O Brasil apresenta condições desafiadoras para a longevidade de uma empresa, de qualquer setor. Quando uma companhia consegue atingir a marca centenária, chama a atenção.
Nesta segunda-feira, dia 22 de janeiro, a Suzano, uma das gigantes globais em produção de celulose e papel, completa exatamente 100 anos de existência. E buscando nas florestas de eucalipto sua principal matéria prima, fôlego para os próximos 100.
Pouco antes da entrada de 2024, a companhia anunciou, por exemplo, a aquisição de mais 70 mil hectares de florestas que pertenciam às sociedades de propósito específico (SPEs) Timber VII e Timber XX, pertencentes à BTG Pactual Timberland Investment Group, subsidiária do BTG Pactual, por R$ 1,826 bilhão.
Com o valor pago pela área, no estado do Mato Grosso do Sul, a Suzano também elevou os valores previstos para investimento (Capex) no ano do centenário de R$ 14,6 bilhões para R$ 16,5 bilhões.
Os valores incluem, regularmente, recursos para um trabalho muitas vezes invisíveis, mais que tem ajudado a garantido a preservação e a evolução dos negócios da empresa: a inovação na sua área agrícola.
Para enfrentar desafios como mudanças climáticas e um descasamento entre o crescimento da demanda e da oferta de celulose, a Suzano mira no aumento da produtividade.
“O plano é aumentar o índice que chamamos de Incremento Médio Anual (IMA), com mais metros cúbicos de madeira e mais toneladas de celulose por hectare”, afirma Carlos Anibal Almeida, diretor executivo de Operações Florestais da Suzano.
Para isso, a empresa investe em diversas frentes de pesquisa e desenvolvimento, sobretudo nas que envolvem a biotecnologia, com o melhoramento genético das plantas.
Fernando Bertolucci, diretor de Inovação, Pesquisa e Sustentabilidade da Suzano, conta que a companhia tem registrado avanços relevantes em um programa de clonagem de eucalipto para chegar em uma planta mais eficiente na relação entre volume de madeira e produção de celulose.
“Temos hoje 10 mil clones em avaliação, que vão dar origem aos próximos ciclos de plantio. Vão ser os pais dos próximos clones. Fazemos uma seleção recorrente”, conta o executivo.
A Suzano está indo da quinta para a sexta geração de clones de eucaliptos e, segundo Bertolucci, esse é só o começo do processo de melhoramento genético. “Se pegar os trabalhos que são feitos com milho nos Estados Unidos, uma cultura que tem estrutura parecida com o eucalipto, alguns já estão com 120 gerações”.
Bertolucci afirma que o trabalho da Suzano para melhorar a produtividade em suas florestas começou ainda na década de 1960, mas que a tecnologia desenvolvida acelerou muito os resultados nos últimos anos.
“Quando a Suzano começou esse trabalho, a produtividade de celulose girava entre 5 a 6 toneladas por hectare ao ano. Hoje, esse IMA é quase o dobro, ficando entre 10 e 11 toneladas por hectare”, diz Bertolucci.
Outro dado relevante para medir a produtividade é a quantidade de madeira necessária para produzir 1 tonelada de celulose.
“Conseguimos diminuir essa relação de 4,2 metros cúbicos para ter uma tonelada de celulose para algo próximo de 3,5 metros cúbicos”. De cara, o avanço pode parecer pequeno.
Mas a conta fica bem mais expressiva quando se fala dos volumes envolvidos nas operações da companhia. A Suzano deve fechar 2024 com 1,67 milhão de hectares de eucaliptos plantados, além de 1,2 milhão de área de florestas preservadas.
Almeida afirma que, após as aquisições de terras feitas nos últimos anos, a Suzano já tem toda a base fundiária para atender sua produção de celulose.
Somente no Mato Grosso do Sul, a unidade de Três Lagoas tem capacidade para produzir mais de 3 milhões de toneladas de celulose ao ano. O Projeto Cerrado, que envolve a construção de uma nova fábrica em Ribas do Rio Pardo, terá capacidade para 2,5 milhões de toneladas.
Além da produção, a unidade de Ribas do Rio Pardo, que está programada para ser concluída neste ano, tem relevância para outro ponto estratégico na Suzano.
Segundo o diretor de Operações Florestais, a companhia tem uma meta de diminuir o raio médio de distância entre as florestas e as fábricas de celulose, dos atuais 200 quilômetros para 150 quilômetros, entre 2029 e 2032.
Nesse sentido, o Projeto Cerrado vai ter papel fundamental. “Lá, o raio de distância entre floresta e fábrica vai ser de 65 quilômetros. É um marco não só para a Suzano, mas para o setor”, diz Almeida.
Laboratórios anti-pragas
Outro grande desafio enfrentado pelas grandes fabricantes de papel e celulose é o combate às pragas, que ficou ainda mais difícil com os efeitos das mudanças climáticas.
Almeida cita um caso concreto para mostrar que a questão já tem impactos nas operações das companhias. “No Canadá, houve um caso de besouro da montanha praticamente destruindo as florestas de pinus”, conta o executivo.
Ao entrar neste tema, Bertolucci conta que a Suzano tem colocado em prática soluções que ao mesmo tempo combatem as principais pragas que atacam as florestas plantadas, e não agridem o ecossistema das áreas preservadas.
Bertolucci afirma que a companhia tem hoje quatro laboratórios voltados para criar inimigos naturais destas pragas.
“Já produzimos cerca de 140 milhões de indivíduos nestas unidades. Desde insetos a parasitas de ovos. À medida que a população de pragas diminui, a população desses inimigos naturais também cai. Isso garante o equilíbrio do ecossistema, sem solucionar um problema criando outro”, conta o executivo.
Ainda sobre a plantação sustentável de florestas, Bertolucci conta que a Suzano implementa a silvicultura de precisão, algo que não é muito comum dentro do setor. “Nòs fazemos o mapeamento do solo, com um sistema proprietário que faz um balanço nutricional de cada área”.
Com os dados em mãos, a Suzano consegue fazer uma reposição nutricional do solo, com um tipo de adubação diferente em cada bloco das florestas.
Bertolucci afirma que um dos trunfos da Suzano para continuar seus trabalhos de inovação é a consistência dos investimentos.
“A Suzano investe 1% do seu faturamento todo ano. Esse valor não é alterado, não importam as condições de mercado. E é um diferencial também, já que no setor, essa média fica em torno de 0,4% do faturamento”.