Às vésperas da reunião anual de acionistas da gigante dos insumos Bayer, marcada para a próxima sexta-feira, dia 25 de abril, importantes investidores alemães têm feito questão de expressar sua frustração com os rumos da companhia.
Pelo menos dois grandes nomes do mercado financeiro local se manifestaram nos últimos dias, aumentando a pressão sobre o CEO da companhia, Bill Anderson – que, desde que assumiu, tenta reverter um longo período de resultados ruins e de queda no valor das ações da gigante do setor químico.
No começo do ano passado, Anderson instituiu na Bayer um processo de reestruturação interna chamado Dynamic Shared Ownership (DSO), adotando um novo modelo operacional com o objetivo de diminuir hierarquias e cortar custos.
A ideia da Bayer é economizar 2 bilhões de euros em despesas até 2026. Somente neste ano, a companhia projeta uma economia de 600 milhões de euros, após ter reduzido gastos em 500 milhões de euros em 2024.
Bill Anderson vem conduzindo esse processo a ferro e fogo – no começo de 2024, logo após chegar ao posto, Anderson chegou a dizer que a companhia estava "muito quebrada".
Mas seu desempenho recebeu agora críticas abertas de Ingo Speich, da gestora alemã Deka Investment, uma das 20 maiores investidoras da companhia, segundo informações da Bloomberg.
Speich definiu os resultados da Bayer sob o comando do CEO até aqui como "desastrosos", após uma soma de vários problemas como a queda dos preços das ações da companhia, nível de endividamento que teima em seguir alto e problemas com a Justiça americana.
Já para a gestora Union Investment, outra grande investidora da Bayer, a divisão agrícola da Bayer se tornou uma "criança problemática", nas palavras de Janne Werning, head de ESG Capital Markets.
Ele lista dificuldades de sinergia entre as áreas de sementes e proteção de cultivos, além do fantasma da Monsanto, que foi comprada pela companhia alemã em 2018 e trouxe junto uma enxurrada de ações judiciais envolvendo o defensivo Roundup nos Estados Undios.
A Union avalia, no entanto, que não é o momento de se fazer a cisão dos negócios da Bayer, que possui três grandes áreas: a divisão agrícola, já citada, farmacêutica e de saúde do consumidor.
Um ponto em que as duas casas concordam é que há pouco a se fazer neste momento – e é justamente por isso que os acionistas, apesar de críticos, demonstram disposição em apoiar as propostas apresentadas pela companhia na próxima assembleia.
Uma das proposições que a Bayer deve trazer para seus acionistas é a autorização para fazer um aumento de capital, a partir de uma oferta de ações correspondente a 35% de seu capital social atual.
Com essa medida, a ideia da companhia é levantar recursos para reforçar seu balanço frente às demandas judiciais envolvendo os processos do Rondup nos Estados Unidos.
As duas casas afirmaram que vão apoiar o pedido da Bayer – mas não deixaram de fazer ponderações. “Por que de repente seria possível interromper a onda de processos judiciais com mais dinheiro, sendo que isso não era possível no passado?”, questionou Werning, da Union Investment.
Speich, da Deka Investment, criticou a forma como a Bayer comunicou que iria tentar o aumento de capital, feito em uma carta aos acionistas dois dias depois da divulgação dos resultados da companhia, em 5 de março. “Se você realmente quer realizar um aumento de capital, a comunicação precisa ser diferente”, escreveu Speich.
Na tarde desta quarta-feira, dia 23 de abril, as ações da Bayer registravam alta de 2,89% na bolsa de Frankfurt. Em um ano, porém, têm queda de 19%.