O nome da empresa se confunde com o do seu estado de origem. E a origem parece ser bastante relevante para a Espírito Cacau, que tem como fundador e CEO um produtor com histórico familiar construído à base de cacau e chocolate.
A marca também pode ser associada à trajetória recente de Paulo Gonçalves, seu fundador e CEO, que traz no sangue a ligação com o produto. Em 2015, sua fazenda, localizada no município capixaba de Linhares, foi quase totalmente destruída pela lama do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale em Mariana, Minas Gerais.
“Tive recomeçar praticamente do zero. A lama que veio pelo Rio Doce matou boa parte dos pés que estavam plantados. Logo depois veio uma seca intensa. Agora é que estamos conseguindo retomar a produção”, conta.
A fazenda de Gonçalves tem uma área de 256 hectares que abriga cerca de 220 mil pés de cacau, com produção de aproximadamente 12 mil sacas por ano, ou 720 toneladas.
Gonçalves hoje olha para a frente. Ele conversou com o AgFeed e revelou os planos de transformar a Espírito Cacau, cuja fábrica fica na cidade de Serra, no Espírito Santo, em uma exportadora de chocolates.
“Hoje, as exportações respondem por 45% do nosso faturamento. Somos muito fortes nos países do Oriente Médio, mas também já vendemos nos Estados Unidos, por exemplo”, conta Gonçalves.
A produção atual é de cerca de 40 toneladas de chocolate por mês. E uma parte importante já é embarcada para diferentes destinos. “Tenho conseguido fechar contratos com redes de supermercados importantes em suas regiões e já temos 400 pontos de vendas nos Emirados Árabes”.
As exportações estão no centro da estratégia de Gonçalves para impulsionar o crescimento da Espírito Cacau nos próximos anos.
A empresa faturou R$ 9 milhões em 2023, e para este ano, o CEO projeta chegar a R$ 12 milhões. No curto prazo, Gonçalves acredita que vai bater as 50 toneladas de produção mensal, com as vendas externas superando o mercado brasileiro em faturamento.
A Espírito Cacau tem como princípio fabricar um chocolate mais natural, usando pouco açúcar em sua composição e sem aromatizantes e saborizantes químicos. Gonçalves afirma que, por isso, é um produto bem aceito no exterior.
“Por não utilizar cacau em pó e outros produtos mais baratos, nosso chocolate é mais caro que aqueles oferecidos pelas grandes indústrias. E o Brasil tem uma questão de poder aquisitivo que é difícil de resolver. Então, vemos como um caminho natural aumentar nossa presença no exterior”.
Não é só o ambiente econômico que atrapalha a Espírito Cacau no Brasil, segundo Gonçalves. Ele cita que a legislação de rotulagem de alimentos, que entrou em vigor em 2022, “nivela por baixo” seus chocolates com aqueles produzidos em escala industrial.
“Nossos chocolates são feitos com massa de cacau, têm menor teor de açúcar, e somos obrigados a colocar a mesma lupa que consta em outros produtos que são mais açucarados e que possuem componentes químicos”.
Mesmo com todas essas dificuldades, o CEO investiu em uma nova fábrica, inaugurada em 2018, que tem uma capacidade muito maior que a produção atual, de 190 toneladas por mês.
Ele afirma que o objetivo é não precisar fazer novos aportes em produção durante muitos anos. “Nós vamos continuar crescendo e a minha intenção é parar esse crescimento quando chegarmos à capacidade máxima dessa fábrica”, diz Gonçalves.
Um dos motivos para limitar seu plano de crescimento está nas cotações internacionais do cacau, que pressionam os custos de produção do chocolate.
“Em janeiro de 2023, a cotação estava abaixo dos US$ 3 mil por tonelada. De lá para cá, chegou a bater em US$ 12 mil, e agora está perto de US$ 8 mil. Não acredito que vai voltar aos patamares anteriores”.
O CEO conta que quando abriu a fábrica, em 2013, o cenário era muito mais favorável para os fabricantes de chocolate. Além disso, era um sonho de infância atuar na área.
“Meu pai foi chocolateiro. Eu atuava negociando cacau e tinha essa vontade. Agora, não vou deixar isso para trás. Vou continuar”.