Rubens Ometto, fundador e sócio controlador da Cosan, demorou 40 segundos na sua fala inicial na CEO Conference Brasil 2025, organizada pelo banco BTG Pactual, para reclamar da taxa de juros do Brasil.
A recente alta na Selic trouxe a maior crise na companhia, na subsidiária Raízen e obrigou o empresário a sair da Vale, seu mais recente sonho de consumo.
Indagado por André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual sobre o que é necessário para o empreendedor ter sucesso no Brasil, Ometto até tentou falar sobre insegurança jurídica. Mas não se conteve e logo centralizou suas críticas aos juros.
“O que mais atrapalha mesmo é o problema da taxa de juros e é uma pena, porque com poucas mudanças o país decola. Com esse nível de juros reais de 9% a 10% ao ano é impossível administrar qualquer investimento”, disse Ometto.
Segundo ele, a Selic em 13,25% ao ano, com viés de alta, abre possibilidades de investimentos financeiros com juros maiores.
“Se você pode aplicar seu dinheiro com juros a 15%, 16% e até 20% ao ano, você fica vagabundo. Dói, porque é um negócio simples de ser feito e preciso me segurar um pouco porque sou o chato de plantão”, criticou.
Ometto não se segurou. Seguiu com os ataques e falou dos impactos dos juros nas companhias.
O empresário admitiu que estava de “salto alto” na escalada de crescimento dos seus negócios e lamentou ter de se desfazer da participação na Vale, seu sonho.
As principais vítimas dos juros nos negócios da Cosan foram os projetos greenfield - usinas montadas a partir do zero - para a produção de etanol de segunda geração da Raízen.
Das 20 unidades previstas, apenas seis estão garantidas, de acordo com o empresário, com investimentos de R$ 9 bilhões em recursos próprios.
“O greenfield é problemático, porque você começa a colocar dinheiro, demora a entrar em giro e os juros, que não têm sábado, domingo ou feriado, vão judiando”, afirmou. “Estamos apanhando um pouco para organizar isso”.
Na mesma esteira, Ometto afirmou que os juros foram responsáveis por ele ter abortado o sonho de aumentar a participação da Cosan na Vale.
Em janeiro, a companhia liquidou uma participação de 4,05% que detinha na mineradora, levantando um total de R$ 9,1 bilhões.
Na operação, feita para reduzir o endividamento da Cosan, Ometto admite que perdeu dinheiro sobre o aporte inicial.
“Fizemos investimento que não deu certo por causa de juros. Quando a gente fez investimento na Vale a gente contava com juros de 8% a 8,5%, e fez com que a gente não conseguisse manter o portfólio, abortamos a operação, saímos e realizamos o prejuízo”, explicou.
Ometto admitiu que os tombos levados recentemente deixaram uma lição. “Você sai mais humilde. Todos os momentos que eu me machuquei eu estava de salto alto e a crise traz humildade para a gente”.
Nos poucos momentos em que não falou de juros, Ometto comentou o projeto do empresário Eike Batista de investir na produção da cana energia, e pediu pressão dos empresários sobre os políticos para guiarem o país.
Sobre o projeto do Eike Batista, antecipado pelo AgFeed em setembro do ano passado, ele disse que era difícil falar e criticar o empresário “principalmente com um público desse”, mas alertou que a ideia não é nova e não foi adiante nos testes feitos pela Cosan.
“Já fizemos isso, começamos pequenos e abortamos, e eu conheço todos os técnicos que estão trabalhando com ele e…”, afirmou Ometto sem completar a frase para risos da plateia. “Projeto de powerpoint”, emendou Esteves.
Ometto afirmou que empresas estão pagando caro para produzir e cobrou a pressão sobre as autoridades. “Vamos lutar, fazer, ficar perto das autoridades e nosso papel é passar a liderança aos políticos para guiar o País. É pressão mesmo, não só aconselhamento”, concluiu.