Encantado (RS) - Enquanto os prejuízos causados pela tragédia no Rio Grande do Sul seguem sendo contabilizados, empresas e produtores mostram resiliência e buscam, dentro do possível, retomar as atividades.
Uma das primeiras agroindústrias a suspender a operação no Vale do Taquari, por ter as unidades produtivas alagadas, foi a Dália Alimentos, cooperativa com sede no município de Encantado, que também tem produção em Arroio do Meio.
A cooperativa já havia sido afetada pelas duas primeiras enchentes de 2023. Segundo o presidente do Conselho Administrativo da Dália, Gilberto Piccinini, após o desastre do ano passado, foram realizadas adequações nas plantas industriais, o que, de certa forma, foi positivo, agora que a cooperativa voltou a ser atingida.
O auge dos alagamentos na região foi no dia 1º de maio, quando as três unidades da Dália tiveram que paralisar as operações. Mesmo áreas que não foram alagadas ficaram sem luz, mas a principal dificuldade foi os estragos da enchente nas áreas residenciais, com mortes e famílias ilhadas, muitas delas de funcionários de empresas como a Dália
Piccinini relatou que, mesmo sem energia elétrica, algumas plantas, como a Fabri, em Encantado, seguiram fabricando rações, por exemplo. Em Arroio do Meio, também está paralisada a produção de seus produtos derivados do frango e do leite.
Carlos Alberto Freitas, presidente executivo da cooperativa, disse ao AgFeed que, antes das enchentes, eram abatidos em média 2,2 mil suínos por dia no frigorífico, que segue paralisado há 15 dias. “Esperamos retomar os abates na próxima segunda-feira, em Encantado, mas aos poucos”, afirmou.
“O maior problema que nós estamos enfrentando nesse momento é a dificuldade de logística. Com os deslizamentos, estradas importantes ficaram obstruídas”, disse Piccinini.
Segundo ele, ainda é necessário fazer o trabalho de limpeza e liberação das estradas. Além disso, a região segue com dificuldades de comunicação via internet. O fluxo de caminhões para entregar a ração está prejudicado.
“Em algumas regiões os associados estão sendo atendidos através da parceria com outras empresas que têm suas plantas industriais possíveis de operar. Então há um trabalho muito forte de ajuda mútua nesse sentido”, ressaltou.
O diretor da Dália se diz muito agradecido a empresas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até do Paraná, que estão oferecendo essa ajuda. Uma das estratégias tem sido vender os animais vivos nos locais de acesso aos outros estados.
Muitos funcionários participam do trabalho de recuperação. “É uma equipe reduzida ainda, porque muitos foram fortemente atingidos em suas casas, mas o grupo de gerentes, de supervisores, os funcionários que estão podendo estar atuando no trabalho de recuperação, de limpeza, enfim, estão fazendo o seu melhor. Nós queremos reconhecer muito esse esforço".
Ele completa dizendo que só assim será possível "retomar a normalidade das operações nas indústrias, tanto em lacticínios, como no frigorífico de frangos e abates de suínos”.
Enquanto não é possível reiniciar a operação no frigorífico, a venda de animais vivos segue sendo uma saída em função do tempo (idade) de abate e da necessidade de abrir espaço nas granjas.
“Lideranças políticas e empresariais estão apoiando uns aos outros, porque afetou todo o estado. Muitos tiveram suas indústrias e casas invadidas, perda de patrimônio, mas também tivemos perda de vidas preciosas, famílias inteiras que se perderam com os deslizamentos”. Ele diz que seguem sem contato com muitos associados, que ainda estariam sem internet e sem energia elétrica.
Enquanto isso, a Dália recebeu pelo menos uma boa notícia. “Foi a nossa habilitação para a exportação para as Filipinas, que hoje é um dos países que mais importa carne suína. Também fomos habilitados para exportar frangos. Mas a exportação de carne suína, o volume é muito grande, então vem em boa hora essa notícia, porque tão logo estamos retomando as operações, estaremos com certeza participando desse mercado importante junto com as dezenas de países que já exportamos. Sejamos destemidos”, finaliza Gilberto Piccinini.