Se depender do empreendedor Ari Rocha, sócio e CEO da Verdureira Agroindústria, a salada pronta para consumo da empresa estará disponível em todo território nacional nos próximos anos.

Especializada na produção e venda de saladas prontas, a empresa recebeu, no ano passado, um aporte de R$ 10,3 milhões da gestora Baraúna Investimentos e agora coloca em ação um plano de expansão geográfica.

Instalada em São Roque, a 60 quilômetros de São Paulo, a companhia iniciou o processo com a comercialização no interior de São Paulo. “O produto foi muito bem recebido no interior, uma grata surpresa para nós”, conta Rocha.

Assim, a meta atual, segundo o CEO, é a abertura de uma nova unidade de produção no interior do estado nos próximos anos. E, em seguida, começar a traçar o modelo para levar seus produtos, de forma mais consistente, para outros estados.

Rocha conta que atualmente um cliente leva as saladas prontas de avião para Manaus, mas não é esse cenário que a empresa quer ter no futuro.

“Salada não deveria viajar. A solução de levar a estrutura da estufa e da fazenda periurbana é um objetivo. Queremos ser uma marca de saladas conhecida nacionalmente”, afirma Rocha.

A empresa, com três décadas de história, se transformou em meados de 2020. Criada por duas empresárias nos anos 1990, a Verdureira, que costumava comprar suas hortaliças de terceiros, se tornou uma agroindústria e internalizou parte da sua produção.

Isso ocorreu depois da entrada de Rocha e de outros sócios na empresa, entre 2017 e 2018. Eles deram novos rumos ao negócio, que saltou de uma carteira de 80 clientes em 2018 para os atuais 350.

A Verdureira não abre seus números de faturamento, mas o CEO afirma que a receita cresceu 50% de 2022 para 2023. “Neste ano a tendência, pelo desempenho que anotamos no primeiro trimestre, é faturar o dobro de dois anos atrás”.

Além de dar início na expansão, o aporte serviu para a empresa mudar a técnica e escalar sua produção de hortaliças. A Verdureira trocou sua produção feita por hidroponia pela técnica do floating, onde as hortaliças são cultivadas em uma espécie de piscina, em um sistema chamado de DWC (sigla, em inglês, para Deep Water Culture, ou cultivo em água profunda, em uma tradução literal).

Nos cálculos da empresa, o DWC consome 1% da água usada no cultivo convencional e alcança uma produtividade 12,5 vezes maior. Segundo Rocha, atualmente a empresa produz 26 toneladas de hortaliças por mês. Até o final do ano, a expectativa é que a Verdureira seja capaz de produzir mensalmente 39 toneladas de hortaliças.

A história da Verdureira

O atual CEO Ari Rocha divide a história da Verdureira em duas etapas. Quando foi fundada nos anos 1990, as duas fundadoras, que recém tinham visitado a Europa, viram a oportunidade de fornecer saladas higienizadas e prontas para o consumo.

Em 2017, em um momento de vida diferente, as empresárias decidiram vender o negócio. Rocha ficou sabendo da oportunidade e, com outros sócios, viu uma chance de empreender. Até então, o executivo morava em Nova Iorque, nos EUA, onde trabalhava na Ambev.

Depois de uma carreira de mais de 20 anos na multinacional, onde entrou como trainee, ele viu a chance de retomar o sonho de empreender, que havia ficado adormecido desde a época da faculdade;

A primeira impressão sobre o negócio foi ótima. “Um produto único no mercado, presente nas principais redes e com preços de prateleira até 50% acima dos concorrentes”, conta.

Em abril de 2018, após alguns meses de conversa, ele e os sócios assumiram oficialmente a Verdureira. Até então, a antiga administração comprava as hortaliças de produtores parceiros, geralmente do Ceagesp, higienizava, embalava e revendia para os supermercados.

Segundo Rocha, no primeiro verão de operação eles notaram que essa cadeia era “frágil”. “No momento em que a demanda aumenta, que é nos meses mais quentes do ano, é mais difícil de produzir hortaliças. A demanda maior que a oferta faz os preços subirem e o custo também”, diz.

Sentindo que a marca tinha valor, ele resolveu insistir no negócio e, ainda morando nos EUA, foi estudar os modelos de negócios de empresas parecidas fora do Brasil. “Lá elas são donas da cadeia, desde a produção até a comercialização. Vi que para nosso negócio ser viável e interessante precisávamos ser donos também”.

Então, em 2019, a Verdureira passou a verticalizar a operação e cultivar as hortaliças com a técnica da hidroponia, em que, ao invés de serem plantadas no solo, crescem em estruturas com canaletas, onde, através de lâminas d’água, recebem nutrientes.

Na ocasião, a empresa saiu de sua sede em Osasco e foi para uma “fazenda” de 10 mil metros quadrados, ou um hectare, em São Roque. Hoje, a empresa possui mais uma área de 5 mil metros quadrados.

Em maio de 2020 veio a primeira colheita própria e, atualmente, pouco mais de 50% de todas as saladas vendidas são produzidas pela própria Verdureira. “No momento, caminhamos para atingir a autossuficiência na verticalização”, afirma Rocha.

Além da venda de verduras como alfaces, rúcula e agrião, a empresa também possui uma linha comercial de legumes cozidos. Nesse caso, as matérias primas são compradas de terceiros.

A criação das piscinas

Mesmo com parte da produção já feita pela própria empresa, a ideia era alçar voos mais altos no negócio. Depois de um ano com a primeira estufa produzindo as hortaliças, a empresa queria ampliar a capacidade produtiva.

Rocha e seus sócios então se depararam, em 2021, com a técnica do DWC, mais conhecida no Brasil como “floating”. Na prática, consiste em utilizar uma pequena piscina de 20 a 25 centímetros, com hortaliças plantadas em placas que bóiam na superfície. Segundo o sócio, na época não existia nada em escala comercial no Brasil, apenas pequenos produtores que faziam cultivo por floating por hobby.

Depois de um projeto piloto que, segundo ele, comprovou que os custos eram menores, a Verdureira começou com a primeira piscina naquele ano. O desafio da vez era escalar a produção.

Rocha passou um pequeno tempo na Holanda, onde esse tipo de cultivo é mais tradicional, e viu que era possível aumentar essa capacidade na operação aqui. Foi nessa etapa da jornada que a Baraúna Investimentos entrou na jogada.

Com o cheque, a empresa comprou a segunda fazenda e construiu as piscinas. Hoje são 16 unidades construídas, mas com apenas parte delas operando com capacidade máxima.

A Baraúna tem reforçado sua aposta no agro. Nos últimos anos, participou de rodadas de investimento nas agtechs umgrauemeio, Cromai e Symbiomics.

Passado o aporte da Baraúna, a empresa não se vê participando de novas rodadas de investimento a curto ou médio prazo. Segundo Rocha, para atingir as metas internas do negócio, deve crescer tomando dívida, seja dos próprios sócios ou por algum título no mercado.