Pela primeira vez depois de sete trimestres consecutivos, a Bunge desapontou os analistas que acompanham suas ações, negociadas na bolsa de Nova York.
A trader de commodities agrícolas – sediada nos Estados Unidos, mas uma gigante com operações globais e forte presença no Brasil – anunciou nesta quarta-feira seus resultados para o segundo trimestre de 2024. E eles vieram 10% abaixo da expectativa do mercado e da própria companhia.
Um dia depois de outra gigante do setor, a ADM, também apresentar um balanço aquém do esperado, a Bunge responsabilizou o excesso de oferta de grãos em todo o mundo pela redução de seus lucros.
Isso empurrou os preços das commodities para baixo, o que costuma ser positivo para compradores. Mas também provou outros efeitos no mercado que desfavorecem seus negócios.
O primeiro foi uma atitude mais conservadora dos produtores, que têm segurado suas safras à espera de cotações melhores e, assim, diminuindo os volumes negociados com as traders.
O segundo, de acordo com explicações do CEO, Gregory Heckman, em teleconferência com analistas, é que também os consumidores foram menos ávidos, reduzindo suas compras ao mínimo necessário para atender suas necessidades.
No comunicado que acompanha os resultados, a Bunge afirmou que as cifras "refletem um ambiente de oferta global mais equilibrado". Os números mostram, no entanto, um nivelamento por baixo, em um momento em que, aparentemente, ninguém está ganhando.
Em termos de receita, o balanço traz um total de US$ 13.24 bilhões. O lucro líquido da empresa no trimestre ficou em US$ 70 milhões, pouco mais de 11% do obtido no mesmo período do ano passado. Olhando para o semestre, a queda é de 75%. Foram US$ 314 milhões, contra US$ 1,25 bilhão em 2023.
Entre as diferentes áreas de atuação da Bunge, houve uma redução pela metade nos lucros com comércio e processamento de oleaginosas. E de 78% no segmento de grãos como milho e trigo, mesmo com aumento de volumes negociados, quando comparados com os do segundo trimestre de 2023.
“O mercado está muito mais spot”, disse Heckman aos analistas. "Isso coloca pressão nas margens até que voltemos ao equilíbrio. Acho que estamos chegando bem perto disso agora."
Há alguns bom sinais pela frente, na visão da empresa, e outros pontos em que, segundo o próprio comunicado, há "muito pouca visibilidade" sobre quais serão as condições na última parte do ano.
De positivo, há uma expectativa de que o segmento de processamento de óleos tenha margens mais favoráveis nos próximos trimestres.
Além disso, Heckman disse estar otimista com a aprovação da bilionária aquisição da Viterra, já autorizada pelo Cade no Brasil, mas ainda pendente de sinal verde por autoridades regulatórias na Europa, no Canadá e na China.
"Nossa equipe entregou resultados sólidos para o segundo trimestre, ao mesmo tempo que avançamos numa série de prioridades estratégicas, incluindo o anúncio da venda de nosso interesse na joint venture BP Bunge Bioenergia”, disse, referindo-se às operações de açúcar e etanol no Brasil.
“O processo de planejamento de integração para Viterra está progredindo bem e a equipe está entusiasmada com as oportunidades que a combinação criará para nossos funcionários, clientes e outras partes interessadas importantes”.
Com exceção da venda da participação no negócio sucroenergético, não há menções específicas ao Brasil no release de resultados. Nesse segmento, a companhia aponta que as operações brasileiras puxaram para baixo os números globais.
A América do Sul aparece, entretanto, nas notas que acompanham as tabelas demonstrativas dos números dos diferentes segmentos, em geral justificando um desempenho inferior ao previsto.
No negócio de processamento de grãos, por exemplo, a companhia observa que os “resultados mais elevados no esmagamento de soja e sementes moles na Europa foram mais do que compensados por resultados mais baixos nas Américas do Norte e do Sul e na Ásia”.
Observação semelhante aparece após os dados do negócio de óleos refinados e de especialidades, apontando que o mau desempenho nas Américas consumiu as melhores margens obtidas na Ásia.