Cifras expressivas, na casa dos bilhões, fazem parte do cotidiano de quem vive de perto os mercados relacionados ao plantio de florestas. O mercado mundial de máquinas e equipamentos voltados para a atividade, por exemplo, deve superar os US$ 9 bilhões este ano, segundo relatório da empresa de análises Reportlinker, um crescimento de 6,69% em relação ao ano anterior.
Até 2027, indica o estudo, deve manter o ritmo, chegando a mais de US$ 11,2 bilhões, com o Brasil em posição de destaque entre os países com maior variação, graças à implantação, por aqui, de dois dos maiores projetos para a produção de papel e celulose do mundo pelas gigantes Suzano e Arauco. Bilionários, é claro.
O mercado de florestas plantadas no Brasil tem mais de R$ 60 bilhões em investimentos estimados até 2028, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). E boa parte destes recursos devem ser direcionados para máquinas e equipamentos, com preços na casa dos milhões de reais por unidade.
Não por acaso, portanto, as maiores fabricantes globais se posicionam para tentar abocanhar boa parte destes recursos. Uma das três grandes do setor, a japonesa Komatsu viu o Brasil se transformar, pela primeira vez, em líder de vendas no ranking da sua divisão florestal.
A empresa vendeu mais de 500 unidades no ano fiscal 2022/23, que terminou em março passado. “Foi uma marca histórica”, comemora o CEO da empresa no Brasil, Eduardo Nicz, não quer tirar o pé do acelerador.
“Batemos de longe o recorde de 2014, que era de 291 unidades. E para esse próximo ano, que termina em março de 2024, vamos pelo menos repetir esse desempenho”, disse, em entrevista exclusiva ao AgFeed, durante a Expoforest, realizada no início de agosto na cidade de Guatapará, região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
O presidente mundial da divisão, Hiroyuki Umeda, esteve na feira. Segundo Nicz, “porque ele entende que o Brasil é a vitrine, é onde está o futuro da empresa”. E para onde deve fluir, também, boa parte do investimento nos próximos anos.
No Brasil, a Komatsu tem uma fábrica, localizada em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, que atende também as divisões de construção civil e mineração. Segundo Nicz, a planta atende atualmente a metade da demanda por máquinas florestais por aqui. A outra metade é importada da Suécia.
“Nós queremos nacionalizar mais a produção de máquinas. Trazer para cá pelo menos mais uma linha de máquinas”, revela Nicz. O movimento tem por base as projeções de crescimento.
Para os próximos sete, oito anos, o CEO da Komatsu Forest Brasil projeta que o mercado de florestas plantadas dobre no país. Com essa perspectiva, ele trabalha para ganhar ainda mais relevância no cenário mundial da companhia.
Outro plano do executivo é aumentar o número de engenheiros voltados para o segmento florestal dentro da subsidiária brasileira. “Hoje, nós temos oito profissionais voltados somente para isso. Temos um projeto para expandir, inclusive com um hub de eletrificação de máquinas. Podemos contratar mais 20 engenheiros somente para este fim”, conta Nicz.
Uma das apostas da Komatsu para acelerar o crescimento no Brasil é o chamado full service, modelo de negócios em que a empresa não só vende as máquinas, mas também é responsável por toda a operacionalização.
“Fizemos isso com a Suzano, em uma das fábricas de São Paulo. Contratamos 60 pessoas somente para esta operação, em que entregamos a madeira pronta para a empresa”. Segundo Nicz, foi o primeiro contrato deste modelo fechado pela Komatsu no mundo.
“Nós temos entre 60% e 70% de participação entre as grandes empresas do setor florestal no Brasil, e este contrato de serviços com certeza será um diferencial”, diz o CEO.
No que diz respeito ao uso de eletricidade como combustível para máquinas, Nicz enxerga a alternativa híbrida como a mais viável neste momento. “Estamos trazendo para cá um veículo híbrido para fazer carregamento de árvores. Acho que vai demorar uns anos até que tenhamos máquinas integralmente elétricas”.
O otimismo da Komatsu com o Brasil vem principalmente do potencial enxergado pela empresa para o crescimento do mercado florestal.
A companhia projeta que a área plantada pode chegar a 11 milhões de hectares até 2030, ante os quase 10 milhões de hectares registrados atualmente.
Além disso, a Komatsu acredita que boa parte das áreas compostas hoje por pastagens, que respondem por 18% do total voltado para a agropecuária no Brasil, possa ser revertida em florestas.
Banco perto de R$ 1 bilhão
Como é comum entre montadoras de máquinas e automóveis, a Komatsu tem seu braço financeiro, o Banco Komatsu Brasil, que atende principalmente os clientes de menor porte da fabricante.
Segundo Gustavo Ferreira, diretor comercial do BKB, a carteira de crédito da instituição deve chegar a R$ 1 bilhão ainda este ano.
“Quando eu cheguei, em 2019, o banco tinha uma participação de 10% das vendas feitas pela Komatsu no Brasil. De lá para cá, dobramos essa fatia, chegando a 20%”, conta Ferreira.
O executivo explica que o BKB atende principalmente prestadores de serviços do segmento florestal que trabalham para empresas maiores.
Ferreira afirma que o primeiro semestre foi de uma desaceleração nos investimentos pelos donos de áreas florestais e prestadores de serviços. “Houve uma queda nas vendas de compensados para Estados Unidos e China. Mas de julho para agosto, já sentimos uma virada, com maior demanda”.
O BKB cresceu, em média, 40% ao ano nos últimos três anos, conta Ferreira. “Para este ano, projetamos um avanço entre 30% e 35% nas operações”.