Demorou um ano, mas aconteceu. Nesta quarta-feira, 25 de setembro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, por unanimidade, a aquisição pela Minerva de algumas plantas de abate e desossa focadas em carne bovina e ovina da Marfrig.

O negócio – que envolve a venda de 16 plantas (sendo 11 no Brasil e o restante em outros países da América Latina) e foi estimado em R$ 7,5 billhões – foi anunciado em agosto do ano passado e, desde então, foi precificado pelo mercado: bom negócio para a Marfrig, um movimento duvidoso para o Minerva.

A decisão do Cade não mudou o cenário. Logo após o anúncio do órgão antitruste, os papéis da Marfrig e da Minerva tinham posturas diferentes nas negociações em balcão na B3, mas seguindo a mesma lógica observada durante o período em que o caso esteve em análise.

Enquanto o papel da empresa de Marcos Molina, a vendedora, subia 1%, a ação da concorrente compradora recuava 1%.

A performance segue o tom do que foi o último ano: desde o anúncio da transação, o papel da Marfrig já dobrou de preço, enquanto que a ação da Minerva recuou quase 20%.

Além de bons desempenhos da controlada BRF, o mercado vê a transação mais favorável à Marfrig do que à Minerva, já que a empresa estaria se desalavancando, e a concorrente, entrando no caminho oposto.

Já a indefinição do momento em que a compradora passaria a operar as plantas deixou o mercado, para a Minerva, em stand-by, esperando a aprovação do Cade. Resta agora à companhia mostrar para os investidores que fez um bom negócio.

É possível que nos próximos meses, com a Minerva passando a operar nas unidades e colocando o resultado dessa operação no balanço, analistas de mercado reavaliem sua posição em relação à empresa. A expectativa da Minerva com a compra é aumentar sua produção em 50%.

Na opinião da Ativa Investimentos, de um lado a Minerva se consolida como um dos maiores players da América Latina e tem agora o trabalho de integrar as operações e entregar o guidance. “Por outro lado, a companhia pressiona sua estrutura de capital e seu payout, algo que o mercado já olhou de forma negativa”.

No anúncio desta quarta-feira, os conselheiros do Cade seguiram na íntegra o voto do relator do processo, Carlos Jacques, que considerou não haver maiores preocupações concorrenciais com efetivação da operação.

Eles impuseram poucas medidas de ajuste (os chamados remédios) para dar ok à transação. Dentre elas, a Minerva terá que vender, em até 12 meses, uma planta de abate em Pirenópolis (GO). A unidade está desativada desde 2010, e já foi um frigorífico da Marfrig.

Segundo o Cade, o objetivo é “reduzir riscos de concentração excessiva em Goiás”. As expectativas são de que a Minerva assuma as plantas a partir de outubro.

Já a Marfrig não poderá comprar novos frigoríficos nos estados em que vendeu unidades (Pará, Rio Grande do Sul, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Goiás).

Mesmo sem poder comprar unidades nesses estados, a Marfrig obteve liberação para ampliar a capacidade de sua planta em Várzea Grande (MT) e em Promissão (SP).

Na avaliação de Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da XP, os remédios impostos tem pouco impacto econômico no deal.

“O prazo de venda da fábrica em Goiás pode passar de um ano e, caso não apareçam compradores ou a oferta não seja razoável, pode acabar não acontecendo”.

A XP já trabalhava com um cenário de poucas medidas restritivas e possui uma postura neutra frente às ações das empresas listadas na Bolsa. “Estamos neutros nas duas empresas, uma vez que vemos um cenário mais desafiador em termos de alavancagem”.

Para Alencar, a venda de ativos é uma faca de dois gumes para a Marfrig. Se de um lado a empresa ganha caixa num momento em que a BRF decola, a menor exposição ao ciclo favorável do gado bovino pode diminuir ganhos nos próximos meses.

Em relação à Minerva, Alencar acredita que a empresa pagou “mais do que o valor justo pelos ativos”. O analista acredita que ainda há tempo da companhia capitalizar o momento de ciclo favorável do gado e projeta que a alavancagem maior da empresa pode pressionar o valor da companhia.