O Brasil já é uma potência mundial quando o assunto é celulose. Maior exportador global da matéria-prima do papel, o País está no caminho de reforçar ainda mais sua posição, com diversos projetos de novas fábricas que estão em andamento, ou em fase de planejamento.

Muitas dessas unidades estão sendo anunciadas no Mato Grosso do Sul, que já é um importante polo do segmento no Brasil. Mas a partir desta segunda-feira, dia 29, o Rio Grande do Sul entrou com mais força no mapa nacional da celulose.

A multinacional chilena CMPC, que tem 54 unidades produtivas em 12 países nas Américas, na Europa e na Ásia, assinou um protocolo de intenções com o governo gaúcho para construir uma nova fábrica de celulose no estado, na cidade de Barra do Ribeiro, que fica a 60 quilômetros ao sul de Porto Alegre.

De acordo com o anúncio feito nesta segunda em Porto Alegre, os investimentos totais estão estimados em R$ 24 bilhões. Dentro deste valor, estão previstos US$ 150 milhões para a construção de um terminal para celulose dentro do porto de Rio Grande, segundo revelou o CEO do Grupo CMPC, Francisco Ruiz-Tagle.

A companhia projeta que a nova fábrica terá uma capacidade de produzir até 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano, com uma tecnologia que vai resultar em emissão zero de resíduos no meio ambiente da região. Será a maior unidade fabril da CMPC no mundo.

Globalmente, a companhia teve um faturamento superior a US$ 8 bilhões em 2023, com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 1,3 bilhão e lucro líquido de US$ 470 milhões.

No Rio Grande do Sul, a CMPC já atua desde 2009 com uma planta na cidade de Guaíba, com capacidade para produzir 2,4 milhões de toneladas de celulose por ano. Ou seja, a companhia vai dobrar seu potencial de produção no estado com a nova fábrica.

Atualmente, a CMPC tem uma área total de 496 mil hectares no Rio Grande do Sul, dos quais 210 mil hectares de mata nativa preservada, distribuídos em mais de mil propriedades espalhadas por 73 municípios.

Segundo informações da própria companhia, essa área já atende cerca de 80% das necessidades da nova fábrica, mas haverá um acréscimo de 80 mil hectares a essa base florestal.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, afirmou durante a cerimônia de assinatura do protocolo de intenções que esse é o maior investimento feito por uma única empresa no estado. “Serão cerca de 80 municípios impactados por esse projeto florestal”, afirma.

Além da construção do terminal no porto de Rio Grande, a CMPC será responsável por outras obras de infraestrutura, como a duplicação de 376 quilômetros da BR-290, entre as cidades de Eldorado do Sul e Rosário do Sul, e a finalização da duplicação do trecho sul da BR-116.

Segundo Polo, os investimentos feitos pela CMPC nestas obras contarão com compensações via ICMP por parte do governo estadual.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou que o novo Código do Meio Ambiente do estado, aprovado recentemente pela Assembleia Legislativa, vai garantir uma tramitação mais rápida das licenças necessárias para o início das obras.

“A silvicultura está entre as atividades previstas no novo Código para terem uma análise mais ágil das licenças ambientais. A preocupação com o meio ambiente não pode resultar em negar todo e qualquer projeto. Tem que resultar em desenvolvimento com responsabilidade”, afirmou o governador na cerimônia.

Luiz Felipe Gazitúa, presidente do conselho de administração da CMPC, afirma que a construção da nova unidade não vai impactar a vocação agropecuária do Rio Grande do Sul.

“É uma oportunidade gigantesca para que o estado possa diversificar suas matrizes produtivas. O projeto todo vai ocupar cerca de 1% das terras disponíveis para agricultura no estado”, afirma.

Neste momento, o conselho da companhia aprovou o início dos estudos ambientais e a assinatura do protocolo com o governo do Rio Grande do Sul, afirma o CEO Ruiz-Tagle.

“Esses são os primeiros passos na direção de conseguir as licenças. Estimamos que, se tudo correr como esperamos, a construção da fábrica comece em 2026”, disse o executivo durante coletiva de imprensa.