A estrutura portuária brasileira sempre foi uma das maiores preocupações de produtores rurais e de empresas que trabalham com exportação de commodities agrícolas. Estudos recentes apontam que, em poucos anos, poderia haver um colapso nos portos do País.
Para empresas que operam terminais nesses portos, o problema é também uma oportunidade nesse cenário e algumas delas começaram a anunciar investimentos relevantes.
Esse é o caso da CLI Logística, empresa fundada em 2011 por uma trading e que agora é controlada pelas gestoras de fundos de private equity IG4 e Macquire. A companhia tem um plano bilionário de investimentos, que deve abranger suas duas unidades de negócios nos próximos anos.
Na CLI Sul, que opera um terminal no Porto de Santos – que tem a Rumo como sócia, com 20% de participação – está aprovado um aporte de R$ 565 milhões.
Já a CLI Norte faz parte de um consórcio que opera no Porto de Itaqui, no Maranhão. Lá, um grupo de empresas, composto também por Viterra, LDC e Toyota, fará um investimento total de R$ 1,6 bilhão para ampliar os terminais. Cada companhia vai investir R$ 400 milhões.
Em entrevista ao AgFeed, o CFO da CLI Logística, Gabriel Motta, afirma que os investimentos fazem parte do plano de crescimento da companhia, que até 2030, quer mudar seu patamar no mercado portuário brasileiro, no qual tem 10% de participação atualmente.
“Não posso dizer os números que projetamos para 2030. Mas esperamos um aumento de receitas proporcional ao da capacidade de armazenamento e escoamento que teremos após a conclusão das obras”.
O maior aumento de capacidade vai acontecer no Maranhão, segundo o executivo. “Nós vamos ampliar em 50% a capacidade de escoamento de soja, farelo de soja e milho do terminal, passando de 16 milhões de toneladas por ano para 24 milhões de toneladas após a conclusão”.
Motta ainda não tem um cronograma de início das obras, que serão realizadas em um terreno que fica logo atrás dos galpões do consórcio no Porto de Itaqui. “Serão construídos silos verticais”, conta.
A ampliação dos terminais no Porto de Itaqui vai aumentar a capacidade estática dos armazéns de 125 mil toneladas para 200 mil toneladas.
O terminal do Porto de Santos é operado totalmente pela CLI Sul. A Rumo vendeu 80% deste terminal para a companhia em 2022, por R$ 1,4 bilhão. Motta afirma que a predominância nessa operação é de açúcar, com uma proporção média de 70%, enquanto os outros 30% são de grãos.
Os aportes envolvem a modernização dos armazéns e de toda a estrutura para embarque dos produtos nos navios, além da construção de um novo centro operacional e administrativo.
Segundo Motta, os armazéns atuais darão lugar a novas estruturas e, somente para este fim, serão direcionados R$ 160 milhões para ampliar a capacidade estática para 100 mil toneladas. O centro administrativo terá R$ 70 milhões em investimentos.
Outros R$ 170 milhões serão aportados em novas correias transportadoras. “Hoje, essas correias são abertas e há muita perda com a poeira que sobe no transporte. Aquilo é amido de milho, por exemplo. Agora, a estrutura será fechada, para evitar essa perda”, conta o CFO.
Mais R$ 180 milhões serão investidos em quatro novas moegas. Com tudo isso, a capacidade de escoamento de grãos e açúcar do terminal em Santos vai passar de 16 milhões de toneladas para 19 milhões de toneladas por ano.
Os investimentos no Porto de Santos já estão aprovados pelas autoridades e, segundo Motta, a construção começa em 2025.
Financiamento via mercado
Para as obras do terminal em Santos, a CLI Sul vai recorrer ao mercado de capitais. O CFO da CLI Logística afirma que a empresa já fez operações com debêntures e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e tem uma imagem consolidada entre os investidores.
“O plano é compor o investimento com metade do valor vindo do nosso caixa e metade financiado via mercado. Temos um bom caixa e espaço para ampliar o nível de endividamento”, diz Motta.
Segundo o balanço da CLI referente ao primeiro trimestre de 2024, o caixa da companhia está acima dos R$ 400 milhões. Somente a CLI Sul fechou o mês de março com R$ 284 milhões em caixa.
A empresa conseguiu reduzir bastante sua alavancagem financeira em um ano. Ao fim do primeiro trimestre de 2023, a relação dívida líquida e Ebitda estava em 2,9 vezes e caiu para 2 vezes ao final de março deste ano.
“Nós temos o compromisso com os investidores, nos contratos das captações que realizamos, de manter essa alavancagem abaixo de 3,5 vezes. Então, ainda temos um espaço de 1,5 vez para dívidas”.
Em termos nominais, a dívida líquida da CLI Logística aumentou 26% em um ano, e superou R$ 1 bilhão em março deste ano.
Em contrapartida, o Ebitda ajustado cresceu em um ritmo muito maior, de 63%, chegando perto dos R$ 109 milhões no primeiro trimestre de 2024.
A receita líquida da CLI Logística avançou 31% em um ano, chegando a R$ 195 milhões. a companhia conseguiu diminuir seu prejuízo em mais de 60% no início de 2024 em relação ao ano passado, para R$ 31,5 milhões.