A compra de ações da BRF pela Marfrig começou em 2021, quando o papel valia cerca de R$ 26. Ao longo dos próximos meses, muitos analistas questionaram o movimento, já que a ação não parava de cair no decorrer de 2022 e 2023.

A Marfrig insistiu na estratégia e, realizando compras no mercado, atingiu uma participação de 40% em setembro de 2023, quando o preço da ação estava pouco acima de R$ 9

No finalzinho do ano passado, quando a Marfrig atingiu o patamar de controladora da BRF, o papel já havia subido para o patamar de R$ 13, e agora está em R$ 18.

No entanto, a questão patrimonial está longe de ser o fator que mais conta a favor da estratégia adotada pela Marfrig. A BRF já sustenta os resultados da Marfrig, pelo menos neste início de 2024.

A Marfrig fechou o primeiro trimestre deste ano com um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 2,6 bilhões. Somente a BRF contribuiu com R$ 2,1 bilhões, ou 80% do total. No mesmo período de 2023, essa participação ficou abaixo dos 50%.

“A BRF foi importante também na nossa desalavancagem financeira. Nós saímos de uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 3,7 vezes no final de 2023 para 3,4 vezes ao final de março deste ano”, comentou Tang David, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Marfrig, durante coletiva de imprensa.

A participação da BRF também viabilizou o lucro líquido de R$ 63 milhões da Marfrig no começo deste ano, revertendo um prejuízo de R$ 634 milhões no mesmo período de 2023.

Com um volume praticamente estável em relação ao ano passado, a receita líquida da Marfrig avançou quase 4% entre janeiro e março deste ano.

No geral, a melhora das margens ajudou, também com contribuição decisiva da BRF. No consolidado, a margem Ebitda da Marfrig subiu de 4,6% para 8,7%. Na BRF, a margem mais que triplicou, chegando a quase 16%.

A empresa comprada compensou com sobras o desempenho das operações da National Beef, na América do Norte. Por lá, a margem Ebitda caiu de 3,9% em 2023 para 2,1% neste ano. Segundo Tim Klein, CEO da National Beef, esse cenário ainda está longe de melhorar.

“O preço do gado ainda está alto, subiu cerca de 12% em um ano, e pela dinâmica do mercado, esse cenário só deve melhorar mesmo em 2027”, afirma Klein.

Ele acredita que as margens podem melhorar nos próximos trimestres de 2024, já que começa a temporada de churrasco na América do Norte, aumentando a demanda por carne bovina. Em volume e receita líquida, esse efeito do calendário já aparece, com crescimentos de 2,5% e 9,5%, respectivamente.

Mudando rumos das exportações

Nos últimos trimestres, Rui Mendonça, CEO das operações da Marfrig na América do Sul, vem falando da estratégia de diminuir a participação da China no total de exportações da companhia. Os números confirmam esse novo rumo.

Nas receitas da operação com exportações, a participação da Ásia, que inclui China e Hong Kong, caiu de 69% para 61% em um ano. O maior avanço nesse quesito foi do Oriente Médio, onde a BRF é muito forte, que passou de 3% para 11%.

“Nós conseguimos 27 novas habilitações para exportar neste ano, o que nos permite buscar mercados com margens melhores”, afirma Mendonça.

No ano passado, a Marfrig já tinha conseguido 36 novas habilitações, abrindo caminho para vender em mercados como o México. “Fomos responsáveis por mais de 50% da carne bovina exportada para lá neste primeiro trimestre”, conta o executivo.

Ele cita ainda países como Vietnã, Coreia e Japão como destinos muito promissores para a companhia a partir deste ano.

Mas isso não resulta em uma espécie de desprezo ao mercado chinês. Mendonça cita que a Marfrig tem a única planta brasileira autorizada a exportar produtos industrializados para a China. “Também já podemos vender esse tipo de produto para o Reino Unido, onde estamos entrando e já tivemos as primeiras exportações”.

Os industrializados também são a aposta da companhia nos mercados domésticos na América do Sul, respondendo por cerca de 20% das receitas.

“Cerca de 60% dos industrializados que produzimos na região é direcionado para os consumidores locais, e já somos líderes em hambúrguer em diversos mercados”, afirma Mendonça.

Na América do Sul, a Marfrig teve receita líquida de R$ 3 bilhões, com avanço de 11%. O Ebitda da operação ficou em R$ 290 milhões, com avanço de 7,4%. A margem Ebitda ficou praticamente estável, em 9,6%, e só não foi melhor porque o Custo do Produto Vendido subiu mais de 11% em um ano.