Até o começo do século XXI, o consumo de batatas pré-fritas congeladas no Brasil era de 0,5 quilo por pessoa ao ano. Nos meados da primeira década, três irmãos mineiros resolveram apostar neste mercado e, de lá para cá, esse consumo saltou para quase 4 quilos por pessoa ao ano.

Esse dado é um indicativo da relevância da Bem Brasil para a indústria e também para os produtores de batata. Hoje, a companhia responde por mais da metade do volume de batatas congeladas no país Agora, vai investir para ganhar mais peso também no comércio exterior.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o presidente da Bem Brasil, Dênio Oliveira, conta que a empresa já escolheu o lugar para uma nova unidade de produção fora de Minas Gerais, onde estão as duas fábricas já em operação, nas cidades de Araxá e Perdizes.

“Vamos instalar essa nova unidade no oeste da Bahia, na cidade de Jaborandi (a mais de 900 quilômetros de Salvador), e terá capacidade para beneficiar 400 mil toneladas por ano”, conta Oliveira.

O investimento estimado na nova unidade é de R$ 2 bilhões e a expectativa do presidente da empresa é de início das operações em 2027.

As 400 mil toneladas de batatas que devem sair da nova unidade significam que a Bem Brasil vai quase dobrar a produção atual, que é de 500 mil toneladas em um ano. No entanto, a produção na Bahia terá uma finalidade mais específica.

“Essa produção será mais voltada para as exportações. Hoje, elas representam 4% do nosso faturamento. Nós temos o objetivo de que as vendas para o exterior cheguem a 15% das receitas entre 2030 e 2032”, conta Oliveira.

A companhia já vende para diversos países da América do Sul, Taiwan, Cingapura, Estados Unidos e México, onde tem acordo com a rede de supermercados WalMart. “Acreditamos que há um grande potencial de crescimento no México”, diz o executivo.

A curiosidade sobre a Bem Brasil é que entre os três sócios e irmãos, da família Rocheto, dois são produtores de batata e respondem por cerca de 60% do fornecimento do produto in natura para a companhia.

Um dos irmãos, João Emílio, que é presidente do conselho de administração, adquiriu uma área de 2,7 mil hectares na região onde ficará a nova fábrica. “Ele já está produzindo lá, inclusive compramos batata dessa propriedade para as unidades de Minas”, conta Oliveira.

A produtividade está acima da média vista nas lavouras mineiras, com 45 toneladas por hectare, contra uma média em torno de 43 toneladas por hectare em Minas.

A ideia é fomentar a produção do tubérculo nas regiões próximoas à futura unidade. “Nós adquirimos as batatas de produtores que ficam em um raio de 250 quilômetros da fábrica e a ideia é sempre incentivar a produção enquanto montamos a unidade”. O executivo conta que isso aconteceu em Perdizes, cuja fábrica foi concluída em 2022.

Oliveira conta que a unidade vai gerar cerca de mil empregos diretos quando estiver em operação e, na agricultura, a expectativa é de criação de mais duas mil vagas no oeste da Bahia.

Batata frita o ano todo

O presidente da Bem Brasil conta que um dos diferenciais da empresa é possuir uma tecnologia de armazenamento que permite ter batatas pré-fritas congeladas durante o ano inteiro para abastecer o varejo, sem depender do ciclo de plantio e colheita da batata.

A janela de plantio da batata acontece entre fevereiro e maio, e a colheita acontece entre julho e novembro.

“Nos outros países é assim, mas o armazenamento é muito mais simples, porque aqui nós lidamos com temperaturas acima de 30 graus em boa parte do ano. Então, temos galpões refrigerados com capacidade para até 480 mil toneladas de batata in natura”, conta Oliveira.

A preocupação se justifica inclusive pela mudança no mix de clientes da Bem Brasil depois da pandemia de Covid-19. “Até ali, nós tínhamos 70% da produção voltada para restaurantes e outros estabelecimentos comerciais (food service) e 30% para o varejo. Agora, estamos em 50/50”, afirma o executivo.

A estratégia tem dado resultados. A Bem Brasil conseguiu elevar em 10% o volume produzido em 2023 e em 30% seu faturamento, para R$ 3,6 bilhões. A companhia conseguiu atingir um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de quase R$ 750 milhões.

A projeção da companhia para 2024 é faturar R$ 4,4 bilhões. Se confirmada a expectativa, a Bem Brasil vai experimentar um crescimento de 22% em suas receitas neste ano.

Para Oliveira, o Brasil tem muito potencial para elevar o consumo de batatas e outros produtos congelados, ao comparar os níveis de Estados Unidos e Europa, onde o consumo per capita é de 10 quilos e 15 quilos, respectivamente.

Adicionalmente, a Bem Brasil aposta na diversificação de produtos, já que a unidade de Perdizes tem tecnologia para produzir itens como anéis de cebola e batata smile, por exemplo. Na feira da Associação Paulista de Supermercados (Apas), que ocorre na próxima semana, a companhia vai lançar palitos de queijo congelados.

Sobre uma possível abertura de capital, o presidente da Bem Brasil afirma que o movimento é tema de conversas com certa frequência dentro da companhia, mas que por enquanto, não está nos planos. “Os sócios estão muito satisfeitos com os resultados e com a estrutura atual”, afirma.