Varginha (MG) - A marca 3corações é uma das mais conhecidas dos consumidores de café. Mas ela é só uma das dezenas que pertencem ao Grupo 3corações, uma joint venture entre a família Lima e o grupo israelense Strauss Coffee.
A companhia responde por mais de 30% de todo o café vendido no Brasil e por mais de 60% dos cafés classificados como especiais, feitos com grãos que recebem pontuação acima de 80 na escala de 0 a 100 da Specialty Coffee Association (SCA), que é considerada como padrão global de qualidade.
Mesmo com essa posição sólida no mercado, Pedro Lima, presidente do Grupo 3corações e filho de João Alves de Lima, que começou o empreendimento vendendo café verde no Rio Grande do Norte, não esconde a vontade de ampliar os horizontes dos consumidores e as fronteiras da companhia.
“No ano passado, nós fechamos com um faturamento de R$ 9,7 bilhões. Desse valor, nós exportamos perto de R$ 600 milhões, sendo quase R$ 500 milhões de café verde, que é commodity. Nós temos que aumentar a presença do café brasileiro industrializado no exterior, pois temos muita qualidade”, afirma Pedro Lima.
Hoje, grande parte da exportação dos melhores grãos brasileiros é feita por tradings, que comercializam o produto para beneficiamento e torrefação em outros países. Assim, o valor agregado é capturado por marcas internacionais, nem sempre remunerando as empresas e os produtores nacionais.
O executivo não revela uma meta para mudar esse mix de exportações. Mas ao lançar uma nova linha de cafés especiais, chamada de Rituais, composta somente por grãos que tenham classificação acima de 85 pontos na escala da SCA, ele não esconde que o disputar essa liga global de cafés de alta qualidade é um dos alvos.
“Para isso, nós queremos ter um relacionamento mais estreito com os produtores, inclusive pagando um preço por saca acima do mercado e, ao mesmo tempo, oferecendo esse café ao consumidor com um preço mais acessível do que se tem hoje’, afirma Lima. O preço final da linha Rituais vai girar em torno de R$ 25 por um pacote de 250 gramas de café.
Para exportar, houve inclusive uma bateria de testes para determinar qual seria a melhor embalagem para a linha Rituais, que evite o contato do café com o oxigênio. Um exemplo de como a empresa direciona seu orçamento anual de R$ 200 milhões para investimentos.
A ideia é fazer com que os produtores percebam que vale a pena investir na produção de café com maior padrão de qualidade, o que vai servir para promover o produto brasileiro em grandes mercados consumidores.
“Hoje, o nosso produto já finalizado chega a lugares restritos, como a costa oeste do Estados Unidos, que tem uma grande concentração de hispânicos e brasileiros. Mas nosso café pode competir em qualquer lugar do mundo”, afirma o presidente do Grupo 3Corações.
Aplicativo para os produtores
Patrícia Carvalho, gerente de Cafés Especiais do Grupo e produtora de café, afirma que logo de início, o lançamento da linha rituais vai impulsionar em 40% o volume de cafés especiais produzidos pela 3corações.
“Vamos chegar a 250 mil sacas até o final deste ano, enquanto no ano passado nós fizemos cerca de 180 mil sacas de cafés com pontuação acima de 80”, diz Carvalho.
Hoje, o Grupo 3corações já tem dois programas de incentivo à produção de café de qualidade. Um voltado para mulheres, que participam de um concurso anual que gera um microlote de 2 mil sacas. E outro de café robusta produzido por duas comunidades indígenas em Rondônia.
Ela conta que a linha Rituais vai começar com cinco produtores que hoje já têm relacionamento mais próximo com a companhia e produzem café de alta qualidade.
A partir do lançamento feito na última sexta-feira, dia 24, a empresa disponibilizou um aplicativo para que todos os produtores de café do país possam se cadastrar e enviar amostras para o centro inaugurado para este fim.
O recém-aberto Centro Rituais de Cafés Especiais 85+, em Varginha (MG), vai receber as amostras enviadas de qualquer parte do país, que serão analisadas por uma equipe e terão o certificado pelo protocolo Coffee Verified, com qualidade atestada por Silvio Leite, uma das referências mundiais em cafés especiais.
O certificado de pontuação será fornecido ao produtor de forma gratuita e a negociação será feita diretamente com o Grupo 3corações. “Depois da certificação, o produtor é livre para vender o café para quem quiser. Não haverá um compromisso de venda. Mas nós pagamos um preço acima do mercado”, conta Lima.
Patrícia Carvalho conta que, em alguns casos, o produtor sai até surpreso das negociações. “Muitas vezes, chegamos a um preço por saca até R$ 300 acima do que ele mesmo esperava”, conta.
Como produtora, ela afirma que produzir um café com pontuação acima de 85 pela SCA não é fácil. “Eu consigo ter 10% da minha produção nesse padrão. Precisa de um manejo especial, de condições favoráveis. E todo ano é diferente”, conta.
A estimativa é que, das mais de 70 milhões de sacas projetadas para este ano, quase 9 milhões sejam de cafés especiais no Brasil, com um crescimento aproximado de 30% em relação ao ano passado.
“O grande benefício de se incentivar a produção de cafés especiais, como esses de pontuação acima de 85, é que o produtor acaba melhorando a qualidade de toda a sua área”, conta Carvalho.
Pedro Lima afirma que, no mercado interno, o público mais jovem pode ser o grande impulsionador do consumo de cafés especiais.
“Com o maior acesso a informações hoje, via redes sociais, por exemplo, esse público está mudando os hábitos de consumo de café. Estão mais abertos a novos tipos de sabores, em comparação àquele mais tradicional”.
Ao mesmo tempo, o executivo ressalta que o Grupo vai continuar cuidando da qualidade de todas as suas linhas, inclusive das mais tradicionais. São 5,5 milhões de sacas de café por ano movimentadas pela companhia.
Ainda dentro do orçamento de R$ 200 milhões em investimentos, Pedro Lima afirma que a grande prioridade do Grupo 3corações no momento é aperfeiçoar a logística, especialmente da loja virtual.
“Hoje, temos concorrência de plataformas como Amazon e Mercado Livre, com entrega no dia seguinte à compra. Nós também já conseguimos oferecer essa agilidade”, conta o executivo.
Sobre a expansão da capacidade produtiva, Lima afirma que não está nos planos a construção de uma nova unidade fabril. “O que costumamos fazer é ampliar as plantas que já temos”. O Grupo 3corações tem 12 fábricas localizadas em nove cidades do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.