Quando uma grande empresa como a Atvos recebe um aporte de capital, a expectativa é que esse dinheiro tome dois caminhos. Um deles é a diminuição do endividamento. O outro, o dos investimentos.

Depois de anunciar um aporte de R$ 500 milhões do fundo Mubadala e repactuar suas dívidas, uma das maiores produtoras de etanol do Brasil quer agora melhorar sua estrutura operacional.

Os recursos serão destinados, em parte, para a reestruturação das dívidas, que somavam quase R$ 6,5 bilhões. Outra parte ajudará a turbinar um orçamento de R$ 3 bilhões para investimentos nos próximos três anos.

Mais da metade desse valor, R$ 1,6 bilhão, será aplicada ainda na safra atual, que marcará também o início de um novo processo de avanço tecnológico em várias áreas da companhia.

Um passo importante nessa direção será dado nesta quarta-feira, 16 de agosto, com a abertura das inscrições para um programa de inovação aberta.

Com este programa, a Atvos pretende atrair startups e até grandes empresas com ideias para melhorar a logística interna da companhia, no transporte entre as áreas de cana e as usinas, além de otimizar a prestação de serviços por equipes de apoio à produção.

Alexandre Maganhato, Chief Technology Officer (CTO) da Atvos, conta que este é o primeiro programa aberto de inovação da companhia. “A ideia surgiu há 3 anos, mas até então, tínhamos iniciativas levadas internamente. Neste novo momento, a diretoria entendeu que o programa está maduro para ser lançado, e ser contínuo”.

Neste primeiro momento, o programa será destinado a startups e empresas, que podem se inscrever até o dia 15 de setembro. “Já temos oito companhias pré-inscritas”, conta Maganhato.

O programa tem duas vertentes. Uma voltada para a logística interna da Atvos, ou seja, no transporte da cana-de-açúcar colhida para as usinas.

“O objetivo é otimizar todo o transporte desde o talhão da plantação de cana até o processamento. A ideia é digitalizar o trabalho na cultura, e também traçar as rotas com mais precisão”, diz o CTO da Atvos.

A outra parte do programa está voltada para acionar digitalmente os serviços de apoio. Seria uma espécie de “Uber” em que os profissionais são acionados de acordo com a necessidade.

“Hoje, nós temos que manter toda uma estrutura fixa e, se houver algum problema com um trator, por exemplo, é necessário um deslocamento para acionar o profissional da manutenção, ele precisa estar disponível no momento”, diz Maganhato.

A solução esperada pela Atvos envolve o acionamento em tempo real destas equipes de apoio, sem a necessidade de manter uma estrutura fixa, e com mais agilidade no atendimento para quem está trabalhando na produção.

“Temos frentes de trabalho que chegam a ficar a 40 quilômetros da usina. A ideia é diminuir os custos com a estrutura física, e até mesmo no consumo de diesel”.

Internamente, a Atvos desenvolve outros programas, como o de telemetria para monitorar as máquinas e equipamentos, e a montagem de uma estrutura de comunicação que vai ligar as oito usinas da companhia.

“A ideia é criar uma estrutura com a mescla de uma rede 4G privada e o uso de satélites. Nós chegamos a negociar com grandes empresas de telecomunicações, mas optamos por seguir com um parceiro de infraestrutura tecnológica para montar essa rede própria”, conta Maganhato.

O executivo afirma que todas estas iniciativas acontecem para viabilizar a meta de crescimento da companhia até a safra 24/25.

“Nós moemos 22 milhões de toneladas de cana na safra 22/23. A meta para o período 23/24 é de 26 milhões de toneladas, e para 24/25, o objetivo é atingir a marca de 30 milhões de toneladas. Que só será atingida com estes investimentos em digitalização e otimização”.

Em uma fase posterior, a Atvos pretende montar parcerias com universidades, especialmente da região de Ribeirão Preto, onde fica o hub de inovação onde serão desenvolvidas as ideias colhidas no programa.

“Estamos montando também uma parceria de estágios com o Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança, criado pelos sócios do BTG Pactual), onde vamos colocar problemas reais do negócio para que os alunos elaborem os projetos”, diz o executivo da Atvos.

A ideia para os estagiários do Inteli é que eles desenvolvam soluções para rastrear os insumos e materiais utilizados pela companhia, e também um controle digital do almoxarifado.

“A ideia é fazer uma espécie de raio-x para saber se, por exemplo, uma máquina voltou para o galpão com as mesmas peças de quando saiu para o trabalho”, conta o CTO. No caso dos insumos, a ideia inicial é instalar etiquetas rastreáveis nas sacolas que carregam os produtos.