Prestes a assumir uma nova posição da dsm-firmenich na Europa, o brasileiro Sérgio Schuler, que há 3 anos atua como vice-presidente da área de ruminantes na América Latina, admite que 2023 foi mesmo um ano de vacas magras para todos os envolvidos na pecuária.
"Este ano não vamos crescer. Eu participei de dois anos ótimos em termos de receita na dsm, mas o primeiro semestre de 2023 foi marcado pelo preço mais baixo da arroba e também pelo ajuste nos valores dos produtos", explicou Schuler, ao conversar com o AgFeed após uma apresentação da empresa a jornalistas, nesta segunda-feira, em São Paulo.
Dona de uma das mais tradicionais marcas de nutrição animal, a Tortuga, a multinacional não divulga números específicos para o Brasil. No último balanço trimestral divulgado globalmente a empresa, os dados da unidade de negócios de nutrição e saúde animal mostraram queda de 91% no Ebitda ajustado alcançado entre agosto e outubro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022. Na receita, a redução nesta unidade de negócio foi de 16%.
Sérgio Schuler destaca, no entanto, que no Brasil a segunda metade do ano já mostrou sinais de recuperação, com perspectivas otimistas que devem ser reforçadas em 2024.
Um dos principais termômetros de mercado para a empresa é o número de animais confinados. Há 9 anos a dsm faz um censo dos confinamentos do País, que ajuda a demonstrar não apenas os números totais do rebanho, mas também os níveis de rentabilidade da atividade pecuária.
Pela primeira vez desde 2015, os dados colhidos em 2023 mostraram que houve estabilidade no confinamento – que, segundo o censo da companhia, totalizou 7,029 milhões de cabeças de bovinos neste ano.
Desde 2016, o número de animais confinados vinha crescendo cerca de 6% ao ano. No ano passado estava em 7,04 milhões de bovinos, 4% acima do ano anterior.
Um dos motivos para o menor estímulo dos pecuaristas foi a margem negativa, que ficou em R$ 80 por animal confinado em 2023, de acordo com a dsm.
O gerente técnico de confinamento da dsm-firmenich, Hugo Cunha, explicou que, apesar dos preços de commodities como soja e milho estarem mais baixos durante boa parte do ano, o que mais pesa nesta conta é o custo dos animais que haviam sido comprados ainda na fase de alta.
"A expectativa é de aumento no número de animais confinados em 2024, especialmente por causa do clima, já que a chuva atrasou, o pasto vegeta menos e leva o produtor a ter que investir mais", disse Cunha.
Um indicador apresentado pela companhia, chamado de “lucro por boi”, estava negativo em R$ 496 até setembro deste ano, mas já passou para o campo positivo e está sendo projetado em R$ 794 para janeiro.
Foco na alta tecnologia e baixo carbono
Para retomar o crescimento a partir do ano que vem, a dsm-firmenich não conta apenas com a recuperação nas vendas dos produtos tradicionais, como o sal mineral.
"Acredito muito na linha que chamamos de performance solution, que traz ganhos de produtividade ao pecuarista”, destacou Sérgio Schuler.
Segundo o executivo, esta linha de produtos se mostrou mais resiliente durante o período de crise. “Apesar de serem mais caros, quem continuou investindo seguiu crescendo. Por isso, é um segmento que avança acima da média do mercado".
Entre os produtos de alta tecnologia estão as soluções que vêm sendo desenvolvidas com foco em práticas mais sustentáveis na pecuária, o que inclui a redução de emissão de metano por parte dos bovinos.
Schuler disse ao AgFeed que a empresa já está gerando receita no Brasil com a venda do produto Bovaer, um aditivo de ração que promete reduzir em 30% as emissões dos animais.
"Mas a produção é limitada, por isso não estamos divulgando tanto”, disse. Isso deve acontecer quando estiver pronta uma fábrica, em construção na Escócia, para a produção do Bovaer. A previsão de conclusão é para 2025.
Segundo Schuler, o potencial de vendas do Bovaer globalmente pode ser estimado em US$ 500 milhões, pelo menos, à medida que poderia virar um “blockbuster da indústria".
Ele acredita que o desenvolvimento do mercado de carbono e a possibilidade de gerar créditos a partir da agropecuária serão fatores importantes para definir este potencial.
Atualmente, segundo Schuler, os produtos com alta tecnologia representam entre 10% e 15% do faturamento da empresa. “Acredito que esta participação possa dobrar nos próximos 3 anos”.
Mudanças na gestão da empresa
Sérgio Schuler anunciou que em breve se muda para a Europa para assumir uma posição de vice-presidente responsável por nutrição animal, tanto de ruminantes, quanto de aves, suínos e aquacultura, em diferentes regiões do mundo.
"O desafio é enorme, porque, além da Europa Oriental e Ocidental, o que inclui a área do conflito de Rússia e Ucrânia, tem todo o Oriente Médio e a África, uma região que tem um potencial enorme para se desenvolver na produção de alimentos e proteína”, ressaltou.
A área de ruminantes na América Latina agora fica sob a liderança de Luiz Fernando Magalhães, que já respondia por aves e suínos e está há 7 anos na DSM. A empresa passa a ter um único líder para saúde e nutrição animal, incluindo todas estas categorias.
Schuler participou diretamente da compra da Prodap em 2022. A empresa mineira de soluções em tecnologia digital tornou-se uma importante aposta da dsm-firmenich atualmente, estando no centro da estratégia global da multinacional para a pecuária de precisão.
"Com esta mudança a expectativa é internacionalizar esta estratégia, que chamamos de tríade, quando se une a plataforma digital, o software, com o serviço, a consultoria, e os produtos nutricionais, numa oferta combinada”, afirmou Schuler, que seguirá tendo contato com o Brasil, já que continua também como presidente do GTPS, Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável.