No mundo dos negócios, algumas companhias ficam mais invisiveis para o grande público. Não estão nas gôndolas dos supermercados e nem aparecem nos intervalos comerciais. Mas seus serviços são essenciais para que toda a engrenagem de diversas atividades produtivas rode.

A Armac, de locação de máquinas pesadas e prestação de serviços especializados, é uma dessas empresas.

Atuando no bastidor operacional de grandes players, a empresa tem números robustos para apresentar: possui mais de 10,5 mil ativos, emprega mais de 6,5 mil funcionários, é listada na B3 desde 2021 e, no ano passado, registrou uma lucro líquido de R$ 163,3 milhões, 24,7% maior que em 2022.

A empresa tem duas frentes de atuação. Uma delas, que é a base da empresa, envolve a locação multimarcas de máquinas pesadas da linha amarela como caminhões, empilhadeiras e escavadeiras para empresas de diferentes segmentos, da construção civil à agroindústria.

A outra área envolve a prestação de serviços especializados, uma lista longa de atividades que engloba trabalhos de movimentação de diversos materiais, como rejeitos, minérios e fertilizantes, trabalhando com indústrias de diferentes setores como mineração, siderurgia, celulose, bebidas, agroindústrias, entre outros.

Foi dentro dessa área que a Armac resolveu fazer uma reorganização ao longo do segundo semestre deste ano, em que completa 30 anos de existência.

A companhia fatiou a unidade de prestação de serviços em cinco segmentos: mineração, empilhadeiras, florestal, portos e fertilizantes, e agroindústria e indústria.

"Na prestação de serviços, é muito mais interessante que nós tenhamos as unidades de negócios por segmentos, para termos especialistas olhando com a visão do cliente para o negócio e para a aplicação das nossas máquinas", afirma Luciano Rocha, vice-presidente de operações e negócios da companhia.

Além de melhorar a proximidade com os clientes, a divisão setorial ajuda a trazer mais resiliência à empresa, na avaliação de Rocha.

Isso porque a Armac é intensiva em capital para rodar sua operação. Em outubro, por exemplo, a companhia captou R$ 1 bilhão em debêntures para refinanciamento de dívida.

“Com a segmentação, se o mercado de mineração sofre, eventualmente, uma queda de preços ou uma diminuição, você consegue apostar no agro ou de repente você muda um pouco o foco para o florestal”, afirma Rocha, executivo que tem 25 anos de experiência no setor automotivo, com passagem por empresas como CNH, Volvo e Komatsu, e que está capitaneando a reestruturação da Armac.

Duas áreas diferentes do negócio prestam serviços para empresas do agro: portos e fertilizantes e agroindústria e indústria.

No caso dos portos e fertilizantes, a companhia já tem uma posição consolidada, com mais de 1 mil máquinas em operação, 1,1 mil colaboradores e presença em terminais portuários como de Santos (SP), Paranaguá (PR), Rio Grande (RS), São Luís (MA) e Vitória (ES), e em complexos ferroviários como o de Rondonópolis (MT), Rio Verde (GO), e de Minas Gerais.

A companhia faz a carga e descarga de carretas e vagões, armazenagem em galpões e armazéns, movimentação de trilhos, tracionamento de vagões e atendimentos a emergências ferroviárias.

Ao ano, são mais de 95 milhões de toneladas movimentadas por ano de fertilizantes, grãos, farelos, açúcar, enxofre, minérios e sal.

Somente no complexo portuário de Santos, onde está há seis anos, a companhia movimenta anualmente 38 milhões de toneladas desses materiais.

“Nós temos um domínio absoluto em algumas regiões portuárias principalmente na movimentação de cargas e fertilizantes no Porto de Paranaguá, no de Santos e no de Rio Grande”, afirma Rocha.

Em paralelo à atuação em portos e fertilizantes, a Armac já atende agroindústrias há cerca de oito anos, segundo Rocha, e agora planeja consolidar sua atuação nesse segmento, que possui 650 equipamentos, 600 colaboradores e 130 operações rodando no momento.

Nessa fatia do negócio, a companhia trabalha principalmente com a movimentação de biomassa de cana-de-açúcar, citros e palha de milho, com forte presença no interior de São Paulo e no Mato Grosso do Sul, atendendo clientes de grande porte como BP, Inpasa, Raízen, Citrosuco, LDC, FS e Cerradinho Bio, entre outros.

