Depos de oito meses à frente de um trabalho de reorganização do AgoGalaxy, Welles Pascoal anunciou na manhã desta terça-feira, 6 de fevereiro, que voltará a se focar exclusivamente na Alma Mineira, vinícola que mantém no Sul de Minas Gerais.

Seu lugar no comando da rede de distribuição de insumos agrícolas será ocupado, a partir de março, pelo argentino Axel Labourt, atual COO da companhia. Neste seu último comunicado público como CEO, Pascoal afirmou que a mudança é o último passo de uma longa etapa de ajustes feitos na empresa desde que voltou a posto, em junho do ano passado.

"Concluímos a primeira etapa de um plano que foi executado para construir uma empresa com estrutura capaz de atravessar esses períodos conturbados que o agro tem enfrentado", disse Pascoal.

Labourt vai receber de Pascoal uma empresa mais enxuta e reestruturada em várias frentes. A última etapa das mudanças no AgroGalaxy, anunciadas também nesta terça, foram ajustes no organograma da organização, com a readequação da estrutura de negócios em cinco vice-presidências regionais, a redução de dois níveis hierárquicos entre o CEO e as equipes de vendas e a supressão de 80 posições dentro das equipes.

"O resultado dessas mudanças é uma estrutura corporativa mais enxuta, em que a maiora das decisões será tomada mais próxima das lojas, que é onde os negócios acontecem", disse Labourt, em sua primeira fala como futuro CEO.

Segundo o executivo, 19 lojas sofrerão de forma mais direta os efeitos dessa reorganização, devendo ser encerradas e absorvidas por outras unidades próximas. O desenho geográfico da estrutura de comando, que antes era baseada em duas "torres" de liderança - Norte (responsável pelos estados de Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará e Acre) e Sul (com Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais), será dividida em cinco vice-presidências: Sul (PR), Sudeste (Campos Gerais, SC, SP e MG), Cerrado Oeste (MT, PI e PA), Cerrado Leste (GO, MA, TO) e Mato Grosso do Sul.

"Teremos uma economia significativa com esse redesenho, que nos permitirá transitar por esse momento conturbado", afirmou Labourt, sem revelar valores. "Além disso, conseguiremos acompanhar melhor a dinâmica de cada uma das regiões. São muitos Brasis em um só".

Em novembro passado, ao divulgar o balanço do terceiro trimestre de 2023, o AgroGalaxy havia estimado em R$ 50 milhões a redução nas despesas feitas após o retorno de Pascoal ao comando da companhia.

O AgroGalaxy foi o primeiro grupo a tratar publicamente do momento difícil enfrentado pelo setor de distribuição de insumos no Brasil, pego com estoques muito altos ao mesmo tempo em que preços de commodities e dos próprios insumos caíam de forma rápida, o que afetou diretamente o caixa das empresas.

Em junho passado, Pascoal, que havia liderado o IPO da companhia e se afastado meses depois, foi chamado de volta pelo principal acionista, o fundo Aqual Capital, para comandar o processo de reestruturação da empresa, assumindo o lugar que era de Sheila Albuquerque, que havia se licenciado para tratar de problemas de saúde.

Desde então, a empresa anunciou uma série de mudanças no time de lideranças, entre elas a chegada de Labourt como COO e a de Eron Martins como CFO. Labourt e Pascoal têm longa trajetória juntos. Durante vários anos, foram parceiros na Dow, então presidida por Pascoal. Posteriormente, com a fusão da empresa com a DuPont, o argentino liderou o processo de integração e, ao seu final, assumiu a posição de presidente da Corteva, que resultou da união, para o Cone Sul.

"Quando voltei ao AgroGalaxy, vim com um mandato determinado, com a missão de comandar o processo de ajustes e criar um sucessor. O Axel veio para me ajudar e, desde o início, estava entre os possíveis sucessores", contou Pascoal.

Em dezembro passado, perguntado pelo AgFeed se continuaria no cargo ou voltaria a se dedicar exclusivamente aos, o atual CEO despistou. "Entre a adrenalina e os vinhos, fico com os dois", disse. "Meu acordo com os sócios é ficar até o fim do processo de reorganização e de identificação de um possível sucessor".

A adrenalina, agora, fica para Labourt e Martins, que continua à frente da área financeira da companhia. "Terminamos o serviço", disse o CFO na conversa com jornalistas em que os três líderes do AgroGalaxy anunciaram as novas medidas. "Outras empresas do setor talvez ainda tenham que passar pelo que já passamos".

Menos lojas, mais margens

Com a reorganização, o número de unidades da rede AgroGalaxy, que já chegou a 170, deve ficar em torno de 150. Labourt garantiu, porém, que nenhuma região deixará de ser atendida, com os representantes de venda mantidos, mas apenas reorientados para ter como base a loja mais próxima.

De acordo com Martins, o saldo de 80 posições encerradas indica sobretudo cortes nas áreas administrativas, com o enxugamento de níveis hierárquicos, mas, em alguns casos, pode ter ocorrido até mesmo "abertura de posições adicionais nas regiões, para atender ao novo desenho organizacional".

O foco da companhia, como tem ocorrido nos últimos meses, é, nas palavras de Martins, "trazer o AgroGalaxy para o patamar de revendas". Assim, confiando mais em decisões ágeis, em níveis locais, a empresa espera recuperar margens que permitam atravessar os próximos anos sem dificuldades, independente do cenário que se apresente.

"É muito cedo para fazer prognósticos para o ano", afirmou Labourt. "Acreditamos que o primeiro semestre virá em linha com o que foi 2023, mas no segundo, se as condições de clima melhorarem, estamos prontos para ter um resultado muito melhor".

Martins concorda. Para ele, 2024 ainda vai apresentar margens apertadas, mas com menos sustos, já que os preços dos insumos já sofreram ajustes e as cotações de commodities estão em patamares baixos, com potencial de recuperação. "Se vier como 2023, já teremos um ano bom. Mas se tiver um sopro de La Niña, com volta de chuvas mais regulares, estamos muito bem posicionados", avaliou o CFO.

O último balanço divulgado pelo AgroGalaxy mostrava, em novembro passado, o impacto das medidas que vinham sendo tomadas. Apesar de queda de 23% na receita líquida do trimestre, que ficou em R$ 2,4 bilhões, a empresa comemorou na ocasião o fato de as margens terem se mantido em patamar semelhante ao do mesmo período no ano anterior.

“Vender com muito mais margem tem impacto muito maior do que vender muito. Estamos vendendo menos, mas vendendo bem. E a porcentagem de margem se traduz em melhor Ebitda”, disse, então, Martins.

O discurso otimista, assim, permanece. "A maneira como a gente vem construindo essa reorganização não tem surpresa", disse Martins nesta terça.

Outro ponto ressaltado recentemente pelos executivos do AgroGalaxy foi o aporte de R$ 150 milhões feito pelo Aqua Capital, que possui cerca de 52% de participação na companhia, pouco antes do encerramento de 2023. Na ocasião, Eron Martins, adiantou ao AgFeed que os demais acionistas seriam “convidados” a também participarem no processo de capitalização.

Nesta terça, Martins disse que as conversas com os demais acionistas estão "avançadas, com viés bastante positivo", mas que ainda não podia antecipar nenhuma informação a respeito. "Não chamamos esse movimento de aporte, mas de voto de confiança de que estamos no caminho certo", afirmou.