Dizem que mudar os rumos de uma empresa gigante dentro de qualquer setor é como mudar a direção de um navio transatlântico - ou seja, difícil e demorado. A BRF é uma gigante global do setor de proteína animal e, dois anos depois do início de mudanças de gestão, operacionais e de controle, os resultados aparecem.

As mudanças, ressaltadas inclusive pelo CEO da BRF, Miguel Gularte, levaram a BRF a ter o maior lucro da história em um primeiro trimestre neste início de 2024. Foram R$ 594 milhões de resultado líquido, ante prejuízo de R$ 1 bilhão no mesmo período de 2023.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi 3,5 vezes superior ao registrado nos três primeiros meses de 2023, superando os R$ 2 bilhões, também recorde para um primeiro trimestre.

“Nós fechamos o mês de março com um endividamento de R$ 9 bilhões e com uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 1,45 vez, o menor nível dos dois indicadores nos últimos oito anos”, ressaltou Fabio Mariano, vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da BRF.

Tudo isso, segundo os executivos, fruto da combinação de melhora de preços em todos os mercados de atuação da companhia, tanto nos produtos in natura quanto nos processados, e dos resultados do programa de eficiência que começou a ser executado após a chegada de Marcos Molina, controlador da Marfrig, à presidência do conselho de administração da BRF, em abril de 2022.

O resultado do trabalho para tornar a BRF uma empresa lucrativa é reforçado quando se olha a receita líquida da companhia. No primeiro trimestre, foram R$ 13,4 bilhões, muito parecido com os R$ 13,2 bilhões atingidos um ano antes.

No entanto, o preço médio total por quilo dos produtos vendidos subiu R$ 11,20 para R$ 11,60, enquanto o custo dos produtos também por quilo caiu 10% em um ano, de R$ 9,78 para R$ 8,80, principalmente pela queda nos preços dos grãos usados em ração. Assim, a BRF conseguiu mais que triplicar sua margem Ebitda, passando de 4,6% para 15,8%.

No lado da eficiência, o programa BRF+ conseguiu capturar R$ 438 milhões em melhoras dos processos operacionais. Segundo a companhia, houve queda de 1 ponto percentual nos níveis de mortalidade de frango em relação ao primeiro trimestre de 2023 e recuo de quase 3% na conversão alimentar, ou seja, no volume de ração necessário para aumentar em um quilo o peso do animal.

“Nós investimos muito nesse programa e ele se transformou em um acompanhamento semanal dentro da companhia. Até o ano passado, utilizamos como referência os indicadores de 2019. Agora, a partir de 2024, a referência é a unidade produtiva com melhor resultado em cada indicador”, conta Gularte.

No Brasil, as receitas da BRF recuaram 4% em relação ao primeiro trimestre de 2023, para pouco mais de R$ 6 bilhões. No entanto, com a margem Ebitda quase dobrando, saindo de 8% para 15,1%, o Ebitda ajustado do mercado doméstico cresceu 81%, para R$ 931 milhões.

“Conseguimos aumentar em 7 mil o número de pontos de venda neste primeiro trimestre, com maior presença nas lojas e melhor posicionamento nas gôndolas dos supermercados”, afirma Mariano.

No segmento internacional, houve avanço de 5,5% nas receitas, para quase R$ 6,5 bilhões no primeiro trimestre de 2024. A margem Ebitda saiu de negativa em 1,7% no mesmo período de de 2023 para positiva em quase 17% neste ano, o que resultou em um Ebitda ajustado de quase R$ 1,1 bilhão, contra resultado negativo de R$ 106 milhões no ano passado.

Nos mercados externos, houve uma melhora do preço médio, passando de R$ 11,48 para R$ 12,13 por quilo. Os custos dos produtos por quilo caíram mais de 13% em um ano, e fecharam o primeiro trimestre em R$ 9,33.

No mercado Halal, os preços foram impulsionados pela maior demanda resultante das celebrações do Ramadã. De modo geral, a BRF conseguiu mais 25 habilitações para vender seus produtos em diversos mercados, se juntando às 66 habilitações realizadas em 2023.

Rio Grande do Sul

Sobre a situação das unidades do Rio Grande do Sul, Gularte confirmou as informações apuradas pelo AgFeed na segunda-feira, dia 6, de que as cinco unidades estão operando normalmente a partir desta terça.

“Importante ressaltar que, nestes dias de retomada, a falta de funcionários foi menor que a média, mesmo com todas as dificuldades de locomoção”, afirma o CEO da BRF.

Nas fábricas de rações, das quatro unidades que a companhia possui no estado, uma ainda está com atividades suspensas. A expectativa, segundo Gularte, é que esta fábrica volte a operar até o final da semana.

Sobre o aumento nos preços dos grãos visto nos últimos dias, com a expectativa de perda de produção principalmente na soja no estado, Leonardo Dallorto, vice-presidente de Mercado Internacional e Planejamento, projeta que o impacto não deve ser tão grande.

“A maior parte dos 5 milhões de toneladas que ainda precisam ser colhidos está na região sul do Rio Grande do Sul, que não foi muito atingida pelas chuvas. E no balanço total do mercado, as perdas nas regiões mais atingidas não devem ter impactos muito fortes. A tendência é que o preço caminhe para uma estabilidade”, afirma Dallorto.