No início de 2026 a família Pradella completará 25 anos no oeste da Bahia. Em fevereiro de 2001, os paranaenses de Palotina chegaram à região que despontava como a nova fronteira agrícola do País. Adquiriram uma propriedade de 52 mil hectares em Formosa do Rio Preto, desbravaram a área e cultivaram arroz.

Mas foi a “rainha das culturas”, nas palavras de Luiz Pradella, que ajudou a família a se estabelecer como uma das maiores produtoras da região. Mais da metade da área atual é cultivada com soja e o restante dividido em milho, produção de sementes e na rotação de culturas.

“Soja é a rainha das culturas e vai continuar ocupando a maior área das propriedades, por conta de ser mais fácil de conduzir e de gerar liquidez. Você vende na hora que quiser. Se bem vendido ou mal vendido, é outro assunto, mas você vende e é o que realmente dá, no nosso caso, o fluxo de caixa perfeito para poder rodar”, afirmou Pradella em entrevista ao AgFeed.

O empresário rural explicou que a liquidez garantida com soja faz com que a rotação seja feita com até três safras consecutivas da cultura para uma com milho. “Quando voltava lá com o milho, o solo já não tinha mais cobertura”, explicou.

Para dar essa cobertura necessária e reter mais carbono no solo para um novo plantio da soja, a primeira experiência foi o cultivo consorciado do milho com a braquiária. O capim tradicional na alimentação bovina é também uma excelente opção de forrageira para preservar e manter a palhada.

Com os resultados positivos e a retomada gradual da produtividade perdida em um primeiro momento, o consórcio deu resultados com o milho. A matéria orgânica nas áreas de cultivos simultâneos sai de 1,5% para até 2,4% no solo, de acordo com produtor.

Pradella dobrou a aposta e iniciou o plantio também da soja consorciada com a braquiária. No modelo, as culturas são plantadas juntas e, após o ciclo da oleaginosa, a soja é dissecada e colhida. A pastagem segue e cerca de um mês depois está pronta para também ser colhida e virar feno.

A braquiária garante matéria orgânica e favorece o cultivo da próxima safra. Pradella admite que os resultados na primeira safra pode não ter positivo, mas que, assim como ocorreu com o milho, o tempo mostrará que a aposta foi acertada

“É um trabalho novo que a gente vem fazendo e com certeza vai dar resultado, porque é incremento de carbono no solo, cobertura de solo”, disse. “Na safra atual, provavelmente não teremos resultado positivo, porque a gente está ajustando a tecnologia, mas, com certeza, nos três, quatro, cinco anos em diante, vai ter um resultado bem interessante”, completou.

Etanol

De acordo com Pradella, até o milho, que vinha perdendo espaço na rotação de culturas na propriedade, pode ter mais chance no futuro, graças à chegada da agroindústria processadora do cereal para a produção de etanol e de milho. A Ipasa anunciou investimentos de R$ 1,8 bilhão em uma usina na vizinha Luiz Eduardo Magalhães (BA).

“O milho está melhorando e agora está vindo essa agroindústria, que vai absorver parte da produção local. Tem a parte de frango, que ainda não é um número elevado, mas também já consome milho”, afirmou.

Apesar do foco no tripé soja-milho-braquiária, Pradella avalia o cultivo de outras lavouras. Segundo ele, o plantio de variedades precoces de soja, por exemplo, abre uma janela para o cultivo do sorgo, que também pode ir para a produção de etanol. Outra opção avaliada é o amendoim, uma das melhores culturas para o controle de pragas e doenças na rotação de lavouras.

“O que pretendemos é a complementaridade de tecnologias com a diversidade de culturas”, resumiu o produtor.

Ao final, o AgFeed indagou ao pioneiro e, de certo ponto, alquimista Pradella qual a lição que sua família aprendeu nos quase 25 anos em solos baianos. A resposta foi simples: mesmo após mais de duas décadas, o aprendizado ainda prossegue com os desafios impostos pela região e os experimentos em busca de uma produção mais sustentável.

“Todo ano tem um clima diferente, com um veranico mais cedo em um, e mais tarde no outro. É muito aprendizado e observação. Se começarmos com uma frequência de rotação de cultura baixa por falta de oportunidade, à medida em que vai se melhorando o solo, vai cabendo outras culturas”, afirmou.

“São 25 anos de acúmulo de experiência, nem todas elas bem-sucedidas, mas necessárias para o crescimento”, concluiu Pradella.

Resumo

  • Família Pradella completa 25 anos no oeste da Bahia e se consolida como uma das maiores produtoras da região
  • No comando dos negócios, Luiz Pradella aposta no consórcio de soja e braquiária para elevar carbono e produtividade do solo
  • Novas oportunidades com o etanol de milho e diversificação com sorgo e amendoim fortalecem a rotação de culturas