Maior fabricante de vacinas contra febre aftosa no mundo, a Biogénesis Bagó quer dar novos saltos nas linhas de biológicos, plataformas voltadas aos animais de produção e maior presença no mercado de pets.
A meta da empresa é "ser uma das 20 maiores da indústria veterinária mundial até 2027", afirmou ao AgFeed, Marcelo Bulman, que além de Country Manager Brasil, também é diretor comercial LATAM Norte da companhia.
O faturamento global da Biogénesis Bagó em 2022 foi de US$ 250 milhões, sendo que quase 20% disso são receitas geradas no Brasil.
"Enquanto o mercado vem crescendo cerca de 8% ao ano, nós tivemos um crescimento médio anual de 20% nos últimos cinco anos”, disse Bulman.
Em função da demanda crescente por produtos biológicos para prevenir doenças, o executivo afirma que nos próximos meses devem ser anunciados novos investimentos, entre eles o que pode viabilizar a primeira planta da Biogénesis Bagó no Brasil.
O diretor não revela detalhes ou quanto a empresa pretende investir no projeto, mas admite que o objetivo é atender animais de produção e o mercado pet.
Embora a marca esteja presente no Brasil há 20 anos, Bulman diz que a partir de 2017 houve a decisão estratégica de acelerar investimentos, “que chegaram a US$ 6 milhões".
Ele lembra que em 2021, por exemplo, foi adquirida no Brasil a marca Progestar, com uma linha hormonal. A Biogénesis hoje é a sexta no ranking da saúde animal no mercado brasileiro.
"Na Argentina estamos investindo este ano US$ 40 milhões para aumentar a capacidade produtiva", afirma.
Além das plantas da Argentina, a Biogénesis Bagó está construindo uma fábrica na Arábia Saudita e já inaugurou uma unidade recente na Coreia do Sul.
O mercado de saúde animal movimenta quase US$ 40 bilhões mundialmente, segundo ele, sendo 40% são animais pets e 60% são animais de produção, para produzir proteína animal.
"A missão da América Latina é alimentar o mundo, por isso tenho certeza que é o mercado que mais deve crescer", destacou.
Diversificação de produtos
Com a gradual retirada da vacinação contra a febre aftosa no Brasil, Marcelo Bulman garante que a empresa seguirá crescendo em faturamento.
Diversos estados brasileiros já conquistaram o reconhecimento de zona livre da doença "sem vacinação", o que garante acesso a um maior número de mercados para as carnes bovina e suína. É possível que as últimas campanhas de vacinação sejam realizadas em estados da região Norte em 2024 até que todo o território alcance o mesmo status sanitário.
"A vacina da aftosa já representou 80% da receita há 20 anos, mas hoje no Brasil, responde por apenas 5% do nosso faturamento”, revela o executivo.
A expectativa é alcançar R$ 300 milhões em receita no mercado brasileiro este ano, acima dos R$ 240 milhões faturados em 2022.
Um dos segredos para seguir crescendo é compensar a suspensão das vendas de aftosa com produtos como antiparasitários, antibióticos e hormônios. "A empresa caminhando para ser líder no mercado da reprodução bovina", diz.
Outro pilar importante dos negócios no Brasil é a vacina contra a raiva, "zoonose que mata mais de 60 mil pessoas por ano", destaca Bulman.
A Biogénesis está entre os maiores produtores desta vacina no mundo e, segundo Bulman, nos últimos três anos forneceu 100% das doses utilizadas no Brasil no programa nacional contra a raiva canina.
"Há muito para crescer ainda, na busca de se produzir mais carne, mais leite, o produtor ainda tem muito pra melhorar em genética, nutrição e sanidade", afirma.
"Extensão Rural"
Uma das grandes preocupações da indústria era que, com o fim das campanhas obrigatórias de vacinação contra a febre aftosa, os produtores deixassem de fazer outros manejos importantes, incluindo vacinas e uso de produtos veterinários.
"No Rio Grande do Sul e no Paraná isso não ocorreu, constatamos que não houve queda nas vendas dos demais produtos, mas em estados como Acre e Rondônia, está havendo uma queda significativa”, contou Marcelo Bulman.
Para lidar com o problema, o executivo defende o papel dos médicos veterinários que atuam nas indústrias como "extensionistas rurais, já que os governos não conseguem dar conta deste trabalho”.
Segundo Bulman, são quase 12 mil médicos veterinários empregados nas empresas que terão que mostrar ao produtor como produzir mais e usar novas tecnologias.
Desaceleração em 2024
Mesmo crescendo acima da média, a Biogénesis Bagó concorda que 2024 será um ano mais desafiador.
"É possível que o mercado como um todo não cresça mais que 5%", admitiu o Country Manager. Ele diz que a meta da empresa para o ano que vem ainda não foi definida.
O segredo para seguir crescendo mais que isso, segundo ele, será este relacionamento próximo com os clientes, alertando sobre a necessidade de seguir investindo.
"Fala-se que o novo ciclo de alta na pecuária começa em 2025, quando haverá necessidade de mais bezerros, mas se não cuidarem das novilhas e vacas agora, haverá falta de animais mais adiante”, alerta.
Apesar de se denominar "argentina”, todo o board da Biogénesis fica na Espanha, onde estão os principais acionistas.
Por isso, a empresa diz não se assustar com as instabilidades recentes na economia argentina, que até afetam alguns fluxos de pagamento nas negociações com o Brasil – estão sendo exigidos prazos mais curtos – mas não devem trazer reflexos significativos no faturamento global.
Sobre produtos que mais tendem a crescer nos próximos anos, Marcelo Bulman destaca a biotecnologia de vacinas e outras plataformas tecnológicas como os anticorpos monoclonais, para tratamento do câncer e dermatites alérgicas, “que estão chegando forte para animais de companhia", diz ele.
Dentro do segmento de biológicos, ele espera que aves e suínos venham a ter crescimento mais acelerado do que os bovinos.