A Atvos, uma das maiores produtoras de etanol do país, assinou um memorando para construir uma unidade de biometano.

A planta, que tem um investimento estimado em R$ 350 milhões, terá sede em Nova Alvorada do Sul (MS), onde a companhia já possui uma usina para produção de etanol, e será a primeira da empresa voltada para o gás.

Em comunicado oficial, a empresa pontuou que a unidade, que ocupará uma área de 150 mil metros quadrados, terá capacidade de produzir 28 milhões de metros cúbicos de biometano por ano. A unidade utilizará vinhaça e torta de filtro, resíduos da própria cadeia produtiva da cana, como insumo para a produção.

O anúncio da assinatura do memorando foi comunicada pelo CEO da Atvos, Bruno Serapião, durante a Expocanas, evento realizado em Alvorada do Sul, nesta quarta-feira, 10 de abril.

Em uma entrevista concedida ao AgFeed em setembro do ano passado, o CEO da Atvos já havia manifestado o desejo de entrar no mercado de biometano. Na ocasião, ele vislumbrou também a entrada nos mercados de etanol de milho e de combustível de aviação.

Em agosto, a empresa também adiantou que planejava investir R$ 3 bilhões em novas frentes nos próximos anos. Os primeiros passos estão sendo dados.

A Atvos saiu no ano passado de um processo de recuperação judicial (RJ) que durava desde 2019. Segundo o CEO, um dos fatores que ajudou esse movimento foi um aporte de R$ 500 milhões do Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos.

Na Usina Santa Luzia, que fica em Nova Alvorada do Sul, a produção do biogás será utilizada para abastecer parte da frota logística da empresa e de parceiros. Segundo Serapião, a ideia é reduzir em até 40% o uso de diesel da empresa. O volume excedente será direcionado para municípios vizinhos.

Em nota, ele pontuou que a implantação da fábrica marca a entrada da empresa no mercado de gás natural. Segundo o comunicado, a empresa produzirá um produto em larga escala para atender um mercado que “não para de crescer”.

“Ao mesmo tempo, ampliamos nosso portfólio de soluções sustentáveis, e contribuímos efetivamente para a transição da matriz energética. Também vamos seguir um conceito de economia circular, ao darmos destino e gerarmos novas receitas a partir de resíduos da nossa cadeia de produção”, afirmou Serapião.

De acordo com projeções da Abiogás (Associação Brasileira de Biogás), a produção de biometano deve saltar 600% até 2029, saindo dos atuais 1 milhão de metros cúbicos por dia para 7 milhões de metros cúbicos por dia.

Ainda segundo a entidade, atualmente existem 20 plantas do tipo no País, sendo que apenas seis comercializam o gás.

A expectativa é que o total de unidades produtoras voltadas à comercialização chegue a 90 nos próximos cinco anos.

Em uma nota publicada no site da Câmara dos Deputados nesta semana, Alessandro Gardemann, presidente do conselho da Abiogás, pontuou que o potencial produtivo do setor, com a utilização da totalidade dos resíduos, chegaria aos 120 milhões de metros cúbicos por dia de biometano em 2029 nessas 90 plantas.

Desse total, 57,6 milhões de metros cúbicos por dia seria via setor sucroenergético, 38,9 milhões m³/dia na cadeia de proteína animal, 18,2 milhões m³/dia na cadeia agrícola e 6,1 milhões m³/dia em saneamento.

O projeto da Atvos entra agora em fases de análises técnicas por engenheiros para aprovação. A expectativa é que as obras se iniciem ainda em 2024.

Atualmente, a planta da Atvos no município tem capacidade para moer 5,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 498 milhões de litros de etanol e ainda 376 gigawatts/hora (GWh) de energia elétrica, algo que, segundo a empresa, pode abastecer uma população de 1,8 milhão de pessoas.

No estado, a empresa também possui uma unidade em Rio Brilhante, que produz etanol e açúcar, e uma planta em Costa Rica, que produz somente etanol. A Atvos conta com mais duas plantas no estado de São Paulo, três em Goiás e uma no Mato Grosso.

A empresa fechou a safra 2022/2023 com moagem total de 22 milhões de toneladas de cana. A projeção dada por Serapião ao AgFeed no ano passado era fechar a safra 2023/2024 num patamar entre 26 milhões e 27 milhões de toneladas. A meta para os próximos anos é atingir 32 milhões de toneladas.

A Atvos tem capacidade de produzir 3,3 bilhões de litros de etanol e 750 mil toneladas de açúcar por ano.