“Em toda turbulência acontece uma reacomodação de forças”, afirma o engenheiro químico Rafael Villarroel ao AgFeed.
Há apenas três meses como diretor de Operações da Agrex do Brasil, ele observa de perto o quadro de incertezas e de reorganização no segmento de distribuição de insumos agrícolas. E tem R$ 700 milhões para ser uma das forças nessa reacomodação.
A Agrex é o braço de agronegócios da megacorporação japonesa Mitsubishi Corporation. No Brasil, tem operações no varejo de insumo, com as bandeiras Agrex e Synagro, e na originação, armazenamento e comercialização de grãos, com atuação no Centro-Oeste, no Matopibapa (sigla que representa as regiões agrícolas de Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia e Pará).
Recém-chegado ao grupo, Villarroel tem entre suas missões ocupar espaços que devem ser deixados por concorrentes em um mercado que vive um dos mais delicados momentos dos últimos anos, com retração de vendas e grandes redes, como o AgroGalaxy, enfrentando dificuldades para cumprir compromissos financeiros.
“Existem players que saem do mercado, outros que saem mais enfraquecidos”, diz o executivo. “E aí é um momento, na nossa visão, de oportunidade. Os clientes, os agricultores, estão mais atentos agora do que nunca sobre com que empresas eles vão trabalhar”.
O investimento de R$ 700 milhões anunciado agora pela Mitsubishi Corporation na companhia não é oportunista. Anticíclico, foi definido ainda no ano passado, quando o setor já começava a sentir os efeitos de um movimento de baixa no preço das commodities, dentro de um plano quinquenal estabelecido pela matriz do grupo, no Japão.
Ao longo do ano passado, segundo Villarroel, a corporação – que reúne mais de 1,3 mil empresas em oito diferentes divisões – entendeu, nos seus processos de revisão estratégica global, que a seus negócios agrícolas deveriam ganhar mais relevância dentro do grupo nas próximas décadas.
Hoje, eles representam apenas cerca de 7% do resultado líquido global da gigante japonesa, o que não os colocam entre as principais divisões da Mitsubishi Corporation. “A ideia é que ela venha se tornar, realmente, uma grande unidade global, como são hoje os automóveis, por exemplo”, afirma Villarroel.
Ao colocar a área agrícola como uma de suas prioridades, os japoneses voltaram seus olhos para o Brasil, que veem como o mercado com os fundamentos mais evidentes para oferecer esse potencial de crescimento.
Assim, a manutenção de um plano de investimento robusto no País (e, consequentemente, na Agrex) se deu naturalmente, a despeito de um quadro mais volátil do agronegócio brasileiro.
O objetivo declarado é levar a companhia, com faturamento estimado em R$ 5 bilhões (a empresa não divulga o dado), a duplicar o resultado líquido até 2027, atingindo um ganho de R$ 250 milhões.
A meta se apoia também na visão de que é possível ganhar um porte maior dentro das regiões em que atua – e que hoje representam as principais frentes de crescimento do agro brasileiro.
Se o projeto dos japoneses é de longo prazo, os próximos cinco anos da sua subsidiária brasileira devem combinar lances mais ousados. Os recursos anunciados agora devem ser investidos nesse prazo e na expansão orgânica das operações da empresa.
“Estamos estudando casos para aquisição também”, diz o diretor. “Obviamente, fazendo sentido em todos os escrutínios, pode significar novos aportes do grupo para isso. Nos R$ 700 milhões, não estão incluídos recursos para associações e aquisições”.
A presença da Agrex, de certa forma, coincide com as áreas em que atuam algumas das empresas que têm apresentado dificuldades financeiras. Com isso, Villarroel afirma que a empresa já percebe uma movimentação diferente, nas última semanas, que reforça a tese das oportunidades da reacomodação.
“A gente sente isso diariamente e de uma maneira ampla”, diz. “Tenho feito rodadas de alinhamento com as equipes para ver como podemos, com agilidade, dar uma uma pronta resposta para dezenas e dezenas de clientes que estão nos buscando”, conta.
“São agricultores que, às vezes, tinham uma parcela de negócios conosco e também com outros e agora estão voltando ou potenciais clientes que a gente conhece no mercado e que estão vindo. Com essa turbulência no mercado, eles associam o medo e estão querendo buscar a segurança”.
Na área de distribuição de insumo, a rede da Agrez (incluindo a bandeira Synagro) soma 28 lojas. Com os novos investimentos, a empresa prevê inaugurar pelo menos mais uma a duas por ano.
“Será um crescimento lento em novas lojas, mas rápido em força de trabalho”, afirma. Em um ano, segundo ele, já houve um incremento de 15% nas equipes de vendas e a ideia é acelerar esse ritmo.
Atualmente, segundo ele, a equipe de campo, entre representantes, assistentes de desenvolvimento e suportes ao cliente, mais de 150 pessoas, apenas na distribuição de insumos. O foco será mantido nas regiões de Cerrado.
No segmento de trading, originação e armazenagem de grãos, os investimentos devem também resultar na ampliação das oito unidades já existentes – a mais recente foi inaugurada este ano em Guarai (TO), onde foram investidos pouco mais de 50 milhões de reais da mesma forma –, além de duas instalações de transbordo.
Ele antecipa, sem citar o local, que em breve deve ser anunciada a ampliação de uma das unidades mais importantes de recepção e armazenagem de grãos.
Além disso, a ideia, segundo o executivo, é construir duas novas centrais de armazenamento.
O escoamento dos grãos originados pela empresa se dá, em grande parte, pelo porto de Itaqui, no Maranhão – há também embarques por Barcarena (PA) e Santos (SP). Também essas operações podem receber aportes de ampliação.
“Aqui seriam investimentos de uma magnitude menor, com parceiros que estão nessas regiões, mas que vão ampliar a capacidade de escoamento nesses locais”.
Duplicar as sementes
Outra frente que a Agrex olha com ambição é o mercado de sementes. A empresa tem uma marca própria, a Dimatre, lançada no ano passado e que deve ter atenção especial do grupo.
“Nosso interesse é expandir de forma acelerada isso”, diz. A unidade de beneficiamento de Goiatuba (GO) deve ser duplicada nos próximos dois anos, segundo o executivo.
“Além disso, queremos desenvolver novas unidades de beneficiamento, próprias ou em alianças com terceiros, em outras geografias do Brasil, para poder cobrir todo o espectro nosso de operação”, afirma.
Ele revela que o grupo está estudando projetos na Bahia, no Maranhão e no Mato Grosso.
Uma última parte dos recursos investidos deve ir para a área de produção agrícola. A empresa opera seis fazendas na confluência de Maranhão, Tocantins e Piauí, somando 30 mil hectares cultivados com soja, milho e sorgo.
“A ideia é ampliar também essa área agrícola de produção, com investimentos na estrutura, para aumentar a produtividade e o potencial”, diz.
A ampliação de área se daria por meio de arrendamento, já que há limitações para aquisição de terras por grupos estrangeiros no Brasil.