Que o mercado de biológicos cresce em passos largos não é novidade para ninguém. Nos cálculos da CropLife, por exemplo, o setor de biológicos no Brasil deve crescer 35% em 2023 quando comparado com a safra anterior, movimentando um valor de R$ 4 bilhões.

Essa nova avenida de crescimento no mundo dos insumos tem movimentado uma série de iniciativas, e feito empresas investirem cifras milionárias para conquistar esse mercado.

Uma delas é a goiana Agripon, especializada em fertilizantes especiais, com produtos biológicos e foliares. A empresa revelou ao AgFeed que vai quadruplicar sua produção de biológicos originados de bactérias neste ano.

Com um investimento de cerca de R$ 25 milhões, a ideia é passar da produção atual de 500 toneladas para duas mil toneladas nos biológicos ainda em 2024.

“Temos um gargalo de crescimento enorme para os próximos anos”, disse o sócio e cofundador da Agripon, Iader Padoin. Nos foliares, a produção está em dois milhões de litros, mas a capacidade instalada da empresa, que atua numa área de 30 mil metros quadrados, é de cinco milhões de litros.

A empresa também projeta adquirir uma nova área para os projetos de desenvolvimento de novas tecnologias para a próxima safra. “Vamos ampliar a área industrial adquirindo uma nova área, para acrescentar mais 20 mil metros quadrados ao parque”, disse o sócio.

De acordo com o diretor de operações da Agripon, Marcelo Habe, o foco da empresa é atender o mercado do Centro-Oeste e de alguns estados do Norte e Nordeste, como Bahia e Pará.

“Estamos pouco presentes no Sul e no Sudeste, até pela dinâmica cultural dessas regiões. Além da fábrica, temos alguns centros de distribuição próximos de áreas produtivas. Hoje, já temos cerca de 1 milhão de hectares tratados com nossos produtos”, afirmou Habe.

Desde a fundação, Padoin estima que a empresa já tenha investido R$ 70 milhões nas indústrias. A empresa não abre os dados de faturamento, mas segundo o sócio, a Agripon cresce de 60% a 70% ao ano.

Em 2024, a empresa pretende lançar mais três novos produtos, e manter essa média de novos lançamentos anuais nos próximos anos.

“O segmento de distribuição tem visto margens se deteriorando nos fertilizantes, defensivos e sementes, o que traz uma oportunidade para os insumos de especialidades crescerem. Por isso estamos nos estruturando para atender a demanda”, comentou Marcelo Habe.

Nas estimativas da Agripon, o mercado de foliares cresce 30% ao ano, enquanto o de biológicos mais de 50%. Enquanto isso, nos fertilizantes sólidos, o avanço é mais tímido, entre 3% e 5%.

“Vimos uma floresta com poucos players. Falta fornecedor e falta qualidade no mercado”, acrescentou Habe.

A Agripon foi fundada em 2013, quando Padoin e seu sócio Orlei do Nascimento decidiram sair de uma empresa que trabalhavam, vislumbrando a possibilidade de atuar no mercado de foliares, o que na visão do diretor, era um segmento crescente.

Na época, eles começaram como distribuidores comerciais concorrentes da empresa que atuavam antes. Passados três anos, a empresa viu a necessidade de aumentar a equipe e desenvolver sua própria indústria.

Entre 2016 e 2017 a empresa montou sua produção própria de fertilizantes. “Foi um novo passo para nós, num movimento que não era pensado antes”. disse o sócio e cofundador.

Em 2018, a empresa passou a contar com o terceiro sócio, Dario Bernal, que desenvolveu a parte de biológicos dentro da Agripon. “Vimos que o mercado estava crescente nesse produto e que somente empresas de fora do Brasil estavam nadando nessa onda. Vimos a oportunidade e abraçamos o projeto construindo uma nova unidade de produção”, afirmou Iader Padoin.

A vivência do executivo no agro, contudo, já vem de berço. Gaúcho e técnico em agropecuária, ele conta que “largou tudo por uma oportunidade de emprego em Goiás”. Mas no Sul do país, seu pai e seu avô eram produtores. “Sempre tive esse sangue agrícola”.

Segundo o sócio, o grande diferencial da Agripon está, além do desenvolvimento de produtos próprios, no cuidado com os clientes, tanto que ele afirma que a empresa tem um índice de 100% na recompra. “Hoje somos procurados por grandes distribuidoras pelo que fazemos no campo”.

Nos produtos, o desenvolvimento é feito em parceria com a Embrapa e universidades. Mesmo que a ampliação esteja sendo feita para ampliar o desenvolvimento de biológicos feitos a partir de bactérias, o principal negócio nos biológicos ainda é advindo dos fungos.

“Entendemos que o fungo tem um resultado e eficiência a longo prazo maior”, disse Padoin. Segundo Habe, a diferenciação dos produtos está nos fungos, acreditando que as multinacionais não vão entrar nesse mercado com tanto afinco por serem produtos com menos conservação.

“Nessa safra com mais seca, percebemos que o fungo é mais adaptado a essas condições do que as bactérias. Se colocarmos um fungo contra uma bactéria, ambos que controlam os nematóides, o primeiro se sai melhor”, diz.

No mix de faturamento da Agripon, a relação entre os biológicos e os foliares é um “casamento perfeito”, segundo Padoin, com 50% para cada. A tendência é que nos próximos anos os biológicos avancem, e ultrapassem os 60%.

“Prezamos esse casamento para que os clientes que usem um passem a usar o outro também”, disse.

Marcelo Habe, que também é presidente do CESB, se juntou à Agripon em agosto passado. Ao longo de sua carreira, ele passou quase 20 anos na Syngenta e mais alguns anos na Sumitomo e na Nufarm.

Apesar de formado e especializado em biológicos, Habe sempre atuou com outros segmentos, mas viu uma oportunidade interessante quando aceitou o convite para integrar sua empresa atual.

“Quando vi o projeto que construíram e as perspectivas de crescimento, portfólio completo, quis fazer parte da empresa, e ajudar a desenvolver novos produtos e novas tecnologias”, disse.

Nos biológicos, ele vê uma “jornada grande” para evoluções. “Seja via CRSP, melhoramento de microrganismos, metabólicos, peptídeos e reguladores, estamos investindo em parcerias e pesquisas internas”, afirmou.

O objetivo da empresa é, no médio e longo prazo, estar entre as cinco maiores empresas de fertilizantes de especialidades no Brasil.

Toda essa perspectiva também tem um pé, ou melhor, os dois, na sustentabilidade. Segundo Padoin, preocupações de sustentabilidade estão presentes desde o início da empresa. Atualmente, 60% da energia consumida vem de placas solares.

Outra estratégia é aumentar o tamanho das embalagens de um litro para 10 litros, algo que, de acordo com o sócio, diminui o uso de plástico.

“A sustentabilidade está conectada com nosso negócio. O uso de biológicos passa muito pela agricultura regenerativa e de baixo impacto, com um alto sequestro de carbono no solo”, finaliza Marcelo Habe.