A Cocal, grupo sucroenergético do interior paulista, encerrou o primeiro trimestre da safra 2025/26 com lucro líquido de R$ 14,9 milhões, de acordo com o balanço divulgado nesta quarta-feira, 27 de agosto.
O resultado é 80% inferior aos R$ 74,4 milhões registrados entre abril e junho do ano passado, na safra 2024/25.
Assim como outras companhias do setor, a Cocal atribuiu os resultados aos efeitos de “condições climáticas adversas” sobre a produtividade agrícola da cana, além da queda nas vendas de açúcar.
A receita líquida totalizou R$ 714 milhões no trimestre, 9,6% menor em relação ao mesmo período do ano passado. O principal fator foi a redução nas vendas de açúcar, que somaram R$ 471,9 milhões, queda de 18,8%, com menor moagem e recuo de 18,1% no volume comercializado.
Apesar disso, a empresa manteve a estratégia de priorizar o açúcar em seu mix, que representou 65% da produção, diante da maior rentabilidade em relação ao etanol.
O Ebitda ajustado da companhia foi de R$ 350,2 milhões, retração de 15,1% sobre o primeiro trimestre da safra anterior.
Segundo a empresa, a redução da receita foi parcialmente compensada pela queda de 2,2% no custo dos produtos vendidos e pelo recuo de 9,1% nas despesas operacionais, mas não o suficiente para evitar a forte compressão do lucro.
A dívida líquida ajustada fechou junho em R$ 1,81 bilhão, alta de 12,7% em três meses, elevando a alavancagem para 1,24 vez o Ebitda ajustado ante 1,05 vez em março deste ano. O caixa somou R$ 2,2 bilhões, o que garante posição de liquidez confortável. A maior parte da dívida tem vencimento no longo prazo, até a safra 2038/39.
Alguns segmentos ajudaram a atenuar as perdas. A receita de etanol anidro avançou 32,4%, para R$ 143,3 milhões, impulsionada pela alta de 20,6% no preço médio e pelo crescimento de 9,8% no volume vendido.
Já o faturamento com etanol hidratado recuou 6,4%, para R$ 43,8 milhões, enquanto a energia elétrica registrou aumento de 25,9% na receita, a R$ 30,3 milhões, beneficiada por preços 53,1% maiores, ainda que o volume ofertado tenha caído 17,7%.
No primeiro trimestre de 2025/26, a Cocal, com unidades em Paraguaçu Paulista e Narandiba, no Oeste Paulista, processou 2,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma redução de 16,7% em comparação ao mesmo período de 2024/25.
A produtividade agrícola caiu 7,7%, para 8,8 toneladas por hectare, e o ATR (Açúcar Total Recuperável) recuou 2,6%, para 123 quilos de açúcar por tonelada moída.
A empresa atribuiu o desempenho ao déficit hídrico na safra anterior e ao excesso de chuvas entre abril e junho de 2025, que reduziram o tempo efetivo de colheita.
A produção de açúcar caiu 18,2%, para 204 mil toneladas, enquanto a de etanol somou 75 milhões de litros, recuo de 21,9%, sendo 49 milhões de litros de anidro e 26 milhões de litros de hidratado.
Mesmo com o início lento na safra 2025/26, a companhia projeta moagem entre 7,8 milhões e 8,6 milhões de toneladas de cana, em linha com o resultado da safra passada, quando a moagem chegou a 8,27 milhões.
A expectativa é de recuperação gradual da produtividade agrícola, apoiada em investimentos na renovação e manejo do canavial.
A Cocal manteve ritmo elevado de investimentos. O capex atingiu R$ 371,6 milhões no trimestre, aumento de 16,7% sobre o 1T25. Desse total, R$ 219,5 milhões foram destinados à manutenção do canavial e tratos culturais, e R$ 99,5 milhões a melhorias operacionais.
Outros R$ 52,6 milhões foram aplicados em expansão, com destaque para o Projeto Biogás, que recebeu R$ 30,5 milhões para a instalação de uma segunda unidade em Paraguaçu Paulista, e para a ampliação da capacidade de moagem, que consumiu R$ 22,1 milhões.
Resiliente
Na terça-feira, 26 de agosto, durante evento da XP Investimentos em São Paulo, o diretor corporativo financeiro da Cocal, Ailton Santos, citou “o ciclo de investimento relevante nos últimos anos” da companhia, que coincidiu com a apreciação dos preços de commodities.
“Conseguimos fazer com que o retorno da companhia fosse reinvestido, seja em ganho de eficiência ou diversificação”, afirmou. Segundo ele, o fato de a empresa ser uma do setor que mais se diversificou a deixa preparada para ciclos de mais resiliência.
Como mostrou o AgFeed na semana passada, a Cocal é a maior fornecedora de biometano para a Necta, distribuidora de gás natural no interior de São Paulo. Santos destacou que a companhia, uma das primeiras a colocar a energia elétrica cogerada na linha de transmissão, também foi pioneira na operação com o gás.
“Entendemos que o biometano vai ser o que foi a cogeração nos anos 2000 no segmento”, disse.
De acordo com o CFO, além da oferta na rede da Necta, a Cocal deve transportar 30% do açúcar para o Porto de Santos, com caminhões movidos a biometano produzido nas unidades.
“Na safra passada, transportamos 5% do consumo interno de diesel já substituído por biometano. Nesta safra, chegaremos a 7%, trabalhando de forma proativa para desenvolver a tecnologia nos veículos a diesel para substituir, de forma gradual mas rápida, pelo biometano”.
Com reportagem de Gustavo Lustosa
Resumo
- A Cocal encerrou o 1º trimestre da safra 2025/26 com lucro líquido de R$ 14,9 milhões, queda de 80% frente ao mesmo período do ano passado.
- A redução foi causada por condições climáticas adversas, menor produtividade agrícola e queda nas vendas de açúcar, apesar da estratégia de manter o mix concentrado nesse produto.
- Mesmo com pressão sobre os resultados, a companhia seguiu investindo forte: foram R$ 371,6 milhões em capex no trimestre, com foco em manutenção e expansão.