A AGCO, fabricante norte-americana de máquinas agrícolas de marcas como Massey Ferguson, Valtra e Fendt, encerrou o ano de 2023 com um faturamento de US$ 14,4 bilhões, um recorde histórico pela companhia. No mesmo período, o lucro foi de US$ 1,1 bilhão, 33% acima do visto em 2022.

O resultado foi divulgado na manhã desta terça-feira, 6 de fevereiro, juntamente com os dados do balanço do último trimestre do ano passado, período em que o lucro foi de US$ 339 milhões, 5,2% acima do visto nos três últimos meses de 2022.

O faturamento trimestral ficou em US$ 3,8 bilhões, resultado levemente abaixo do verificado em 2022. Nesse ponto, a responsabilidade ficou por conta da retração de 38,9% das vendas da América do Sul, que encerraram o último trimestre em US$ 412 milhões. Em todos outros continentes, as vendas subiram.

De acordo com a AGCO, as vendas de tratores no varejo da indústria sul-americana diminuíram 8% durante 2023 como um todo frente ao ano anterior. “A demanda varejista no Brasil foi afetada negativamente pelas deficiências de financiamento do programa de empréstimos subsidiados pelo governo”, pontuou a fabricante, em comunicado oficial.

Ainda assim, o ano foi positivo para as vendas na maioria dos continentes. A maior alta anual foi vista na América do Norte, com avanço de 18,2% nas receitas, atingindo US$ 3,75 bilhões ao longo dos doze meses de 2023.

Na América do Sul, apesar da redução nas comercialização de tratores e da queda de receita no último trimestre do ano, as vendas anuais subiram 5%.

O resultado anual ficou negativo apenas na Europa Oriental, com baixa de 4% nas vendas. Esse recuo acompanhou o sentimento do agricultor que foi afetado negativamente pelo conflito na Ucrânia e pela inflação mais alta nos custos de insumos, disse a companhia.

Para 2024, a empresa projetou um faturamento de US$ 13,6 bilhões, já esperando um volume de vendas mais baixos, “preços modestamente positivos” e uma “valorização de moedas estrangeiras”.

"As margens operacionais projetadas são de aproximadamente 11%, refletindo o efeito das vendas mais baixas, menores volumes de produção e investimentos relativamente estáveis em engenharia e outras iniciativas tecnológicas para apoiar as estratégias de agricultura de precisão e digitais da AGCO", afirmou a fabricante.

“A AGCO apresentou resultados recordes em 2023, destacados por vendas líquidas e margens operacionais significativamente mais altas devido à execução contínua de nossa estratégia Farmer-First e à saudável demanda da indústria global”, disse Eric Hansotia, presidente e CEO da AGCO, em nota.

Segundo ele, esses números foram impulsionados pela globalização dos produtos da Fendt, negócios agrícolas de precisão e por uma expansão do negócio de peças e serviços.

O CEO ainda comentou que os investimentos em desenvolvimento tecnológico avançaram 23% em 2023 frente 2022. “Os níveis de investimentos mais elevados estão a produzir um aumento de patentes tecnológicas para a AGCO, produtos premiados que melhoram o valor para nossos agricultores e registram resultados financeiros para nossos acionistas”, completou.

Nos esforços tecnológicos, a empresa tem se posicionado de uma forma diferente. Para concorrer com a John Deere, a AGCO tem priorizado uma estratégia de oferecer equipamentos e softwares que permitam a modernização de máquinas usadas ​​– fabricados por ela, pela Deere ou por outros fabricantes.

Nesse sentido, a empresa desenvolveu soluções que podem ser embarcadas nas máquinas, tornando-as mais inteligentes, numa aposta de que os agricultores estão ansiosos para atualizar para a tecnologia mais recente e, ao mesmo tempo, economizar custos.

“Nosso objetivo são, essencialmente, 93% dos clientes que não compram máquinas novas todos os anos”, disse o CEO da AGCO em entrevista à Bloomberg no mês passado.

Essa estratégia está por atrás da aquisição, anunciada pela AGCO em setembro passado, da divisão de agricultura digital da Trimble, por US$ 2 bilhões, um dos maiores negócios já realizados nesse segmento.

Além disso, a empresa aproveitou a Agritechnica, maior feira do setor de máquinas agrícolas do mundo, realizada em Hannover, na Alemanha, em novembro, para anunciar mais dois investimentos.

Primeiro, informou que comprou a alemã FarmFacts, subsidiária do grupo Baywa voltada para o desenvolvimento de sistemas de gestão de informação no campo. E também comunicou que criará um corporate fund para investimentos em startups de tecnologia agrícola em estágio inicial.

Os anúncios estão interligados, já que a FarmFacts atua com softwares que agricultores e prestadores de serviços utilizam para gerar planos de ação de campo, como mapas de prescrição e linhas de orientação.

A nova empresa da AGCO oferece uma série de soluções que vão de documentação a ferramentas de gerenciamento de fertilizantes. Segundo a companhia americana, o acordo expandirá o portfólio de software e as capacidades de desenvolvimento da AGCO para melhor atender às necessidades dos agricultores.

Eric Hansotia passou 12 anos na líder de mercado John Deere antes de entrar na AGCO. À Bloomberg, ele comparou sua atual empresa ao Android, com uma tecnologia compatível com outras operadoras, enquanto classificou a Deere com a Apple, cujo sistema operacional restringe acesso a outras tecnologias.

“Eles querem fazer as paredes o mais altas possível e ter um sistema fechado que torne esse ambiente fácil para as pessoas quando elas entram e difícil para elas saírem”, disse Hansotia.