Piracicaba (SP) - Os CEOs do agronegócio brasileiro estão pessimistas, pelo menos com a saúde financeira do próprio negócio.
É o que mostra um recorte da 27ª Global CEO Survey, pesquisa com 4,7 mil CEOs realizada pela gigante internacional de consultoria PwC e que foi apresentada a jornalistas no AgTech Innovation, em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Segundo o levantamento, apenas 35% dos CEOs do agronegócio brasileiro estão projetando um crescimento de receita das suas empresas nos próximos 12 meses. Na edição da pesquisa realizada no ano passado, o percentual era de 78%.
Além disso, a confiança de líderes do setor para crescimento de receitas num horizonte de três anos caiu de 70% em 2023 para 57% em 2024.
Outro ponto levantado pela pesquisa, e que foi destacado por Maurício Moraes, líder global de Agribusiness na PwC, é a quantidade de empresários que acreditam que o negócio pode continuar do mesmo jeito que está na próxima década.
Segundo a pesquisa, somente 31% dos CEOs do agro brasileiro acreditam que, na trajetória atual, suas empresas se manterão viáveis além da próxima década.
“Entendemos que é preciso uma reinvenção e que os CEOs entendam os modelos, revisitem estratégia e tragam inovação e novas tecnologias. É importante esse entendimento dos consumidores e a nova dinâmica de mercado que existe hoje para se reposicionar ou migrar o modelo de negócio”, afirmou Moraes.
O número, apesar de maior que os 23% apurados no ano passado, é menor do que no recorte entre os CEOs de todos os segmentos, 41%. No mundo, 45% dos CEOs já duvidam da viabilidade de manter suas empresas como estão.
De acordo com a PwC, essa dúvida em relação ao futuro é colocada por conta da disrupção tecnológica, as mudanças climáticas e “outras megatendências globais em aceleração que continuam a forçar os CEOs a se adaptarem”.
“Em comparação com os últimos cinco anos, os CEOs preveem que alterações associadas à tecnologia, às preferências dos consumidores e ao clima, entre outras, terão impacto muito maior na forma como criam, entregam e capturam valor”, afirma a PwC.
Os presidentes de empresas do agro nacional ainda estão mais atentos que os demais às mudanças climáticas. Segundo o estudo, 71% desses executivos enxergam uma mudança na “criação, entrega e captura de valor” para os próximos três anos em decorrência do fenômeno. Sem o recorte por segmento, são apenas 29%.
“No agronegócio, a crescente importância de tendências como novas tecnologias é acompanhada por um aumento expressivo da percepção dos CEOs sobre a exposição às mudanças climáticas (de 43%, em 2023, para 54%, em 2024), em um movimento que contrasta com o registrado na média brasileira (que caiu de 17%, em 2023, para 16%, em 2024)”.
Nesse sentido, 89% dos CEOs do agronegócio brasileiro relataram à PwC que já possuem esforços em andamento ou já concluídos para melhorar a eficiência energética e inovar em produtos e serviços com baixo impacto climático.
No setor do agronegócio, 71% desses CEOs esperam que as mudanças climáticas transformem a maneira como suas empresas vão criar, entregar e capturar valor ao longo dos próximos três anos – em comparação com apenas 29% quando levado em conta executivos brasileiros de todos os setores.
“Isso pode explicar parcialmente por que 37% dos executivos da indústria do agronegócio afirmam que as empresas estabeleceram taxas mínimas de retorno para investimentos de baixo impacto climático menores do que para outros investimentos”, afirma o estudo.
Apesar dos executivos do agro nacional estarem de olho nas mudanças climáticas, apenas metade dos entrevistados já possui ações em andamento para incorporar esses riscos no planejamento financeiro, mesmo após um ano de El Niño seguido de três temporadas marcadas pela La Niña.
Maurício Moraes considera esse percentual baixo e acredita que uma das saídas para melhorar o número é trazer os diretores financeiros para essa agenda, de forma a entender, na ponta do lápis, como o clima impacta a saúde financeira.
“Deveríamos ter uma captura de riscos climáticos maior dentro desse planejamento financeiro das empresas. É um índice que me chamou a atenção”, comentou.
A disrupção tecnológica causada pelo avanço da Inteligência Artificial (IA) está no radar de vários setores da economia. A adoção dessa tecnologia no agronegócio e a adaptação da estratégia tecnológica para lidar com essa inovação, contudo, é menor que a média geral das empresas nacionais.