O sonho de qualquer empresário que adota o modelo de aquisição para expandir seus negócios é ver rapidamente os resultados da operação em seu balanço. Marcos Molina atingiu esse objetivo depois de adquirir o controle acionário da BRF.
Nesta quarta-feira, 27 de março, a Marfrig divulgou seus primeiros resultados depois de atingir mais de 50% do capital da BRF, em dezembro de 2023. Já no quarto trimestre do ano passado, a empresa comprada foi responsável pela maior fatia do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da controladora, com 64% do resultado.
“No quarto trimestre de 2022, a participação da BRF no Ebitda da Marfrig foi de 44%”, lembrou David Tang, diretor Financeiro da Marfrig, durante coletiva de imprensa para comentar os resultados.
A BRF havia divulgado seus resultados um mês atrás, no final de fevereiro. A empresa conseguiu interromper um ciclo de dois anos seguidos de prejuízos, apurando um lucro líquido de R$ 754 milhões nos últimos três meses de 2023.
Em todo o ano passado, a BRF respondeu por 51% do Ebtida da Marfrig. No faturamento, a fatia da empresa comprada foi de 39% no trimestre, ficando pouco atrás das operações na América do Norte, com a National Beef, que teve 41% das receitas consolidadas.
Durante a coletiva, Tang evitou fazer projeções sobre a relevância que a BRF deve ter para os resultados da Marfrig em 2024. “Temos motivos para acreditar que a empresa continue em uma trajetória positiva”, afirmou o executivo.
Ele lembrou também que, em termos de valor pago nas ações da BRF, a operação se mostra vantajosa para a Marfrig. “Nós pagamos, em média, R$ 16 por ação da BRF durante todo o período em que efetuamos compras. Agora em março, a cotação média do papel está em R$ 16,40”.
Apesar desta média, a ação da BRF tem sofrido na segunda quinzena de março. Depois de atingir o pico de fechamento em R$ 17,28, no dia 14, a ação começou uma trajetória de queda e fechou esta quarta-feira a R$ 15,78. Isso significa um recuo superior a 8,5% em duas semanas.
A contribuição da BRF ajudou a Marfrig a também interromper uma série de prejuízos que já durava quatro trimestres, conseguindo fechar o final de 2023 com ganhos de R$ 12 milhões.
Outra unidade de negócio que apresentou bons resultados foi a América do Sul. Com a receita líquida crescendo 7% em 12 meses e batendo os R$ 7 bilhões, os negócios locais da companhia conseguiram um avanço de 38% no Ebitda, para R$ 732 milhões.
Além do aumento de 6% no volume, chegando a 400 mil toneladas no quarto trimestre de 2023, outro ponto destacado por Rui Mendonça, CEO da operação América do Sul da Marfrig, foi a margem Ebitda, que saiu de 8% no final de 2022 para mais de 10% em 2023.
Mendonça ressaltou, além da melhora na demanda brasileira, o bom desempenho da Marfrig com produtos de maior valor agregado.
Nas exportações, a estratégia da Marfrig é procurar mercados mais rentáveis. “Nós continuamos diminuindo a participação de China e Hong Kong no total de vendas externas. Com a habilitação de 26 novas plantas pela China, podemos ver um aumento das exportações para lá. Mas estamos olhando outros países’, afirma.
A participação de China e Hong Kong nas exportações da Marfrig América do Sul caiu de 72% no final de 2022 para 60% em 2023. Quando se leva em conta todo o mercado asiático, a fatia no quarto trimestre do ano passado foi de 55%.
“Temos um bom potencial no México, no Oriente Médio, e temos alguns mercados que estão sendo trabalhados, como Japão e Coreia. Agora, parece que vai destravar o acesso à Indonésia também”, diz Mendonça.
Problemas na National Beef
As operações norte-americanas da Marfrig, representadas pela National Beef, continuam retardando um ciclo mais positivo para os resultados consolidados da companhia.
Tim Klein, CEO da National Beef, afirma que a demanda por carne bovina nos Estados Unidos melhorou no final de 2023. Mas o ciclo do gado continua desfavorável, com os preços do boi ainda altos.
“Como disse nos trimestres anteriores, espero que o cenário atual do ciclo só tenha uma reversão a partir de 2026. Mas acredito que em 2024 vamos continuar vendo uma demanda mais forte para a carne”, afirma o executivo.
Em termos de números, as operações nos Estados Unidos tiveram piora significativa no quarto trimestre de 2023, em relação ao mesmo período de 2022. O Ebitda caiu quase pela metade, ficando abaixo de US$ 80 milhões.
As receitas ficaram estáveis em US$ 3 bilhões, o que pode ser considerado um resultado positivo, já que em volume, houve queda superior a 11% em um ano, para menos de 500 mil toneladas.
Em relação ao incêndio registrado em uma unidade da empresa no estado de Kansas, Klein afirma que a National Beef perdeu 2,5 dias de produção por conta da limpeza da unidade. “Esperamos recuperar essas perdas nas próximas semanas”, diz o executivo.