Campo Verde (MT) - Segunda maior empresa agrícola do Brasil em área plantada, a Bom Futuro, do empresário Eraí Maggi Scheffer, prepara-se para colher mais energia e até fertilizantes verdes.

Além dos grãos, fibras e pecuária, o grupo tem feito investimentos em projetos de geração, como a ampliação do parque fotovoltaico ou a construção de duas novas hidrelétricas. Também estuda a produção e utilização de fertilizantes mais sustentáveis, como o hidrogênio verde.

Em entrevista ao AgFeed, o gerente de parcerias da Bom Futuro, Nahzir Okde, revelou que a visão da empresa é "olhar cada vez mais para projetos de energia renovável", o que inclui avaliar o uso – e talvez a produção – de matérias-primas como a amônia verde e o hidrogênio verde, temas que já vêm mobilizando investimentos por parte de grandes indústrias de fertilizantes.

Sobre a energia fotovoltaica, o executivo disse que a empresa hoje já conta com 3 usinas em funcionamento, com 11,4 megawatts de potência cada uma.

"Mais duas estão sendo prospectadas, levando em conta o aproveitamento das estruturas de distribuição existentes. A tendência é continuar investindo", afirmou.

Okde não revela qual o investimento total já feito nem o que vai ser desembolsado nesta ampliação. Ele explica que a energia gerada, caso não seja toda utilizada pelas próprias fazendas da Bom Futuro, será disponibilizada "ao agente regulador nacional” (de energia elétrica).

Outra aposta da Bom Futuro em energia renovável é a construção e aquisição das chamadas PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas. A empresa se diz “uma das maiores em geração distribuída no Brasil, com 865.163 MWh/ano e capacidade de atender 1,5 milhão de habitantes".

Atualmente, são 11 usinas deste tipo em operação. O executivo da Bom Futuro informou que mais duas estão sendo construídas, todas em Mato Grosso, “com o início da geração de energia em 2024”.

A Bom Futuro contabiliza 645 mil hectares em produção, o que inclui as áreas de soja, milho, algodão e pecuária. Esta área mantém a empresa entre as três maiores do país, ficando muito perto do primeiro lugar, a SLC Agrícola, que plantou cerca de 670 mil hectares na safra que está terminando.

Estima-se que a terceira seja a área plantada pela Amaggi, que tem entre os sócios o ex-ministro Blairo Maggi, mas ainda em patamar inferior a 400 mil hectares.

Neste cenário, a empresa de Eraí Scheffer é disparada uma das maiores consumidoras de fertilizantes do agro nacional, um tema que também está entre as prioridades do grupo.

"Hoje, quando se fala em amônia verde, tem muita coisa sendo prospectada e nós iniciamos alguns estudos para ter um entendimento efetivo desta produção, deste fertilizante nitrogenado vindo de fonte limpa", afirmou Okde.

O executivo admite que “há algumas prospecções de negócios sendo feitas, mas ainda longe de serem concretizadas" neste segmento. Okde mencionou, sem dar mais detalhes, que entre os projetos que merecem ser estudados está a produção de hidrogênio verde, na Bahia.

O projeto conhecido na Bahia nesse sentido é um anúncio feito em 2022 pela Unigel para a construção de uma fábrica no polo petroquímico de Camaçari.

Na época, a indústria de fertilizante anunciou um investimento inicial de US$ 120 milhões para, na primeira fase, produzir 10 mil toneladas por ano de hidrogênio verde.

Esse volume deveria ser convertido em 60 mil toneladas de amônia verde, substância que pode ser usada como matéria-prima para a produção de fertilizantes e acrílicos, ou vendida diretamente a clientes que buscam reduzir as emissões de carbono nas operações.

Sem comentar qualquer relação com o projeto baiano, a Bom Futuro apenas sinaliza que é grande consumidora de nitrogenados e que pretende seguir avançando em tecnologias que reduzam o uso de matérias-primas de origem fóssil, inimigas das iniciativas que visam a agricultura de baixo carbono.

