Quando uma empresa faz seu IPO na Bolsa, um plano de crescimento é traçado. Isso serve para dar uma certa previsibilidade aos acionistas que pensem em investir na empresa e também aos analistas de mercado que vão recomendar a compra ou não do papel.

Na gaúcha 3Tentos, o plano traçado em 2020, quando abriu capital, já é coisa do passado, e a empresa foca agora no que executará até 2030.

Na noite de segunda-feira, 15 de janeiro, a empresa divulgou um documento com seu planejamento de investimentos e inaugurações para os próximos seis anos. Na terça-feira, detalhou em uma call com analistas o passo a passo para esses planos.

A companhia anunciou R$ 2 bilhões em investimentos para o novo ciclo, sendo que pouco mais de R$ 1 bilhão será destinado à uma nova planta de produção de etanol de milho.

Cristiano Costa, CFO da empresa, detalhou que serão R$ 280 milhões para a expansão de novas lojas, com o objetivo de chegar em 100 unidades até 2030, mais R$ 480 milhões para a ampliação das atividades atuais da empresa. Outros R$ 200 milhões serão destinados ao Terminal de Mirituba, onde a empresa, junto com a Caramuru, irá operar por meio de uma joint venture.

“O nosso cronograma prevê que tenhamos 73% desse desembolso nos dois primeiros anos, 2024 e 2025, pelo aporte necessário para a indústria. O restante será dividido ao longo dos outros anos”, pontuou Costa na call com analistas. Uma parcela de 30% dos recursos será originada no próprio caixa e o restante será via operações estruturadas e outros financiamentos de longo prazo.

De acordo com o CEO da empresa, Luiz Dumoncel, o financiamento para ser investido em 2024 já está garantido e aprovado pelo conselho. “Já está definido quando e como ele vem. Isso nos dá segurança financeira para o investimento”, pontuou.

Todos esses valores têm um objetivo: aumentar o porte da 3tentos. Em alguns segmentos da operação, a empresa tende a dobrar de capacidade.

De acordo com a companhia, a capacidade de processamento de soja, por exemplo, deve passar das 6,6 mil toneladas diárias para 10,5 mil toneladas ao final do ciclo. Além disso, a produção de biodiesel deve passar de 1,8 metros cúbicos por dia para 2,5 metros cúbicos diários.

“Vamos aumentar a capacidade de produção de biodiesel ampliando as instalações de Ijuí e Vera, com programações e estruturas já previamente preparadas para ampliação”, disse o CEO.

A produção de sementes deve saltar de 600 mil sacas por ano para 1 milhão de sacas e a produção de fertilizantes deve dobrar, passando de 150 mil toneladas por ano para 300 mil toneladas.

A grande novidade do projeto é, sem dúvidas, a criação da indústria de processamento de milho, que servirá para produção de etanol do grão. A indústria ficará no Vale do Araguaia, região leste do Mato Grosso, na cidade de Porto Alegre do Norte.

Com a capacidade final instalada e estabilizada, a produção será de 2,1 mil toneladas de milho processado por dia.

Nos cálculos de Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da XP, a planta pode adicionar entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões em Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) para a 3tentos até 2026, ano em que está previsto para o início da operação.

“Todos os investimentos deverão ser positivos, em nossa opinião, e reforçarão a estratégia de verticalização da companhia e seu ecossistema único no setor de agronegócios”, afirmou Alencar, em relatório.

A palavra ecossistema foi utilizada pelo CEO durante a chamada nesta manhã. Isso porque, atualmente, a empresa tem uma presença mais forte no Rio Grande do Sul, estado natal da empresa e da família Dumoncel, e no Mato Grosso, nas regiões da famosa BR-163.

A ampliação, que passa tanto pela criação da nova indústria quanto pela abertura de novas lojas, deve ser focada no Vale do Araguaia. Por lá, a cadeia produtiva deve ser integrada pela 3tentos.

“Não é só uma indústria, é um ecossistema de etanol. Temos uma relação com o produtor onde, nós levamos conhecimento e fornecemos os insumos e temos como contraparte o grão, que transformaremos em DDG”, disse o CEO.

Isso, segundo Luiz Dumoncel, dá competitividade e segurança para a empresa conquistar esse novo mercado. “Levaremos todo o pacote de soluções que a 3tentos já leva para o agricultor em uma nova região. O plano vai muito além da indústria em si”, acrescenta.

A empresa encerrou o ano de 2023 com 63 lojas e a ideia é encerrar 2024 com 71 unidades. Quando fez seu IPO, o plano era abrir 70 lojas até 2025, meta que será adiantada em um ano.

Para os próximos seis anos, serão mais 37 lojas. “A abertura das lojas é fundamental para que seja feita a expansão da 3tentos como um todo”, acrescentou Luiz Dumoncel. Mesmo que o foco do novo ciclo esteja no Vale do Araguaia, a empresa abrirá lojas nas outras regiões em que atua.

A empresa escolheu expandir para o Vale do Araguaia por uma série de razões. A primeira é logística. O Vale do Araguaia está no Mato Grosso, o que permite uma presença natural no estado produtor. Mas, por estar próximo da divisa com Goiás, permite abraçar novos mercados.

A localização ainda permite uma escolha de escoamento tanto pelo Arco Sul, onde a empresa já atua, quanto pelo Arco Norte, que passará a operar junto com a Caramuru nos próximos anos.

Outro fator, pontuado pela diretoria nesta terça, é que a empresa percebeu que muita área de pastagem está se transformando em terras agricultáveis na região, o que abre espaço para mais cultivo de milho e soja, e, consequentemente, mais grãos para virar biocombustíveis.

O anúncio foi bem recebido pelo mercado. Nesta manhã, por volta das 11h, as ações da 3tentos negociadas na B3 disparavam cerca de 7%, cotadas a R$ 11,78. De um ano pra cá, o papel acumula alta de quase 30%.