Uma fazenda de 59 mil hectares em Cumaru do Norte, no Pará, com pista de pouso asfaltada, heliponto, sede-mansão, 1,1 mil divisões para pastagens, com capacidade para 70 mil cabeças de gado. Valor: R$ 5 bilhões.

Uma chácara em Araçariguama, em São Paulo, com 5 mil hectares e vocação para o lazer. Valor: R$ 300 mil.

As duas propriedades estão nos dois extremos das propriedades rurais apresentadas, nesta quarta-feira, 10 de julho, na plataforma Chaozão. Lançada no fim de maio, ela se apresenta como “o primeiro site do país com atuação exclusiva no mercado imobiliário rural”, nas palavras da empreendedora Geórgia Oliveira, sua criadora.

Com 15 anos de atuação compra e venda de imóveis, urbanos e rurais, a empresária nascida em Tocantins e radicada em Goiânia acredita que há uma lacuna digital quando se fala no mercado de terras. E ela quer preenchê-la.

Segundo Geórgia, em uma busca na internet é possível encontramos vários sites com anúncios de compra e venda de imóveis rurais. Boa parte deles, no entanto, são dedicados em anunciar propriedades urbanas, trazendo também algumas opções de fazendas, sítios ou chácaras.

“Minha família atua na agropecuária. Então, sempre tive afinidade com o setor. Quando ingressei no mercado de imóveis, eu observei que tinham muitas oportunidades no rural, mas mal exploradas, mal organizadas. Se as plataformas funcionam para o urbano, funcionam para o rural”, observa ela, em entrevista ao AgFeed.

O trabalho com o Chaozão começou durante a pandemia de Covid-19, em 2021, e passou a ser desenvolvido no ano passado.

Geórgia pondera que vê as informações sobre a compra e venda de imóveis rurais restritas a poucas pessoas. Esse fator contribuiu para a criação da plataforma, na qual ela quer centralizar os anúncios de propriedades rurais e democratizar a informação.

Segundo ela, nesse segmento muitas vezes o interessado passa por até seis corretores para fazer negócio. A finalidade do Chaozão, segundo diz, é conectar as pontas desse processo.

Além disso, a executiva observa que a compra e venda de um imóvel rural é bem diferente da de um apartamento ou uma casa.

“Para esses imóveis, é preciso informações como quantidade de quartos, se tem ou não suíte, tamanho em metros quadrados… Para comprar uma fazenda são explorados aspectos bem distintos. Por exemplo, não se fala em metros quadrados e sim em alqueire ou hectare”, comenta.

Como funciona o Chaozão?

O Chaozão recebe cadastros de corretores que pagam por um pacote mensal e, assim, têm direito a anunciar a venda de propriedades. Proprietários apenas de um imóvel e que estejam interessados em vender ou arrendar também podem contratar um dos pacotes. A empreendedora lembra que o serviço é gratuito para os compradores de imóveis.

A CEO da plataforma explica que, inicialmente, foram colocados anúncios de mais 100 imóveis, ligados a corretores parceiros do Chaozão, de todo o Brasil. Nesta quarta-feira, 10 de julho, era cerca de 450.

A expectativa de Geórgia é ter, até o fim do mês, 6 mil propriedades rurais disponíveis para negócios. Isso será possível, segundo ela, em função do fechamento de uma parceria recente com “quatro grandes imobiliárias do mercado rural”.

Por enquanto, o acesso ao Chaozão é apenas pelo site da plataforma, pelo computador e por dispositivos móveis. Um aplicativo próprio está em desenvolvimento.

Geórgia explica que há uma grande preocupação com a busca, para que o comprador ou vendedor tenha o máximo de informações disponíveis.

“Temos um filtro de informações bem detalhadas. Por exemplo, se a pessoa quer comprar uma propriedade no interior de São Paulo e que tenha lavoura de laranja, com determinado índice pluviométrico, vai encontrar essa riqueza de informações”, detalha.

Geórgia Oliveira, CEO da Chaozão

No site da plataforma, é possível buscar imóveis para compra ou arrendamento por estado ou cidade. Como também pelo tipo da propriedade - fazenda, sítio, chácara, rancho ou haras -, área e valor mínimo e máximo.

Também é possível pesquisar pela aptidão do imóvel, se é destinado à apicultura, aquicultura, floresta, lavoura, mineração, pecuária, lazer/turismo ou dupla aptidão. A partir dessa informação, encontra-se um imóvel pela subcultura, como laranja, soja, algodão, confinamento etc..

Em uma busca mais avançada, ainda é possível saber que tipo de água há na propriedade, as benfeitorias, o tipo de solo, a topografia, se a lavoura é destinada à safra ou safrinha e informações sobre a documentação do imóvel.

Excesso de ofertas

O lançamento da plataforma acontece em um momento complexo do mercado imobiliário rural. Geórgia ressalta que, nos últimos dois anos, a venda “deu uma boa desacelerada” em meio ao cenário econômico menos favorável para o agronegócio.

“O momento é de excesso de oferta de imóveis. Daí, com muita opção no mercado, os preços estão menores”, diz.

“Porém, quem está comprando tem feito bons negócios em meio à grande oferta. Há muita propriedade boa com preço bom”, conta.]

Segundo ela, a região Centro-Oeste e estados como Tocantins, Maranhão e Bahia são as que dispõem de mais imóveis para comercialização.

A executiva lamenta a falta de informações consolidadas sobre o segmento e espera transformar a plataforma em referência quando o assunto for estatísticas sobre imóveis rurais.

“O nosso próximo passo será desenvolver um indicador próprio de preço médio de terras, nos moldes do que é feito pelo Fipezap (para imóveis urbanos). Queremos chegar ao ponto de explicar por que o hectare no Mato Grosso saiu de um determinado preço no mês passado para outro neste mês”, adianta.

A CEO do Chaozão acredita que “difundir informações como essas” é um dos papéis da plataforma. Ela acrescenta que o Brasil tem cerca de 600 mil corretores, mas não existe mensuração de quantos atuam focados no mercado imobiliário rural.

De acordo com o Atlas do Mercado de Terras 2023, divulgado pelo Incra, órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Mogiana, no interior de São Paulo, foi a região que registrou o maior valor por hectare, de R$ 2,1 milhões.

Na sequência, aparecem regiões de três municípios de Santa Catarina: Joinville, Blumenau e Xanxerê, com o preço do hectare entre R$ 388,5 mil e R$ 786,4 mil. No levantamento do Incra, os estados paulista e catarinense dominam entre as dez regiões com o hectare mais caro.

“Este ano, Paraná e Santa Catarina apresentam os maiores preços médios, chegando a custar acima de R$ 180 mil o hectare”, destaca a CEO do Chaozão.