Quando começou a falar de produção orgânica, há quase 30 anos, a Korin ainda não tinha a intenção de dar lucro e era subsidiada por uma igreja de origem japonesa. Agora, líder no mercado de proteína animal orgânica no Brasil, busca resultados, mas não perdeu o sentido de missão.
Como uma espécie de evangelizador sobre o tema, o CEO da empresa, Luiz Demattê, atua ativamente para atrair atenção do poder público para a chamada Agricultura Natural.
E tem investidura para tal. Conhece a fundo a empresa e o setor. Funcionário de carreira da Korin, já foi gerente industrial e diretor de Produção e Indústria. É doutor em Ecologia Aplicada pela Esalq/USP e presidente da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Ministério da Agricultura.
“Além de ser líder, a Korin talvez seja a empresa mais resiliente dentro da produção orgânica”, diz Demattê. “Ainda remamos contra a maré, e isso gasta muita energia. Por isso, não temos aquela expansão tão rápida, mas temos crescido. Faz parte do nosso trabalho”, diz Demattê.
Segundo o executivo, este crescimento que a Korin registra se deve quase que exclusivamente a uma escolha da sociedade. E, por isso, uma de suas missões é pregar em favor de uma regulamentação mais favorável ao setor em que atua.
“Ainda temos uma legislação muito deficiente para a produção orgânica. Principalmente quando se trata de direcionamento de recursos para pesquisa, desenvolvimento e inovação”, afirma Demattê.
Um dos pontos levantados por Demattê é o estado de emergência vivido no Brasil por conta de casos de gripe aviária em animais silvestres.
“Temos que seguir a legislação,e não temos qualquer reclamação neste sentido. Estamos com as nossas aves, que geralmente vivem livres, confinadas por um período de 180 dias”, afirma.
“Mas nós sabemos que o nosso modo de criação resulta em animais mais saudáveis, menos suscetíveis a doenças. Só que somos uma parte muito pequena do todo”, diz o CEO da Korin.
Os produtos mais vendidos pela Korin, que está presente inclusive em grandes redes varejistas, são carne de frango e ovos. A empresa produz também carne bovina, arroz, feijão, mel e até milho de pipoca.
Mais recentemente, a empresa começou a oferecer uma linha mais pronta, com carnes já em cortes específicos e temperadas.
Essa produção tão ampla não tem qualquer diferenciação tributária, que é outra causa que ele defende.
“A legislação não favorece a produção orgânica, pelo contrário, atrapalha. Então, precisamos de uma conscientização maior dos governantes, que só vai acontecer se a sociedade tiver também essa consciência”, afirma Demattê.
O executivo conta que, teoricamente, existem linhas de crédito especiais para este segmento. O BNDES, por exemplo, lista em seu portal o programa Pronaf ABC+ Agroecologia, voltado para produção agroecológica ou orgânica.
“Só que na prática, essas linhas não chegam ao produtor. Quando chegamos na agência bancária, o gerente não conhece este tipo de financiamento. Não conhece porque não tem mesmo”.
O CEO da Korin afirma que falta até um levantamento oficial sobre o tamanho do mercado de orgânicos no Brasil. “Há alguns anos, estimativas de órgãos internacionais falavam de um mercado de US$ 1 bilhão por ano no Brasil. Eu calculo que agora, esteja em torno de US$ 1,3 bilhão”.
Demattê ressalta inclusive a importância do cuidado que a própria sociedade deve ter com o conceito de sustentabilidade. “Eu diria que é um conceito até genérico. Tem muita coisa que precisa ter parâmetros mais claros. Mas é uma discussão que está em andamento”.
Sobre regulação, o executivo conta que existe o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e que no âmbito do Ministério da Agricultura, há várias iniciativas em discussão. “Este já é um avanço importante e que vai trazer resultados”, diz Demattê.
Sobre a questão dos impostos, o CEO da Korin vê um cenário mais complexo. “Existem avanços em alguns estados, mas ainda é muito incipiente. Não queremos que a produção orgânica seja beneficiada, mas é necessária uma legislação tributária justa em relação aos impactos sociais e ambientais da produção orgânica”.
O CEO afirma que a demanda pelos produtos da Korin é crescente, muito porque as pessoas estão aprendendo a importância da alimentação saudável. “A pandemia aumentou a escala desta preocupação e desta relação entre alimento e saúde, que deveria ser óbvia”, afirma.
Demattê explica que há um trabalho muito criterioso junto aos fornecedores, com produtores de grãos livres de transgênicos, por exemplo. “Este produto é segregado, não usa a mesma cadeia de suprimentos das empresas mais tradicionais. Não pode usar o mesmo caminhão, o mesmo armazém, é certificado, auditado. Tudo isso gera custos, e reflete nos preços finais”.
A Korin tem três unidades de produção. No ano passado, a empresa anunciou a abertura de uma fábrica em Ipeúna, no interior de São Paulo.