Desde que começaram a surgir as primeiras notícias sobre excesso de estoques e redução de vendas no mercado de insumos agrícolas, executivos de distribuidores e da indústria têm tido conversas menos amenas.

Uma espécie de cabo de guerra se formou em negociações – que nos bons tempos eram resolvidas com mínimo estresse –, com cada lado tentando garantir um pouco mais de margem em um período em que elas estavam já bem apertadas.

Nem sempre foi possível chegar a um acordo, porém. Um exemplo claro de que as diferenças ainda podem causar atritos foi uma nota divulgada nesta segunda-feira, 11 de março, pelos CEOs do AgroGalaxy, Axel Labourt, e da Bayer Brasil, Marcio Santos.

No comunicado, eles informam ao mercado que sua parceria para a distribuição de produtos da linha Crop Protection (proteção de cultivos) da gigante alemã pela rede brasileira, havia sido encerrada.

Com isso, a Bayer passou a ter um canal a menos de distribuição de seus defensivos em regiões do Paraná, São Paulo e Minas Gerais onde o AgroGalaxy atua com os CNPJs das empresas Grão de Ouro e Agro100, adquiridas pelo grupo.

Na nota, os dois executivos afirmam que a decisão, de comum acordo, foi tomada “em razão de diferetes estratégias de negócios”. E afirmam que o encerramento da parceria não afeta outros compromissos pendentes entre as partes, nem mesmo o atendimento a clientes.

O AgroGalaxy não tem escondido do mercado sua necessidade de fazer ajustes severos em sua estrutura de negócios. Ao longo dos últimos meses, adotou uma série de medidas de contenção de custos, com fechamento de lojas e redução de times, além de contar com uma capitalização de seu sócio majoritário, o fundo Aqua Capital.

No final de fevereiro, a empresa também informou ao mercado estar em busca de um sócio capaz de contribuir para acelerar se seu negócio de sementes, considerado estratégico para companhia em função das boas margens que oferece ao grupo.

A recuperação das margens nas revendas é um dos principais objetivos da gestão de Labourt. Em entrevista ao AgFeed ao anunciar o balanço do terceiro trimestre de 2023, em dezembro passado, o CFO da empresa, Eron Martins, chegou a usar uma frase de efeito para definir o posicionamento que a companhia tem adotado na relação com fornecedores.

“Vender com muito mais margem tem impacto muito maior do que vender muito”, afirmou.

Mais recentemente, ao comentar a decisão de procurar um sócio para a área de sementes, Martins reforçou que o trabalho de enxugamento interno, que resultou em uma economia estimada em R$ 50 milhões nos custos, já havia sido encerrado e que a companhia, agora, estava “enxuta o suficiente para enfrentar guerras”.

Os dois CEOs estão em momentos semelhantes em suas empresas. Ambos acabam de assumir o comando e sabem que enfrentarão dias difíceis pela frente. Considerado um especialista em gestão de crises, Marcio Santos foi confirmado em janeiro passado no posto, em um momento em que a multinacional encara uma transformação radical promovida pelo CEO global, Bill Anderson.

Axel Labourt, por sua vez, assumiu o posto de CEO agora em março, mas já vinha, na condição de COO, atuando na linha de frente dos ajustes que, até então, foram pilotados por Wellis Pascoal.

O AgFeed procurou AgroGalaxy e Bayer para comentar o encerramento da parceria. Por meio de suas assessorias, as duas empresas informaram que preferiam não se manifestar.