Dona da segunda maior frota de aviões agrícolas do mundo, a agricultura brasileira avança também na adoção das chamadas aeronaves não tripuladas, com maior ênfase aos drones, usados principalmente no trabalho de pulverização das lavouras contra pragas e doenças.

Uma estimativa do Sindicato Nacional de Aviaçao Agrícola (Sindag) indica que pelo menos 10 mil drones já devem estar em operação na agricultura brasileira até o fim do ano.

O Brasil já aparece em quarto lugar, mundialmente, em número de drones, perdendo apenas para a China, Japão e Coreia do Sul, segundo o pesquisador da Unesp, Vicente Cornago.

A lei determina que todos os equipamentos e também os operadores sejam registrados junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e também ao Ministéiro da Agricultura. Porém, o contraste entre a lentidão dos trâmites burocráticos e o ritmo acelerado de adoção da agricultura digital do campo, faz com que o número de registros e a quantidade real de drones voando pelas lavouras ainda estejam muito distantes.

No sistema da ANAC constavam 113.273 aeronaves não tripuladas registradas no dia 16 de maio. Porém, apenas uma pequena parte destes equipamentos é utilizada para a agricultura. Em menor número estão os drones que captam imagens e dados, ajudando a abastecer plataformas digitais que fazem a gestão das atividades nas fazendas.

Já o maior crescimento vem ocorrendo no uso de drones voltados à pulverização agrícola, que oferecem uma distribuição mais uniforme, racional e assertiva dos agroquímicos, segundo os especialistas.

Um levantamento feito pelo pesquisador Vicente Cornago da Unesp indica que do total de registros da ANAC – na época eram 111 mil drones – menos de 1,3 mil eram usados para pulverização e aplicação de insumos.

"Mas o crescimento tem sido muito grande, entre 2021 e 2022, o número de registros na ANAC avançou 76%”, diz Cornago.

Outra tendência é o uso de drones para aplicação de produtos biológicos nas lavouras. Os microrganismos estão contidos em cápsulas que são depois distribuídas de acordo com a programação agronômica.

Além disso, os drones também são bastante utilizados para aplicar determinados tipos de fertilizantes e também sementes, em culturas que utilizem grandes extensões de terra.

Novas regras

Até abril só estavam 100% aptos a voar de forma regular – desde que estivessem registrados - os equipamentos da chamada classe 3, com no máximo 25kg de peso, incluindo a carga do produto a ser aplicado.

A classe 2, entre 25kg e 150kg, bastante utilizada na pulverização, precisava ter, além do registro na ANAC, uma pré-autorização para cada vez que o equipamento fosse voar.

No início de maio, a ANAC de certa forma aplicou as normas da classe 3 para a 2, mas somente no caso de operações aeroagrícolas, como no caso da aplicação de fertilizantes e defensivos.

"Essa autorização para cada operação, exigida antes, era inviável para a atividade agrícola de pulverização, por isso era uma demanda do setor, com a mudança nas regras há um incentivo às boas práticas" explica Fábio Kagi, diretor de Assuntos Regulatórios do Sindiveg, entidade que representa as empresas fabricantes de agroquímicos.

Kagi alerta que as regras de segurança continuam valendo como, por exemplo, a proibição de voar a 30 metros de pessoas, algo que já existia para a classe 3.

A mudança também foi considerada muito favorável pelo Sindag, que representa o setor de aviação. "É uma medida que coloca dentro da legalidade esta faixa de drones um pouco maiores, por isso pode transformar este mercado e dá oportunidade para que mais empresas possam prestar este serviço", disse ao AgFeed o diretor executivo do Sindag, Gabriel Colle.

Drones x aviões

O custo mais baixo e o menor desperdício de produto oferecidos pelos drones levantam a questão sobre uma possível substituição, futuramente, dos aviões agrícolas.

O Brasil só perde para os Estados Unidos em número de aviões agrícolas, o que tem deixado a indústria norte-americana cada vez mais próxima das empresas daqui. Enquanto a Embraer fabrica 50 aviões Ipanema por ano – sempre todos vendidos – os brasileiros compram no mínimo 120 unidades, anualmente.

Gabriel Colle diz que o Sindag, que sempre representou fabricantes e prestadores de serviço de aviões, já conta com 15 produtores de drones entre os associados. Além disso, empresas de aviação agrícola estão incorporando drones ao portfolio.

"Não acredito em uma substituição total, mas o uso de drones tende a avançar, já que pode chegar a áreas onde hoje aviões e helicópteros não conseguem atender", afirmou Colle.

O dirigente diz que ainda há dificuldades técnicas para os drones porque ainda falta avançar na regulamentação e algumas inovações acabam chegando muito rápido, fazendo com que até mesmo pessoas que não são da agricultura invistam na atividade.

Para os pesquisadores que se dedicam ao tema, é possível que no prazo de 5 a 10 anos os drones de maior porte, da classe 1, acima de 150kg, possam substituir aviões. Porém, ainda são vistos como complemento na atividade como um todo e não como uma substituição total.

Vicente Cornago, da Unesp, diz que o custo operacional destes equipamentos é 60% mais barato do que o avião agrícola tradicional. Além disso, o drone é bastante indicado para culturas como café, laranja, banana ou áreas em declive.

"O avião custa R$ 2500 por hora, enquanto o drone fica em R$ 250, porém, enquanto o drone percorre 20 hectares por hora, o Ipanema alcança 200 hectares", explica Cornago.

Os drones de classe 1, de maior porte, ainda não estão liberados pela ANAC para as atividades agrícolas no Brasil.

Segundo os pesquisadores, algumas empresas multinacionais vêm fazendo testes em campo, em conjunto com universidades. Cornago afirma que alguns tipos de avião já perdem para o drone tipo "Vant”, de maior porte, que faz 120 hectares com custo menor. Mas o desafio ainda é a troca de bateria, diz ele.