Uma nova gigante global do agronegócio pode tomar forma nos próximos meses, e o Brasil pode estar no centro das negociações.
A Viterra, empresa de origem canadense que é controlada pela suíça Glencore, anunciou conversas iniciais para uma possível fusão com a norte-americana Bunge. As duas companhias são líderes mundiais em comercialização de grãos.
Para Alex Issa, diretor executivo da CJ International Brazil, que atua na comercialização de commodities agrícolas no Brasil, o país está no centro dos interesses da Glencore na Bunge.
"Posso dizer que é a principal motivação para este movimento da Glencore, por meio da Viterra. Estão interessados na infraestrutura gigante que a Bunge tem no Brasil", diz Issa.
Segundo dados da própria companhia, a Bunge tem mais de 100 unidades no Brasil, entre fábricas, moinhos, usinas, silos, centros de distribuição e portos, com mais de 7 mil funcionários.
De acordo o diretor da CJ, a Bunge continua fazendo movimentos de expansão no Brasil. "Essa fusão mostra que o setor é muito forte. Demonstra na prática todo o valor que o agronegócio tem", diz Issa.
Por outro lado, ele mostra cautela sobre como ficará o mercado com a atuação da gigante que será formada após a transação. "Acredito que vamos passar por uma consolidação ainda maior, e o mercado tende a ficar mais concentrado no segmento de comercialização de grãos". Issa projeta inclusive dificuldades para que a operação seja aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade.
No ano passado, Bunge e Viterra comercializaram, somadas, quase 180 milhões de toneladas de grãos no mundo inteiro. Entre as commodities negociadas pelas empresas estão soja, milho, trigo e cevada.
No relatório anual referente a 2022, o diretor financeiro da Viterra, Peter Mouthaan, disse que as produções recordes vistas em países como Brasil, Austrália e Canadá impulsionaram os números da empresa, e compensaram os problemas enfrentados pela Argentina.
No ano passado, a companhia fechou a segunda maior aquisição de sua história com a compra da unidade de grãos da norte-americana Gavilon por US$ 1,1 bilhão, além da injeção de US$ 1,8 bilhão em investimentos na companhia.
A Viterra fechou o ano passado com 102 milhões de toneladas em grãos comercializados, com uma receita total de US$ 54 bilhões, e lucro líquido superior a US$ 1 bilhão.
Por sua vez, a Bunge, empresa de capital aberto com ações negociadas em Nova York, fechou o ano passado com 77,5 milhões de toneladas de grãos comercializados, uma queda de 7,7% em relação a 2021.
No primeiro trimestre deste ano, a tendência de queda nas vendas de grãos continuou, de 8,4%, para 18,3 milhões de toneladas. A empresa lucrou US$ 632 milhões, ou US$ 4,15 por ação entre janeiro e março deste ano, ante US$ 688 milhões, ou US$ 4,48 por ação em 2022.
Segundo a Bunge, a piora nos números do primeiro trimestre de 2023 se deve principalmente à queda nos preços da soja.
“Houve melhora nos desempenhos das operações no Brasil e na América do Norte, que se beneficiaram da maior demanda das empresas de proteína animal e produtoras de óleo. Mas estes números positivos não foram suficientes para compensar os resultados piores na Argentina, Europa e Ásia”, comentou a Bunge em seu relatório trimestral.
Mesmo com o primeiro trimestre abaixo do esperado, a Bunge espera entregar lucro de pelo US$ 11 por ação ao final de 2023. “No agronegócio, a depender das condições do mercado nos próximos trimestres, podemos ter uma melhora”, diz a Bunge.