Nas lavouras de milho – que totalizaram quase 99 mil hectares entre primeira e segunda safra 2023 - a empresa utiliza em média 150kg de ureia por hectare, por isso a avaliação de que há uma grande oportunidade em adotar tecnologias que reduzam o uso de nitrogenados.

Os projetos com foco em sustentabilidade e redução de carbono tem sido prioridade na Bom Futuro. Recentemente, uma das fazendas do grupo, em Matupá-MT, foi palco da primeira entrega de soja brasileira com pegada de carbono mensurada, rastreada e livre de desmatamento. O projeto é uma parceria com a Bayer, a Embrapa e a ADM.

O gerente de parcerias da Bom Futuro disse ao AgFeed que a empresa está acelerando este processo porque quer estar pronta para as mudanças que seguem ocorrendo em ritmo acelerado quando o assunto são as exigências ambientais internacionais e o mercado de carbono.

Super safra X desafio logístico

Enquanto avança em programas socioambientais, a Bom Futuro comemora os bons resultados da safra 2022/2023.

A colheita do milho em uma das áreas da empresa em Campo Verde ocorre das 6h as 22h e a produtividade supera 190 sacas/hectare em alguns talhões.

Considerando toda a área de milho da empresa, 68% já foram colhidos, com média 138 sacas/hectare, bem acima da safra anterior.

No algodão, algumas regiões do estado estão mais avançadas, porém, no total, a colheita chega em 4%.

"Mas desta vez, ao contrário da safra passada, o clima foi bem mais favorável para a produtividade e qualidade do algodão", destaca Nahzir Okde.

A produtividade esperada para o algodão em caroço é de 308 arrobas por hectare em 2023, enquanto a média histórica é de 286 arrobas.

Com isso, a expectativa é colher 725 mil arrobas de caroço, o que poderá ser a maior safra de algodão da história da Bom Futuro.

O AgFeed acompanhou a colheita de algodão na fazenda do grupo em Campo Verde, como parte de um road show realizado pelo Sindicato Rural de Cuiabá.

Sobre os desafios de logísticos, principalmente de armazenagem, na safra 2022/2023, na visão da empresa o problema no país existe e, quando uma trading não consegue receber uma carga por falta de espaço, isso afeta a todos.

Porém, segundo Okde, "aquelas cenas que se vê em Mato Grosso, de milho a céu aberto, não ocorrem na Bom Futuro, porque conseguimos ter um planejamento e aumentar a velocidade de processamento”.

A capacidade própria de armazenagem da Bom Futuro é de 62% de sua produção, que no caso da soja e milho hoje é de 1,98 milhão de toneladas.

"Precisamos ter uma logística muito bem acertada e este é um dos motivos para termos investido numa transportadora própria. Buscamos ter assertividade em esvaziar o armazém na hora correta, fazer o produto chegar no porto na hora correta, e os insumos chegarem na hora certa também", explicou.

O último investimento em ampliação da capacidade estática de silos e armazéns foi feito há dois anos e, segundo o executivo, “a empresa tem o desejo de voltar a investir, mas ainda está esperando, já que não há como decidir neste cenário de juros”.

Pelo mesmo motivo, o gerente da Bom Futuro diz que por enquanto o plano é manter a mesma área plantada com soja e milho, mas que "ainda daria tempo de mudar, se for o caso, talvez com aumento pouco significativo".

Ele garante que 100% dos fertilizantes já foram adquiridos antecipadamente e “já estão dentro de casa". Ao contrário de outros grandes – que possuem capital aberto por exemplo – a Bom Futuro diz que, por ser um grupo familiar, pode simplesmente tomar esta decisão de compra baseada em uma avaliação de que a relação de troca está favorável.

"Daqui 90 dias iniciamos o plantio e uma empresa deste tamanho precisa ter sua proteção e o fertilizante dentro de casa”, reforçou ele.