Por ano, a companhia faz a movimentação de 13 milhões de toneladas de biomassa e açúcar em operações de clientes produtores de cana, e também faz outras atividades como a carga e transporte de torta e fuligem, terraplanagem, sistematização de solo, e abertura e manutenção de vias e estradas.

A negociação é feita geralmente de forma casada. Nesse modelo, a empresa loca o equipamento da Marmac e também solicita a prestação de serviço para a utilização da máquina em conjunto.

"O que eu entrego para o cliente não é uma locação por hora, mas uma disponibilidade mecânica e também de funcionários. Ou seja: não é só a máquina, eu entrego também o operador, conseguindo operar a máquina para o cliente”, afirma.

O cliente, no entanto, não é obrigado a contratar sempre a prestação de serviço em conjunto com os equipamentos e, assim como o modelo de contratação, o tempo de duração dos contratos pode variar.

“Nós temos contratos de um mês, com uma franquia de horas definida, de 150, 200 horas, e nós temos contratos de três anos, quatro anos, com locação de máquina, 24 horas, 7 dias por semana, com disponibilidade garantida dependendo do que o cliente precisa”, explica.

“Essa é a grande beleza da prestação de serviços, você atender para o cliente uma necessidade que talvez ele não atinja simplesmente locando a máquina”, afirma Luciano.

Para dentro da porteira

Para além das indústrias do agro, a Armac vê possibilidades dentro da porteira, segundo o vice-presidente de operações e negócios da companhia.

“Acho que ainda somos muito incipientes na produção de grãos. Temos uma oportunidade muito grande de ampliar nossa participação nas grandes fazendas do Centro-Oeste, principalmente fazendo locação de máquinas e prestação de serviços”, afirma Luciano Rocha.

“Todas essas fazendas precisam de prestadores de serviços e sempre tiveram uma tendência grande de internalização. Mas, de tempos para cá, até pela necessidade de ampliar a participação de máquinas da linha amarela na agricultura, eles passaram a locar muito ou a aceitar melhor a locação para cobrir picos de produção e até mesmo a sazonalidade que é inerente ao setor agrícola”, emenda Rocha.

No momento, a Armac está se expandindo em Estados como Paraná e Bahia. “São localidades onde já temos operações, mas não temos oficinas mecânicas e estoques de máquinas para ofertar para esse segmento”, afirma.

No momento, a Armac está abrindo novas oficinas mecânica em Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG) e em Feira de Santana (BA), e também está construindo uma estrutura de 150 mil metros quadrados em Vargem Grande Paulista, cidade da Grande São Paulo, que se soma a uma oficina já existente na cidade e que também possui 150 mil metros quadrados.

“Como principal função, essas oficinas vão ter duplicar a nossa capacidade de manutenção de equipamentos”, afirma Rocha.

Além das oficinas, a Armac possui 32 pontos de apoio espalhados pelo Brasil, onde mantém estoques de peças e suporte técnico mínimo para fazer manutenção específica para a região onde a base da empresa está instalada.

“A diferença entre as oficinas e os pontos de apoio é que as oficinas têm um estoque de máquinas para locação”, afirma Rocha.

A instalação das oficinas em outros estados do Brasil para além de São Paulo é estratégica para que a Armac fique mais próxima das regiões agrícolas.

“Hoje, para eu levar uma máquina de São Paulo até o Oeste baiano, são quase 3 mil quilômetros de distância. De Feira de Santana até lá, são mil quilômetros”, diz Rocha.

A partir da reorganização de suas unidades de negócio, a Armac também passou a ver possibilidades de negócios envolvendo máquinas da linha verde a partir dos próximos anos – e, se tudo der certo, já em 2025, segundo Rocha.

“A gente está sentindo realmente a necessidade de ampliar nossa oferta de serviços para o cliente agrícola. Ainda não tenho colheitadeiras na minha frota, mas tenho clientes pedindo para cotar essa locação”, afirma Rocha.

O executivo salienta que também há poucas empresas de locação de máquinas agrícolas no País, o que só reforça a possibilidade de um novo negócio para a Armac – ainda que sempre sob cautela.

“Antes de entrar num espaço com uma operação muito forte dentro desses clientes, a gente precisa reforçar a nossa presença no que já somos bons”, diz.