Cuiabá (MT) - Crescer 700% em receita nos últimos oito anos foi apenas uma das conquistas da Agro Amazônia, hoje uma das principais empresas que comercializam insumos agrícolas no Brasil. A companhia também vem avançando em aquisições, aumentando investimentos para faturar mais com sementes e abrindo cerca de 10 novas filiais a cada ano.
Desde 2015, a companhia que já atua no setor há 41 anos, tem como sua controladora a japonesa Sumitomo Corporation, que vem garantindo fôlego suficiente para expandir o negócio em tempos de bonança, além de fazer a empresa “sofrer menos” quando o cenário ficou negativo.
Em 2023, o CEO da Agro Amazônia, Roberto Motta, chegou a dizer. em entrevista ao AgFeed, que a receita da empresa cresceria 7%, atingindo R$ 6 bilhões, um resultado muito diferente do setor de insumos como um todo, que foi marcado por queda nas vendas no ano passado.
“Não deu para atingir essa meta pois os preços dos insumos caíram muito”, afirmou Motta na última quinta-feira, ao conversar novamente com o AgFeed, desta vez durante um evento da empresa para seus clientes, em Cuiabá, capital de Mato Grosso.
O executivo alega que o desempenho em volume de vendas foi bom, mas que a queda de 45% nos preços dos fertilizantes e de 30% em agroquímicos estão entre os fatores que impediram a empresa de crescer em receita no ano passado.
Em 2022, a Agro Amazônia havia alcançado um faturamento de R$ 5,6 bilhões, chegou a projetar superar o patamar de R$ 6 bilhões em meados do ano passado, mas acabou registrando uma receita de R$ 4,8 bilhões, revelou o CEO.
Apesar do resultado, a empresa garante que “a Sumitomo segue acreditando muito no agro do Brasil” e promete manter investimentos para expandir os negócios.
“Em 2024 vamos buscar os R$ 6 bilhões e agora com o incremento vindo das sementes”, ressaltou Motta.
Até 2015, quando a Sumitomo entrou no negócio, a Agro Amazônia tinha 25 filiais e faturava cerca de R$ 600 milhões. Atualmente, são 70 filiais em nove estados: Mato Grosso, Mato Grosso Sul, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão, Pará, Rondônia e Acre.
O CEO admite que o momento atual é difícil, em meio a queda dos preços das commodities no ano passado, problemas climáticos e aumento dos casos de recuperação judicial
“Mas a gente acredita, porque a gente não olha o hoje, a gente olha sempre a médio e longo prazo. E o agronegócio, a médio e longo prazo, não tem erro. Eu estou nesse negócio há 38 anos”, afirmou.
Mais de R$ 180 milhões em investimentos
Na última quinta-feira, em Cuiabá, a Agro Amazônia promoveu um jantar com música ao vivo para seus clientes chamados de “Classe AA”, ou seja, aqueles que se destacam na carteira e que devem ser os primeiros a participar de um programa de fidelidade, que está sendo lançado pela empresa.
O AgFeed apurou, com quem circulava por lá, que o conjunto de produtores rurais presentes no evento somariam mais de 200 mil hectares de grãos. Eram clientes não apenas de Mato Grosso, mas também de diversos outros estados.
No mesmo dia, durante a tarde, boa parte deles participou de uma visita ao novo Centro de Distribuição (CD) da Agro Amazônia, próximo a Cuiabá, que deve ser inaugurado em 40 dias.
“Levamos eles para conhecer o nosso novo CD, que tem 14 mil metros quadrados, sendo 7 mil metros quadrados para sementes de soja, de milho, com a temperatura controlada a 10 graus, umidade relativa controlada a 65%. É ultramoderno, todo computadorizado, espetacular”, contou Roberto Motta, entusiasmado, ao AgFeed.
Ele não revela quanto está sendo investindo na construção do novo centro, mas diz que para a construção de novas filiais este ano estão previstos R$ 30 milhões e reforça que o principal investimento mesmo é a IBS – Indústria Beneficiadora de Sementes – em Patos de Minas-MG, que está sendo construída este ano com aporte estimado em R$ 150 milhões.
A expansão em Minas foi facilitada pela compra da Nativa Agronegócios, em dezembro de 2022. A empresa tem 10 lojas, uma fábrica de fertilizantes e uma estação experimental de 52 hectares, que já vendo sendo utilizada para dias de campo e treinamentos da Agro Amazônia. A companhia conta com 1,4 mil colaboradores, sendo 400 engenheiros agrônomos.
A IBS deve começar a operar no ano que vem, com beneficiamento de 500 mil sacas de sementes de soja, mas a capacidade é o dobro disso.
Quanto à abertura de filiais, Motta disse ao AgFeed que talvez reduza o ritmo este ano, abrindo 7 ao invés das tradicionais 10 novas lojas anualmente. O plano já divulgado pela empresa é ter 120 filiais até 2028. Este ano, estão sendo abertas novas unidades em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rondônia.
O segmento mais promissor é a venda de sementes, em função de resultados já alcançados em 2023. Segundo o CEO, “em 41 anos, o agroquímico sempre foi o segmento número 1 da Agro Amazônia”, mas esse foi o primeiro ano que as sementes ficaram em primeiro lugar, respondendo por 40% do negócio.
Nesta safra a expectativa é manter a fatia das sementes neste patamar em função da boa demanda pela marca Dagma, uma parceria em que 50% pertence à Agro Amazônia e 50% são da GDM.
“Essa semente ajudou muito o agricultor em produtividade nesse momento de seca, de temperaturas altas. Ela explodiu, cresceu muito” afirmou Motta.
A comercialização de sementes chegou a quase 2,2 milhões de sacas em 2023 e a expectativa para este ano é vender 2,6 milhões.
