É comum ouvir a expressão “tempestade perfeita” quando acontece uma convergência de vários fatores que impactam negativamente o resultado de uma empresa, especialmente uma grande corporação multinacional.

A expressão também vem sendo usada para descrever o momento do agronegócio brasileiro, que combina preços mais baixos de grãos, quebra de safra e cautela do produtor, o que traz impactos para as principais multinacionais do setor.

É o caso da norte-americana ADM que acaba de divulgar seu balanço do primeiro trimestre de 2024. A companhia, que atua na comercialização e processamento de produtos agrícolas, especialmente grãos, apresentou queda nos resultados de todos os segmentos.

No geral, o lucro operacional da ADM entre janeiro e março deste ano ficou em US$ 1,3 bilhão, queda de 24% em relação ao mesmo período de 2023. O lucro por ação foi de US$ 1,42, recuo de 33% na comparação anual.

No segmento de maior relevância para o resultado final, chamado de “Serviços Agrícolas e Oleaginosas”, o recuo do lucro operacional foi maior que a média, de 29%, contabilizando US$ 864 milhões no primeiro trimestre.

Ao detalhar os números do segmento, a maior queda foi registrada pela atuação em produtos refinados, com o lucro caindo 48% em um ano, de US$ 327 milhões para US$ 170 milhões.

Nesta unidade de negócios, a ADM informou uma causa curiosa para a piora dos resultados. “Houve um aumento das importações de óleo de cozinha reciclado, e isso impactou negativamente as margens de óleo refinado na América do Norte”, destacou a empresa em comentário sobre os números.

Segundo levantamento feito pela consultoria Fastmarkets, a importação de óleo de cozinha reciclado originado da China aumentou 14,5 vezes em 2023, na comparação com 2022, depois que uma lei de combate à inflação foi aprovada pelo congresso do país. Foram quase 700 mil toneladas de óleo chinês importado pelos EUA.

Esse fenômeno também impactou a área de esmagamento de grãos da ADM, com lucro operacional 27% menor que no primeiro trimestre do ano passado, de US$ 313 milhões.

Neste subsegmento, a companhia cita ainda a antecipação na compra de grandes volumes de soja da América do Sul como fator que pressionou as margens da atividade na América do Norte.

A América do Sul impactou também o resultado do segmento chamado de Ag Services, que envolve principalmente a comercialização de grãos. Neste caso, o atraso na venda pelos produtores rurais acabou afetando os volumes e as margens das exportações na região. A ADM cita ainda uma estabilização nos fluxos globais de comercialização.

Nas outras unidades de negócios, houve queda nos resultados operacionais em Soluções de Carboidratos, com 11%, e em Nutrição, com 39% de redução em relação ao início de 2023. Já os negócios classificados como Outros, que incluem seguros, por exemplo, tiveram resultado 25% maior na comparação anual.

Apesar dos resultados negativos do primeiro trimestre, a ADM manteve a projeção de lucro por ação para o ano de 2024 no intervalo entre US$ 5,25 e US$ 6,25 por ação. Mesmo que atinja o topo da previsão, o resultado será pior que o de 2023, quando a companhia entregou lucro de US$ 6,43 por ação.