curricular com aquilo que o mercado está contratando e trazer as empresas para dentro, gerando outras fontes de receita", afirma.

Projeções futuras

A Atitus Educação vem crescendo cerca de 15% ao ano e deve faturar R$ 140 milhões em 2023, segundo CEO.

“A meta é ter uma receita seis vezes maior até 2027 e o agro, isoladamente, tem potencial para chegar em R$ 150 milhões”, destacou Capellari.

Atualmente, são 6 mil alunos presenciais em 2 campus, um em Porto Alegre e outro em Passo Fundo. Deste total, cerca de 500 alunos estão na atual escola de agronegócios.

"O número de matrículas no ensino presencial vem diminuindo no Brasil, na última década, mas a Atitus cresceu 60% em alunos presenciais nos últimos cinco anos”, disse.

Com a nova proposta, a expectativa é dobrar o número de alunos presenciais, mas também agregar novos cursos e clientes nos projetos que envolvam plataformas digitais, com parceiros.

Como faltam profissionais de educação nas regiões agrícolas, como os estados do Centro-Oeste e no Oeste da Bahia, é possível que uma nova geração de produtores rurais faça uma "migração inversa", voltando às origens do Rio Grande do Sul, com foco nesta capacitação.

Capellari admite que a tendência é estabelecer parcerias com outros hubs de inovação pelo País para expandir a presença geográfica, com soluções digitais.

O investimento total que o grupo vem fazendo até 2027 é de R$ 100 milhões, a partir da própria geração de caixa. A empresa não revela qual fatia está sendo destinada ao projeto do Campus Agronegócio.

O CEO da empresa afirma que, por enquanto, não pretende fazer captações de recursos. “Isso só seria necessário se decidíssemos fazer aquisições, mas precisamos aguardar por um cenário mais claro político e econômico no Brasil”.

Ele reforça que o plano é ser o maior hub de educação da região Sul até 2027. "Estamos preparados para receber um parceiro estratégico, um investidor para o crescimento, mas ainda não é o momento", diz.

No início do ano a Atitus comprou o chamado Cenex – Centro de Excelência Empresarial – voltado à formação de executivos das empresas Randon, Marcopolo e SLC Agrícola. O valor do negócio não foi divulgado, mas "foi algo pontual”, disse Capellari.