Dizem que na agricultura, cada safra conta uma história diferente. Na Caramuru Alimentos, uma das maiores processadoras de grãos e produtora de óleos vegetais do País, o capítulo da safra de inverno vem ganhando traços mais floridos há algumas safras.

A empresa tem reforçado sua aposta no girassol como segunda cultura e notou um crescimento tanto na área plantada quanto na originação da oleaginosa florida na temporada 2023/2024.

De acordo com a empresa, houve um crescimento de 3% em área total plantada dos produtores que vendem para a companhia, chegando a 47,8 mil hectares nesta safra.

Ao todo, a empresa deve receber 72 mil toneladas de girassol, 7% acima das 67 mil toneladas da safra passada. Na safra 2022/23, foram 46,3 mil hectares plantados.

Túlio Ribeiro, gerente do negócio de girassol na Caramuru, explica que a aposta na oleaginosa, ao invés do grão de milho, se dá por uma questão econômica.

Segundo Ribeiro, o cultivo de girassol na segunda safra demanda menos investimentos do que o milho, por exemplo. Nos cálculos dele, enquanto o girassol demanda um investimento de R$ 1,6 mil por hectare, o milho custa cerca de R$ 3 mil.

Além disso, em tempos de instabilidade climática, o girassol tolera melhor o tempo mais seco. Nos cálculos da Caramuru, enquanto o milho precisa de 600 milímetros de chuva para se desenvolver, o girassol precisa de 250 milímetros.

Os impactos do El Niño na safra serviram para mudar um pouco o perfil do recebimento do girassol por parte da Caramuru. A empresa origina os girassóis de cerca de 250 produtores espalhados pelo estado de Goiás, no sul, leste e sudoeste do estado, e na região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais.

Como o girassol é uma cultura de inverno, plantada depois da soja na maioria dos casos, o atraso no plantio da primeira safra alterou a dinâmica da segunda.

Ribeiro conta que, usualmente, na região sudoeste do estado, a soja é plantada entre outubro e a primeira quinzena de novembro, enquanto que na parte sul e leste do estado, é plantada ao longo de novembro.

Nessa safra, houve um atraso considerável no sul e no leste do estado, com sojicultores plantando o grão até dezembro. Dessa forma, a “safrinha” de girassol, que tem seu período de plantio ideal entre 15 de fevereiro e 15 de março, atrasou nessas áreas.

“Notamos um crescimento de área na região sudoeste de Goiás, que é a região que tinha janela mais adequada. Saímos de 8 mil hectares para 18 mil hectares nesta safra de girassol nessas áreas. Isso serviu para cobrir, com certa sobra, a perda de área nas outras regiões”, contou.

Na parte sudoeste do estado, a empresa conta com uma unidade de armazenamento em Rio Verde. Segundo Ribeiro, até a safra passada, a empresa recebia tanto milho quanto girassol na época de plantio de inverno. Neste ano, a instalação só recebeu girassol.

Durante essa safra, o executivo também mencionou que notou um aumento da área média dos produtores parceiros da Caramuru. Enquanto historicamente cada produtor que fornece os grãos para a empresa tinha uma propriedade de 150 a 200 hectares, na média, agora a área ultrapassou os 250 hectares.

Segundo ele, produtores mais estruturados estão absorvendo a área de pequenos fazendeiros. “Com as mudanças climáticas, é importante que o produtor faça um bom manejo e construa o perfil de solo. Isso custa investimento e nisso os pequenos são absorvidos”, diz.

Para a próxima safra, o El Niño dará lugar a La Niña, algo que historicamente traz um cenário de cultivo mais favorável ao Centro-Oeste, com chuvas mais bem distribuídas. Nesse cenário, Túlio Ribeiro acredita que a área plantada dos produtores parceiros da empresa deve crescer ainda mais.

Além do contrato de compra, Túlio Ribeiro garante que a Caramuru possui uma relação próxima com os produtores. Além de um apoio técnico do plantio à colheita prestado por engenheiros agrônomos da empresa, a companhia compra sementes e fornece aos produtores sem margem de lucro, subsidiando a produção.

O balanço da Caramuru

Para além da foto do momento cheia de flores, a Caramuru, assim como qualquer outro player do agro, enfrenta os desafios da queda do preço dos grãos no mercado externo.

Em 2023, a empresa somou um faturamento líquido de R$ 7,5 bilhões, redução de 12% frente ao visto em 2022.
Segundo a empresa, em balanço, essa diminuição foi impulsionada principalmente por preços menores na venda dos biocombustíveis e nas vendas B2C, que englobam a comercialização de óleos de cozinha para supermercados como Carrefour e Grupo Mateus.

Mesmo com mais volume vendido, o preço de venda dos biocombustíveis recuou 31% de 2022 para 2023 e o das vendas B2C, em 20%.

O lucro líquido da Caramuru em 2023 atingiu os R$ 239 milhões, queda de 31% na comparação com 2022, quando anotou R$ 348 milhões

Em 2023, a empresa vendeu 2,49 milhões de toneladas de produtos, um aumento de 7,7% frente a 2022. Ao todo, foram originadas 2,8 milhões de toneladas de soja, milho e girassol, em linha com o visto em 2023.

Desse montante, foram 2 milhões de toneladas de soja, 66 mil toneladas de girassol e 740 mil toneladas de milho em 2023.

A empresa é a sétima maior do país em processamento de soja, com capacidade anual para processar 2 milhões de toneladas da oleaginosa e 230 mil toneladas de capacidade de refino de óleos de soja, milho, girassol e canola.

Também é a segunda maior do País no processamento de milho, com capacidade anual de 470 mil toneladas de processamento para o grão. Além disso, produz 550 milhões de litros de biodiesel por ano, o que a coloca na sexta posição do ranking nacional.