Marcelo Cassiolato, vice-presidente comercial, também se mostrou animado com as sementes. “Nosso primeiro plano era faturar R$ 1 bilhão em 2 anos com as sementes, valor que já atingimos esse ano. Agora o plano é 3 milhões de sacas de sementes de soja. Já foram mais de 2 milhões no ano passado, falta 900 mil, quem sabe em breve não teremos que fazer um novo plano”, afirmou.
Mais do que pensar em market share e volume, segundo ele, a prioridade tem sido investir na qualidade e no melhor tempo de entrega das sementes. “Por isso investimos na IBS e no novo CD”.
Sobre novas aquisições, ele diz que a Agro Amazônia “está sempre pronta, desde que faça sentido para o negócio”. Cassiolato admite que durante um tempo o movimento perdeu o sentido devido a preços abusivos no mercado, mas avalia que o cenário é de volta à normalidade e que a empresa “está preparada para aproveitar”.
Interesse em Fiagro-FIDC
O AgFeed também conversou com o novo CFO da Agro Amazônia, Adriano Araújo, que revelou estar conversando com “5 ou 6 parceiros” para um possível lançamento de um Fiagro-FDIC, o que pode ocorrer ainda este ano.
“Somos uma subsidiária da Sumitomo Corporation, por isso temos estrutura de funding muito interessante, com recurso competitivo. Mas olhamos com bons olhos estes fundos para alavancar ainda mais o negócio, é algo que estamos estudando”, afirmou.
Entre as opções disponíveis no mercado de capitais, ele diz ter preferência pelo Fiagro-FIDC em função de acessar recursos de pessoas físicas sem a tributação de Imposto de Renda.
De um lado, acredita que assim a empresa poderia ofertar mais crédito a taxas de juros menores, acessando um número maior de clientes e, de outro, é uma chance de dividir o risco com os bancos parceiros, por exemplo.
“Hoje temos uma capilaridade muito grande, presença em 9 estados e mais de 25 mil clientes. Muitos bancos não têm isso e querem participar do mercado também, por isso há vários candidatos”, contou Araújo.
Caso a proposta vire realidade, ele diz que gostaria de começar com um fundo de pelo menos R$ 100 milhões, “mas ainda é cedo para dizer”.
Sobre a preocupação com o aumento na inadimplência na safra 2023/2024, o executivo diz que “atrapalha, demanda mais capital de giro, mas a Agro Amazônia tem sido bem sucedida em trabalhar próxima de seus clientes para conseguir receber, à medida que tem relacionamento de 30 anos, com muitos deles”. Na visão dele, a empresa está sofrendo menos do que o mercado em geral.
O AgFeed apurou que a inadimplência histórica do segmento de revendas de insumos ficava entre 1% e 3% e que, desta vez, alguns players chegaram próximos de 10%. “Mas a Agro Amazônia está longe disso”, garantem os executivos.
Cassiolato, diretor comercial, disse que na região atendida pela Agro Amazônia foram registrados 50 pedidos de recuperação judicial (RJ) e a empresa “entrou em algumas”. Mesmo assim, também reforçou que impacto foi minimizado pelo sistema de crédito que a empresa possui.
“A recuperação judicial é uma ferramenta importante. Alguns fizeram a coisa certa, deram a volta por cima e continuam nossos clientes. Mas outros estão usando de forma um pouco errônea, o que gera um impacto muito grande. É algo que precisa ser repensado no mercado”.
Barter x armazenagem
Um dos desafios para o futuro da Agro Amazônia é aumentar o percentual de negócios fechado via barter, as operações em que o produtor compra insumos e, em troca, entrega os grãos.
“Nós acabamos de contratar um novo gerente de barter, um cara muito experiente, que trabalhou em várias multinacionais, é a nossa top priority”, disse o CEO ao AgFeed.
Roberto Motta afirmou que, atualmente, 15% dos negócios da Agro Amazônia são fechados via barter e que gostaria de chegar em 25%, pelo menos. Para que isso ocorra, uma das premissas é oferecer mais estrutura de armazenagem.
Edmarcio Silva, vice-presidente de marketing, informou que estão sendo feitas análises financeiras para eventuais investimentos em silos. “Estamos identificando as regiões do Brasil que têm déficit de armazenagem”.
Caso o investimento seja aprovado, é provável que a construção só esteja concluída no ano que vem. Silva adiantou apenas que entre as regiões “candidatas” a receber os investimentos estão Rondônia e Mato Grosso do Sul.
Programa de fidelidade
No encontro da semana passada, a empresa apresentou os detalhes do chamado Classe AA Benefícios. O que era antes apenas um grupo de clientes preferenciais, agora está virando um programa de fidelidade, com apoio de uma empresa que já desenvolve projetos semelhantes no agronegócio, a Coaliza.
“O programa foi desenhado para levar benefícios não convencionais, alguns dedicados, especializados, de acordo com uma segmentação de cliente, adicionando mais serviços, além daqueles que já oferecemos”, disse Edmarcio Silva.
Na prática, a empresa pretende oferecer soluções que vão além da questão agronômica, como por exemplo, consultoria de gestão, para quem tiver interesse.
Na primeira etapa, a cada aquisição de produtos e serviços na Agro Amazônia, os clientes acumulam pontos que podem ser convertidos em vouchers de desconto em novas compras, oferecendo mais poder de compra ao produtor e alguns benefícios exclusivos, com foco em produtividade.
Para o CEO Roberto Motta, um dos diferenciais será o fato de funcionar “sem burocracia”, já que não será necessário cadastrar notas fiscais.
O programa está sendo lançado com a participação de marcas como Timac, Omex, Adama, Sumitomo, Nortox, Helm, Sempre, Safrasul, Paplotla, MSD, Ceva e Boehringer, entre outras.