No prato da Isla Sementes não falta coentro. Tempero principal das vendas da empresa gaúcha, a hortaliça de sabor marcante dá uma ideia do alcance da empresa no mercado brasileiro, com as sementes que produz saindo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e atingindo todas as regiões do País.

A Isla ainda degusta os reflexos de uma explosão de vendas de suas sementes ocorrida durante a pandemia de Covid-19. No auge do isolamento social, em 2020, com mais gente cozinhando e até produzindo seus vegetais em casa, a demanda por elas aumentou 30%.

“Depois disso, com esse avanço muito forte, entramos num período de manter nosso mercado e voltamos a ganhar força neste ano”, conta Diana Werner, CEO da companhia. “Estamos com crescimento de 23% até maio”.

A Isla não se encaixa exatamente nos padrões do agronegócio de escala industrial. Na verdade, com a distribuição de seus produtos sendo feita através de gardens centers, supermercados e até pet shops, além de pequenas revendas de insumos agrícolas, chega a ter um apelo até mais urbano.

“Nosso mercado é de pequenas hortas, até mesmo residenciais, ou de produtores com áreas pequenas, entre 50 e 100 hectares”, conta Werner. Nas áreas maiores, a cenoura é uma semente bastante procurada pelos produtores.

Werner conta que a Isla vende cerca de 700 variedades de sementes, a grande maioria delas produzidas no Brasil. “No ano passado, importamos 10% do volume que comercializamos. A nossa máxima histórica é de 30%”.

A semente de coentro, a mais vendida pela empresa, é cultivada em áreas que não passam de 1 hectare. “Ela só não é muito vendida em São Paulo e no Sul. No restante do País, é muito procurada”, diz a CEO da Isla.

As dimensões menores escondem um mercado de grande potencial. Segundo a Confederação Nacional da Agropecuária (CNA), a produção de hortaliças movimenta cerca de R$ 25 bilhões por ano e ocupa cerca de 34 milhões de hectares no País.

No caso das importações, Werner diz que conta muito o nível de desenvolvimento tecnológico das hortaliças nos países de origem. “Por exemplo, nós importamos sementes de repolho do Japão, porque não é uma cultura muito desenvolvida no Brasil”.

No caminho inverso, o da exportação, a Isla retomou os negócios há pouco tempo, depois de uma parada causada por dificuldades na legislação. “As leis mudam muito, aqui e lá fora. Isso acaba sendo uma barreira”, diz Werner.

Agora, uma das prioridades da Isla é voltar a ter força nas vendas externas. Segundo Werner, o objetivo para este ano é exportar algo próximo de R$ 2 milhões. “Ainda é um volume pequeno, mas queremos aumentar”.

A Isla já vende para países da África, da América do Sul e para o Canadá. “A Europa é muito avançada quando falamos de hortas em pequenas áreas. Queremos entrar no mercado americano, temos espaço para isso”, diz a CEO.

Ao citar a legislação brasileira, Werner afirma que por muito tempo o mercado de sementes para pequenos produtores e amadores foi prejudicado pelo excesso de exigências. “No ano passado, foi promulgada uma lei que diminui as exigências para pontos que comercializam sementes para quem quer somente montar uma pequena horta. Isso nos ajudou bastante”.

Werner se refere à Portaria nº 538, publicada no Diário Oficial da União no final de 2022, que diminuiu o número de documentos exigidos no controle feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Estrategicamente, Werner diz que vai continuar mantendo o equilíbrio nas vendas para produtores profissionais e amadores.

“Para os grandes e médios produtores, há uma competição muito grande, inclusive com multinacionais. Mas estas empresas não atendem os pequenos. Durante a pandemia, houve um grande aumento na demanda dos amadores. Atendemos, mas depois, voltamos a equilibrar as vendas”, conta a CEO da Isla.

A empresa produz a maior parte das sementes no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. Toda a produção é enviada para Porto Alegre, onde recebe um último beneficiamento antes de ser vendida.