Produtores rurais têm sentido os efeitos da queda nos preços de soja e milho, enquanto fabricantes e distribuidores lidam com o mesmo movimento em insumos. A paulista Holambra Cooperativa Agroindustrial está nos dois grupos. Assim, o desafio tem sido duplo neste ano.
Não por acaso, depois de registrar R$ 2,8 bilhões em receitas em 2022, triplicando o faturamento em um espaço de três anos, em 2023 a Holambra já trabalha com um cenário de redução em receita. Se ajusta, no entanto, para ao menos manter positiva a última linha do balanço.
“Estamos projetando uma queda próxima de 15% no faturamento neste ano”, diz Matheus Cotta de Carvalho, CEO da Holambra, em entrevista ao AgFeed. “Em 2022, tivemos lucro líquido de R$ 70 milhões. Esse ano, devemos ter novamente resultado positivo, o que será uma grande vitória”.
Metade das receitas da Holambra vem dos cooperados, que são tratados como “clientes premium” pela cooperativa. A outra metade é proveniente de clientes que compram insumos distribuídos pela Holambra.
Carvalho está no cargo desde junho. Ele teve passagens por empresas como Copersucar e Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), na área de Recursos Humanos. Antes de se inserir no mundo agro, ele foi diretor de RH do Banco BV, e presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
A Holambra tem atualmente 165 cooperados que adotam diversas culturas, desde as mais tradicionais, como soja, milho, algodão e trigo, passando por frutas cítricas e outras como maçã, goiaba, lichia e atemóia.
Segundo Bruno Santos, gerente de Marketing e Inovação da Holambra, a irrigação permite que o cooperado tenha maior facilidade na troca de culturas.
“Cerca de 70% da área dos nossos cooperados é irrigada. No ano passado, por exemplo, com a colheita tardia da soja, ficou arriscado fazer o plantio de milho. Houve uma migração para trigo e cevada”, conta Santos.
Ele afirma que, sem essa diversidade de culturas, o resultado da Holambra em 2023 seria bem diferente. “Nós trabalhamos muito nesse tipo de planejamento com o cooperado. A decisão é sempre dele, mas sempre conversamos”.
Carvalho afirma que neste momento, a Holambra promove uma campanha para a adoção do algodão pelos produtores. “O preço está melhor neste momento. Sempre fazemos ações deste tipo, dependendo do momento do mercado”.
Nos insumos, o CEO da cooperativa afirma que os preços baixos acabam provocando uma “concorrência quase predatória, com as empresas se preocupando em gerar caixa, sem dar atenção às margens”.
Segundo Santos, a Holambra tem um terço do mercado de vendas de insumos na região do sudoeste paulista, onde o grupo atua.
Ele afirma que os cooperados da Holambra têm como prática antecipar bastante a compra de insumos. “Eles têm uma estrutura de galpão para armazenar insumos. Nós mesmos contamos com uma grande capacidade para esse fim”, diz Santos.
Outro ponto que ameniza os efeitos da conjuntura difícil do mercado é a política de comercialização adotada pela Holambra na última safra.
“Enquanto o mercado estava com índice de comercialização antecipada de 60%, aqui nós estávamos com um índice entre 85% e 90%. Isso também é resultado do planejamento que adotamos junto com o cooperado”.
Nova unidade
Mesmo com a perspectiva de faturamento menor em 2023, a Holambra manteve seu plano de investimentos. Neste mês de agosto, a cooperativa abriu uma nova unidade de beneficiamento em Itaberá, que fica a cerca de 300 quilômetros da capital paulista.
O CEO da Holambra conta que foram investidos cerca de R$ 50 milhões nesta nova unidade de armazenamento, a oitava da cooperativa. A de Itaberá será voltada para soja, milho, sorgo e cereais de inverno.
A capacidade estática do novo armazém é de 36 mil toneladas, com secagem de 120 toneladas por hora. No total, a Holambra tem uma capacidade de 400 mil toneladas em seus armazéns.
“Essa unidade de Itaberá tem alto nível de automação, a capacidade dele pode ser rodada até três vezes por ano”, conta Carvalho.
Segundo o executivo, a inauguração encerra um ciclo de investimentos de R$ 200 milhões nos últimos três anos.
Ao tratar da tecnologia da unidade de Itaberá, Carvalho comenta sobre como funciona o hub de inovação da Holambra. A cooperativa tem um comitê de agricultura digital, que estuda novas soluções que surgem no mercado e a aplicabilidade para os produtores.
“O hub fez um ano agora em agosto. Nós temos parcerias com universidades como a Unesp, com projetos de doutorado sendo desenvolvidos aqui. Embrapa e Cubo, do Itaú, também desenvolvem projetos conosco”, diz Carvalho.
Ele conta que a Holambra promove missões frequentes aos Estados Unidos, para estudar novas tecnologias. “Temos uma que acabou de voltar. E nas próximas semanas, vai sair outro grupo para lá”, conta.
A logística é outra dificuldade que a Holambra enfrenta neste momento. “Os fretes estão subindo acima dos 20% neste momento. É uma condição de mercado, e não estamos imunes”, afirma Bruno Santos.
A vantagem é a proximidade com o Porto de Santos. “Claro que esta é uma vantagem competitiva. Além disso, a irrigação permite uma ampliação das janelas de plantio e colheita, diminuindo os riscos climáticos”.