Piracicaba (SP) - “Nosso futuro trará ainda mais valor do que o presente”. A frase dita por Paulo Polezi, diretor financeiro e de relações com investidores do CTC, durante o CTC Day, evento da companhia para estreitar a relação com o mercado e seus acionistas, pode ser considerada ousada, dado o patamar que a companhia de pesquisa já possui hoje.

Isso porque a empresa projeta encerrar a safra 2024/2025 com uma receita superior aos R$ 400 milhões, com um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 200 milhões, com uma margem Ebitda de 50% e um lucro líquido de R$ 155 milhões.

Mesmo com a robustez dos números atuais, o futuro promete ser mais doce de acordo com a diretoria da empresa.

Prestes a completar dois anos no cargo, o CEO do CTC, César Barros, relembrou que a empresa, líder do mercado de genética para a cana, firmou em 2023 um compromisso público de dobrar a produtividade da cana brasileira até 2040.

Diante disso, ele aproveitou o CTC Day, nesta terça-feira, 15 de abril, para divulgar três lançamentos futuros para o mercado da cana-de-açúcar.

A primeira tecnologia diz respeito a um novo sistema de plantio. Fruto de 11 anos de pesquisas e que deve consumir até R$ 1 bilhão em investimentos feitos até o final do desenvolvimento, o projeto quer possibilitar que os produtores plantem a cana com sementes sintéticas.

No cenário atual, dos 10 milhões de hectares cultivados com cana no País, 1,5 milhão de hectares é renovado anualmente. Por hectare, o CTC estima que sejam necessárias 16 toneladas de brotos de cana e, com o novo sistema, serão necessários 400 quilos.

Diferente do broto, que é um “pedaço” de um pé de cana, a semente sintética fica dentro de uma cápsula de cerca de 10 centímetros.

Suleiman Hassuani, diretor de P&D de sementes do CTC, explica que tudo começa numa fase in vitro, quando os cientistas pegam um palmito da cana e separam o equivalente a células-tronco do cultivar.

Atualmente essas células são multiplicadas em um biorreator, mas a ideia é criar uma fábrica para produção em escala. O objetivo, segundo revelou o CEO do CTC, é que essa unidade tenha uma capacidade produtiva para sementes que cubram mil hectares por ano, sendo 500 hectares por turno fabril.

“O investimento nesta unidade foi próximo aos R$ 100 milhões, sendo metade recursos da Finep. A ideia é que até o ano que vem a produção já esteja nos 250 hectares por turno”, contou o CEO, César Barros.

Depois de duas semanas se multiplicando, o material biológico vai para câmaras de biogerminação e posteriormente as sementes germinadas vão para o processo de rustificação.

“É aí que elas entram em contato pela primeira vez com o sol e um ambiente externo”, diz Hassuani. Depois de um controle de qualidade, a planta está próxima para a etapa comercial.

A tecnologia ainda está em fase de pesquisa e desenvolvimento e a projeção é chegar ao mercado nas próximas safras. O processo conta ainda com parcerias com as companhias John Deere, Marchesan, Double TT e Civemasa, todas de máquinas agrícolas, para desenvolver uma plantadora específica para o novo sistema do CTC.

“Essa linha de sementes vai trazer oportunidades que ainda não temos ideia, principalmente pensando em logística de viveiros, o produtor precisa colher fora da época. Com a semente ela chega na hora certa. Temos desafios para entender melhor como abrir o mercado, mas existe um caminho a trilhar”, disse Suleiman Hassuani.

A projeção do CTC é que essa tecnologia de semente reduza o ciclo do canavial para quatro anos, um ano menor do que a média atual.

Outra novidade em termos de produto é uma nova cana transgênica. O CTC estima que por ano são gastos R$ 6 bilhões para controle de pragas no cultivo da cana.

Diante disso, a companhia desenvolveu uma plataforma que é tanto resistente à broca-da-cana quanto a herbicidas, possibilitando melhor controle de plantas daninhas.

Batizada de VerdePro2, o cultivar é tolerante ao glifosato. Numa via de mão dupla em parcerias com empresas como a Bayer, a empresa ajuda companhias de químicos que querem estender o uso de alguns produtos tradicionais dos grãos para a cana.

A terceira novidade é uma nova série de variedades de cana, que, nos cálculos do CTC, deve aumentar em 16% a produtividade, considerando o TAH (toneladas de açúcar por hectare) frente ao mercado.

“O CTC Advana, como foi chamada, é uma linha que agrega o que há de mais moderno e avançado na pesquisa e desenvolvimento para buscar um potencial produtivo mais alto”, citou Barros, CEO do CTC. A empresa afirma que já está repassando essa variedade para alguns clientes.

No futuro, a ideia é que essas três novidades estejam inseridas dentro de um só produto. Na prática, o produtor vai comprar essa cápsula com a semente de uma cana que tem esse potencial produtivo superior e também as proteções contra as pragas.

“Esse processo intenso de desenvolvimento de P&D nos coloca num cenário em que, até o final dessa década, tenhamos todas as soluções agregadas num único produto”, disse César Barros.

Toda a estratégia de novos lançamentos pode turbinar o futuro do CTC. Luiz Antonio Paes, diretor comercial da empresa, relembra que o CTC tem hoje, uma receita futura contratada acima de R$ 1,2 bilhão.

A empresa possui um market share de 27% considerando a cana plantada e 17% considerando a cana colhida, ambos os percentuais nas variedades protegidas.

César Barros explica que. se o share no plantio é maior do que na área cultivada, a área cultivada tende a crescer. “Nossa meta é sempre ter market share maior no plantio do que na parte cultivada”.

O modelo de negócio da empresa, que é focada em P&D, depende dos royalties do uso de cada variedade. A empresa recebe um terço do ganho total que um cliente possui.

Considerando nosso modelo de negócio que envolve royalties e P&D, prevemos um crescimento do ticket médio e, consequentemente, um aumento do valor da empresa”, disse o diretor comercial.

O CEO César Barros acredita que, considerando as três novidades e mais o que ainda deve ser desenvolvido, o CTC tem um mercado potencial de R$ 60 bilhões nos próximos 15 anos.