Investimento de R$ 15 bilhões por ano, durante dez anos. Assim o Brasil poderá alcançar o consumo anual de 1 milhão de toneladas de algodão, previsto em um compromisso assinado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). O cálculo é de Fernando Pimentel, diretor superintendente e presidente emérito da Abit.
O documento foi assinado na semana passada, durante o Cogresso Brasileiro do Algodão. A partir dele, as duas entidades de trabalhar juntas em uma estratégia para estimular o consumo de algodão e, ao mesmo tempo, apresentar ao governo uma pauta de reivindicações que gere incentivos para que a indústria têxtil brasileira consuma mais algodão produzido no País.
“Vou ajudar na pauta em Brasília, para buscar incentivos”, disse ao AgFeed o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel.
O desafio proposto na parceria não é pequeno. “Você não sai do consumo atual de 700 mil toneladas para 1 milhão, se a taxa de crescimento continuar em 1,5% ao ano”, diz Pimentel. “A taxa precisa crescer 4%, durante 10 anos”.
Para o investimento de R$ 15 bilhões ao ano ocorrer, afirma o presidente da Abit, o Brasil precisa oferecer melhores condições de juros.
“As condições não estão dadas. Cerca de 70% dos investimentos feitos pelas fábricas brasileiras são com capital próprio, porque os juros cobrados não são suportáveis. Se você investe majoritariamente com capital próprio, seu ritmo de crescimento é mais lento”, afirma.
Um patamar de juros reais adequado ao crescimento do consumo de algodão seria em torno de 2% a 3% ao ano, segundo Pimentel.
“Ninguém espera chegar a isso amanhã, mas a economia vive de expectativas. Com uma expectativa nessa direção, o empreendedor se anima rapidamente”, afirma. “Ao longo dos 30 anos de Plano Real, a inflação subiu 750% e os preços do vestuário, 450%. As margens foram pressionadas e o mercado interno vem sendo muito atacado pelas importações”.
Uma condição importante para o avanço do algodão não está inteiramente ao alcance do governo ou das associações brasileiras: os avanços tecnológicos no mercado global de fibras.
“Nosso consumo em 2007 era de 1 milhão de toneladas de algodão. Nós não decaímos apenas por questões econômicas”, diz Pimentel.
“Houve uma substituição das fibras naturais, do algodão em particular, por sintéticas. Se entrar uma alguma fibra revolucionária que ganhe mercado, vai dificultar nossa trajetória”.
Apesar de ver obstáculos na meta de consumo de 1 milhão de toneladas de algodão por ano, o presidente da Abit se diz otimista – e enxerga benefícios indiretos.
“Vamos construir esse caminho. Nós já sabemos do que é preciso. Vejo que o Brasil tem um belo futuro nessa agenda de conexão do agro com a indústria”, diz Pimentel.
“Podemos adicionar valor, tecnologia, mexer com economia criativa, com designers, existe uma plêiade de atividades que você incentiva com o fortalecimento de toda essa cadeia”.